27 março 2007
Misturadinhos
Nos últimos dez dias recebi duas notícias de gravidez de amigos, coincidentemente os dois moram fora do Brasil: o Luciano na Espanha e a Yara na Alemanha.
Ambos já tinham me dito que estavam na expectativa por um bebê, tal e coisa. Ambos vieram para o Brasil no início do ano passar as festas com as famílias, tive a oportunidade de encontrar com os dois. Conheceram a Valentina, ficaram encantados, olharam e brincaram com ela daquele jeito de quem está pronto para ter e cuidar da sua própria cria.
Mais coincidências? Ambos estão de 3 meses… indo para o quarto… iiiih… parece que esses dois bebês foram feitos no Brasil… no calor do Ano Novo!
Tem mais coisas em comum entre os dois, coisa linda aliás, os bebezinhos vindouros serão ambos “misturadinhos”… lindo, lindo, lindo! Explico:
O Luciano Issamu Yamashita, como “auto-explica” o sobre nome, é nissei, um típico “japa” paulistano, com traços meio havaianos, pele morena, porte saudável de quem cuida da mente e do corpo. Conheci o Lu em alguma balada rock n’roll, no final dos anos 80. Cara aventureiro, já viajou o mundo, Começando a vida nômade no Japão, acho que em Nagoya, trabalhando para fazer grana. Ao voltar, trouxe muito mais do que simples papel moeda, aprendeu o ofício do “sushi” e virou respeitado “sushi man”, pelo menos entre os amigos. Depois disso voltou a correr mundo, se dedicando à gastronomia japonesa e indo parar na Itália. Em Milão, conheceu a Cristina Sisti, uma italiana de Domodossola, cidade que fica na fronteira com a Suiça e a França. Eles juntaram a “pasta” com o “sushi” e foram morar em Barcelona, na Espanha, onde continuam até hoje.
Agora imaginem que coisa fantástica essa mistura entre os dois, ele nipo-brasileiro, ela italiana, os dois vivendo na Espanha e me respondam: o mundo tem fronteiras???
A concepção une três raças, culturas, hábitos diferentes, isso sem contar o fato de estarem vivendo na Espanha, o que seria a quarta raça e cultura. Que riqueza! E as feições? De quem será, como será? Não importa, será lindo, lindo!!! Talvez tenham um problema… sendo Brasil e Itália fanáticos por futebol, talvez haja briga na disputa de qual será a seleção do coração dessa criança em tempos de Copa do Mundo, mas nada grave.
A Yara Trovão - belo sobrenome – é filha de maranhenses, família grande, muitos irmãos, sobrinhos, cunhados(as). Mulata vistosa, de cabelos pretos longos enrolados, estatura média, corpo esbelto, mulher seríssima! Um dia resolveu largar tudo, que não era muito, e ir para Londres fazer qualquer coisa. Fez um pouco de tudo e foi lá em Londres que a conheci, no verão de 1997. Foi nesse mesmo verão que ela conheceu um tal alemão de nome Bernie, o cara se apaixonou por ela, “love at first sight”! Desde então estão juntos, namoraram bastante, moraram juntos bastante e se casaram há alguns anos. Ficaram em Londres, foram para Nice, na França, voltaram para Londres, ela virou uma destacada funcionária da Prada que, de vendedora, passou a assessora de imprensa, um salto profissional que para um estrangeiro significa muito. Agora ela não trabalha mais na Prada e foi morar numa cidadezinha perto de Munique, na Alemanha, onde está levando uma vida tranquila e saudável, cuidando da casa nova e se preparando para ser mãe. Segundo ela, o bebê foi de fato concebido no Brasil, bem no Ano Novo, na Bahia! Me disse ainda que essa “concepção baiana” tem especial significado para ela, que não é baiana, mas tem paixão pela Bahia, a cultura, o clima, a preguiça… Viram quantas voltas e tudo acabou culminando na Bahia de Todos os Santos… no mínimo simbólico. Mas como vai ser esse bebê… Loiro-moreno-alto de cabelos encaracolados? Teremos mais um problema … Brasil e Alemanha… para quem torcer? Duas culturas fanáticas por cerveja e futebol!!! Combinação bombástica…
Imaginando as andanças que trouxeram esses bebês "nipo-ítalo-espano-brasileiro" e "germano-baiano-brasileiro", a rota que esses incríveis pais fizeram para se encontrar e um dia conceber, poderíamos contabilizar muitos milhares de quilômetros mundo afora.
E ainda tem gente que acredita que o mundo tem fronteiras, que os limites devem ser rígidos, que se deve impedir a migração dos povos, a miscigenação das raças, o encontro de culturas, que as religiões não podem se “conversar”, que Deus é de um e não de todos…
O mundo está doente sim, a intolerância e o progresso ganancioso causam danos irreparáveis a cada fração de segundo, mas ainda assim acredito que o amor une os povos e pode construir, edificar, eternizar e juntar aqueles que derem, para a vida, uma chance.
Parabéns meus amigos Luciano e Cris, Yara e Bernie, por se misturarem assim, por se tolerarem e por presentear o nosso mundo com a vida!
20 março 2007
Livro 30 Anos da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Como disse diversas vezes, sou apaixonada por cinema, costumo acompanhar a programação do circuito comercial e alternativo da cidade, exceto pela atual situação de MÃE, que me impossibilita a frequência possível em outros tempos.
Sendo assim “cinéfila”, sou também uma fiel seguidora e apreciadora da Mostra de Cinema de São Paulo, desde muito tempo. Tive a oportunidade de conhecer pessoalmente seu idealizador e sempre resposável, Leon Cakoff, e sua esposa, a simpática Renata Almeida. Quando trabalhava no canal Eurochannel, fomos apoiadores da Mostra por uns 3 anos, o tempo em que trabalhei no marketing do canal e que pude desenvolver meus melhores e mais prazeirosos trabalhos.
Em 2006, ano em que a Mostra completou o seu trigésimo aniversário, foi produzido um livro comemorativo, escrito pelo Leon, obviamente. O livro se chama “Cinema sem Fim” e trata-se, sem dúvida, de um documento histórico da Mostra e da cidade de São Paulo, algo para se ter em casa, ler, relembrar e consultar. Além disso, o livro em si é uma bela peça, bonito, sóbrio, de cores pertinentes ao tema, recheado de belas e interessantes fotografias memoráveis.
Por fortuna, meu marido me presenteou com este livro no último Natal, fiquei muito feliz pois realmente queria tê-lo em casa junto com os demais catálogos que coleciono. Como o recebi como presente, não saberia dizer o preço, nem cometi a indelicadeza de perguntar, mas tenho certeza que pelo porte, não deve ter custado pouco.
Comecei a ler no início de fevereiro e logo no começo me aborreci devido a alguns excessos, informações repetitivas, ainda que interessantes, mas tudo bem, era somente o início. Passam-se 2 ou 3 capítulos e reparo em outro “ruído” (prefiro usar este termo…), que também tolhe a graça da leitura, a repetição de termos. Continuo sendo condescendente, achando que estou sendo chata com a leitura, mas outro “ruído” que considero ainda mais grave, começa a me incomodar de verdade… os erros ortográficos…
Depois disso já passo a lamentar pelo livro, sem entretanto, deixar de considerar a preciosidade de informações nele contidas, mas me irritando ferozmente a cada erro crasso que encontro.
Não fica por aí, como disse trata-se de uma bela impressão feita pela Imprensa Oficial, um projeto gráfico bem elaborado, mas de realização sofrível… Esse mesmo livro em poucos dias de manuseio começa se desmantelar… a cada capítulo lido, percebo que sua “ brochura” se descola do tomo continuamente, seguindo assim até o último capítulo/brochura, culminando num livro solto em sua capa… A cada erro que encontrava, a cada fato interessante que lia, a cada brochura que descolava ou filme que conhecia, sentia uma mistura de satisfação com decepção!
Fiquei triste… um livro tão significativo e tão mal executado… Erros de coesão, erros ortográficos, falta de revisão e ainda desmantelamento?
Uma pena!
Acabei de lê-lo ontem à noite, aprendi muita coisa, relembrei outras tantas, me diverti muito com os “causos” curiosos da vida cinematográfica da Mostra e do Leon Cakoff, sua “luta” e “resistência” peitando as mazelas políticas e financeiras que sempre assolaram o nosso país, sua idgnação com relação à “censura” que por muito tempo perseguiu a Mostra (as palavras entre aspas se repetem exaustivamente durante todo o livro!).
Morri de inveja dos que puderam ver “Cães de Aluguel”, em 1992, apresentado pelo próprio Tarantino e dos “gatos-pingados”, que tiveram a lucidez de prestigiar uma mesa redonda com o mesmo Tarantino, falando sobre cinema independente…
Me emocionei quando li a respeito de uma entrevista com o mestre Truffaut, nos corredores de um hotel em Cannes, em 1973… eu ainda estava por nascer!
Achei engraçadíssimo Leon e Renata em uma reunião com o então desconhecido, Wong Kar Wai, exibirem, com ingenuidade, seus DVDs piratas recém adquiridos na ruas de Hong Kong…
O cinema é mágico… e a Mostra é a época do ano que a cidade se torna ainda mais viva e interessante… as pessoas circulando, correndo para tentar ver mais um filme.
Admiro a forma como ele e Renata trabalharam e trabalham a formação de público em nosso país, adquirindo o respeito de todos, a credibilidade internacional e o prestígio merecido pelo lindo esforço que realizam. Mas cuidado, o livro merecia ter sido tratado com maior carinho…
Título: Cinema Sem Fim
Autor: Leon Cakoff
Editora: Imprensa Oficial SP
Ano: 2006
Número de páginas: 456
Acabamento: Brochura
Formato: Médio
www.mostra.org
19 março 2007
Crônica do Punk da Periferia
Fui levada ao tema através do interessante texto de um amigo que escreve sobre rock x literatura em um site de música. O texto dessa semana era sobre o Movimento Punk no Brasil - muito legal por sinal (veja link) - o que me levou a viajar nas memórias de um tempo muito divertido…
Não me considero tão velha assim, mas quando me peguei rememorando o final dos anos 80, quando eu tinha lá meus 12, 13, 14 anos… putz… fiquei bem pensativa. Tipo… “20 anos atrás? Caramba!!!”
O Movimento Punk… sim ele mesmo! Eu nasci junto com o Movimento Punk, mas quando pude “entendê-lo”, ou melhor, curtí-lo, ele já estava passando. Mas as memórias me levaram de fato, aos idos de 1987, quando eu tinha 14 anos. Nessa época eu estava na oitava série no antigo ginásio, hoje conhecido como “ensino fundamental”, de uma escola municipal, o “Monteiro Lobato”, aqui de Pirituba onde moro. Estudei lá desde a primeira série, fiz amigos/colegas que conservo até hoje, foi um período muito legal da minha vida e nesse específico ano de 87, a gente estava para “se formar”. Aí tinha toda aquela coisa de pensar em como comemorar, baile, colação, viagem, comissão de formatura, arrecadar grana, fazer “rifa”, etc, afinal nossas famílias eram todas “durangas”. Mas éramos muito criativos e uma das formas que encontramos para levantar a tal grana foi fazer “bailes pró-formatura”, coisa muito engraçada… Funcionava de forma simples: alguém cedia a “garagem” da casa, aí tinha a tal Comissão formada por pais e alunos, os tais marcavam uma data para o baile, vendíamos entradas antecipadas com um preço “x” e no dia proposto iam todos lá montar a parafernalha do “baile”. Tinha comes e bebes (pagos), iluminação, som, segurança formada pelos pais (imaginem isso!), caixa, tesoureiro, seleção de rock e de “lentas” – que coisa mais brega! – tudo isso! Era nesses “bailes” que tudo acontecia, ou não… fulana “ficava” com sicrano, que era namorado da beltrana, que dava em cima do outro… nossa! Muita fofoca para a segunda-feira, lógico!
Aliás, lembrei que meu primeiro porre foi num desses “bailes”, em 1986, tomando “Cuba”… meu deus! Porre de Cuba… parece até coisa dos “anos dourados”!
Mas voltando ao ano de 87 e ao Movimento Punk. Os “bailinhos” eram coisa suuper família, imaginem que todos se conheciam e que o âmbito de venda de entradas era sempre a escola, no máximo ia um primo, um amigo da rua de diferente, mas era só a galera da escola mesmo. Acontece que os bailes começaram a ganhar certa fama naquele ano… vários motivos: meninas “jeitosinhas”, ótimo boca-a-boca, vendiam bebida (cerveja, cuba) e boa música… mas boa mesmo! Quem “dava” o som eram uns amigos meus, o Carlão, o Emerson, o Serginho, o Edu, algumas vezes eu ajudava na “consultoria”, mas o som era de primeira! Muito rock n’roll, pouca “lenta” (o suficiente para garantir a entrada das “gostosinhas beijoqueiras”) e volume alto! Naquela época, a gente curtia e rolava nos “bailes” Ramones, Dead Kennedys, Toy Dolls, The Clash, Beastie Boys, Pistols, 365 (nossos colegas de bairro), Plebe Rude, Garotos Podres, Legião, Titãs (Cabeça Dinossauro!), IRA! (Pobre São Paulo…), Replicantes,... Tinham também os hits como RPM, Ultraje a Rigor, Engenheiros do Hawai (URGH!), etc. A nova música eletrônica, na época: Pet Shop Boys, Front 242, Depeche Mode (I just can get enough), New Order. Coisas mais “darks” como Cure, Joy Division, Bolshoi, Mission, Jesus… Os clássicos: Stones, Beatles, Pink Floyd, Led, … muita coisa legal e chata também. A questão é que a seleção punk ficou famosa e a galera delirava quando começava a tocar “Nellie The Elephant”, “CALIFORNIA ÜBER ALLES” , ou “Should I Stay or Should I Go”, ou “Sheena is a Punk Rocker”, e tocava tudo, todos os hits do punk eram obrigatórios e exigidos!
Não sei se vocês sabem, mas a Tradição Punk Paulistana, vem da periferia, da Freguesia do Ó (como cantou nosso ilustre ministro Gil), de Pirituba, de Guarulhos, do ABC - os Punks de Sto. André! - nesses lugares a cena punk era bem forte, o pessoal andava mesmo a caráter, de coturno, jaqueta de couro, jeans rasgado, cabelo moicano e alguns já usavam até piercing! Não foi à toa que meu ídolo, o Angeli, criou seu grande “Bob Cuspe”, personagem que na época abafava nas páginas da falecida revista, ditadora do “mau” comportamento adolescente, “Chiclete com Banana”, que a gente se estapeava para ler emprestada dos amigos… O “Bob” era um típico punk da periferia, paulistanão, que contestava e cuspia em tudo… ele era a imagem caricata dos punks que rondavam a zona onde moro. Pocha… eu até sabia desenhar o “Bob”… que saudade…
Pois bem, devido à fama da seleção punk de nossos bailinhos, um temor começou a rondar a organização: a invasão do Punks…
Num determinado dia, marcaram o tal baile na casa do Emerson Paes, uma casa grande, numa avenida bem localizada do bairro. Começamos a vender as entradas e eis que surge o tal boato de que os Punks do “Pavilhão 8” – uma gangue da Vila Zatt – iria invadir nossa praia… Na verdade, eu fiquei excitadíssima, achei o máximo! Os Punks!!! Uau!!! Que prestígio!
As mães e as professoras ficaram aterrorizadas, mas tudo não passava de um boato e ninguém podia prever nada ao certo. O dia do baile chegou, a montagem foi tranquila, e a expectativa grande com a chegada da noite. Como sempre começamos às 19h30, seleção light para aquecer, “lentas” para agradar os beijoqueiros(as) e então rock começa a rolar solto para incendiar. Aquele dia o baile foi um sucesso de público, a casa do Emerson era grande e deu para vender mais entradas, lotou!!! Foi até uma gang de skatistas – Os Ratos de Rua - que alucinou quando tocou “Girls” e “No Sleep Till Brooklyn”, dos Beastie Boys, eles começaram a dançar com os skates e a subir pelas paredes de azulejo da garagem do Emerson, muito louco! De repente… chegam os punks lá fora e começam a pressão para entrar. Lembro que rolou um puta medo, todo mundo cagou nas calças, o pai do Emerson foi lá negociar a “não entrada” deles, mas não teve jeito, eles tinham grana para pagar e mais, tinham coturnos e eram dezenas deles!!!
Os caras chegaram bem na hora, era a hora de rolar a seleção punk-rock… entraram e já colaram no Carlão, que estava no som e intimaram:
“- Toca Dead Kennedys, aí!”
Nem lembro o que rolou, só sei que nem deixaram acabar o que estava rolando naquela hora e já soltaram um “CALIFORNIA ÜBER ALLES” na veia. Depois foi só pauleira, tudo e mais um pouco, não dava nem para chegar perto da “pista de dança”, ou melhor, da garagem, ela estava tomada pelos punks da Vila Zatt. Tinha gente se borrando de medo de rolar uma briga, as mães da Comissão estavam rezando, um monte de gente foi embora, mas a verdade é que os caras queriam curtir um som, e a gente também, pôw!
Tudo bem que não deu para dançar com eles lá, mas eu me diverti muito vendo a “pancadaria”, foi o máximo!
Imaginem como foi a semana seguinte à invasão dos Punks da Periferia, todo mundo contando um conto e aumentando 1000 pontos! Houve boatos de violência, roubo, etc… mas a verdade é que rolou punk-rock como nunca, naquele sábado à noite, na garagem da casa do Emerson Paes. Eles enobreceram a nossa festa e depois daquele dia, passaram a frenquentar nossos bailes, sempre meio que pressionando as picapes fazendo caras de poucos amigos, com o famoso “Rola Toy Dolls, aí!” , ou “Rola Ramones, aí!”, mas abrilhantando o ambiente.
Eu sou uma entusiasta desse Movimento, sempre curti as bandas, as músicas e letras agressivas, a atitude, e sua motivação. Fui impedida, por forças maiores, a ir ao show dos Toy Dolls, no glorioso Projeto SP, na Barra Funda, mas pelo menos passei na entrada e pude sentir o cheirinho de punk-rock que eles exalavam. Tive o privilégio de ter ido ao último show dos Ramones, no extinto Olympia, da Rua Clélia, na Lapa. No ano passado, fui assistir aos Stooges num festival aqui em São Paulo e entrei em êxtase quando o Iggy Pop entrou no palco e tocaram “I wanna be your Dog”, outro privilégio, ainda que tardio…
E para finalizar, 2 letras de punk nacional para recordar:
Festa Punk
Replicantes
Quero uma festa que não tenha STONES
Gosto muito deles, mas quero os RAMONES
Quero uma festa que não tenha BEATLES
Se é pra recordar prefiro SEX PISTOLS
Quero uma festa punk (X 4)
Quero uma festa em que eu possa dançar
Clash, Undertones e GBH
Discharge no banheiro, Exploited na cozinha
Conflict na escada e Vibrators no sofá
Quero uma festa com os KENNEDYS
Eles é que sabem o que é Hard-core
Depois pra esfriar, pra afastar os junkies
Poguear um monte ouvindo Circle Jerks
Papai Noel Velho Batuta
Garotos Podres
PAPAI NOEL filho da puta
Rejeita os miseráveis
Eu quero mata-lo
Aquele porco capitalista
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
PAPAI NOEL filho da puta
Rejeita os miseráveis
Eu quero mata-lo
Aquele porco capitalista
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
pobres
pobres
Mas nos vamos sequestrá – lo
E vamos mata-lo
Por que?
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Por que?
PAPAI NOEL filho da puta
Rejeita os miseráveis
Eu quero mata-lo
Aquele porco capitalista
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Presenteia os ricos
* Boas referências sobre o Movimento Punk
Link do artigo do meu amigo:
http://showlivre.uol.com.br/colunas.php?coluna_id=94
Filmes:
The Filth and the Fury (2000)
Julien Temple
Documentário. A verdade sobre os Sex Pistols.
Punk Attitude (2005)
Don Letts
Documentário sobre a história do punk nos EUA e UK, com depoimento de diversos artistas da época.
New York Doll (2005)
Greg Whiteley
Documentário sobre Arthur “Killer” Kane, baixista do New York Dolls.
Sid and Nancy (1986)
Alex Cox
Filme biográfico sobre Sid Vicius, da banda Sex Pistols.
Sites:
www.deadkennedys.com
www.thetoydolls.com
www.ramones.com
www.gritopunk.hpg.ig.com.br
14 março 2007
Hoje e dia da Poesia!!!
Alguns podem pensar que eu só conheço o Drummond... o que fazer se ele é o mestre dos mestres???
Prometo falar de outros também, mas hoje, no dia da poesia, resolvi deixar aqui um poema lindo, lindo, do Drummond, que citei alguns dias atrás.
Para Sempre (Drummond)
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Pedro Filosofo I
Tenho um sobrinho de 7 anos, o Pedro, que é filho de meu irmão. Deixando a corujice de lado e falando com total imparcialidade, devo admitir que de uns tempos para cá, o considero um grande filósofo, tanto para assuntos econômicos como políticos.
O pequeno rapaz possui invejável perspicácia para explicar ou exemplificar coisas que nós, reles adultos, levamos às vezes uma vida inteira tentando fazer e não conseguimos. Tendo em vista que sua bagagem filosófica vem da TV e suas bobagens, além de comentários domésticos, bufos e irônicos, dos ordinários familiares, o resultado é impressionante! Pedro demonstra um precioso poder de decodificar metáforas e símbolos digno de acadêmicos e estudiosos políticos e anarquistas.
Um belo dia dá-se o seguinte diálogo entre Pepê e sua genitora:
"- Mãe você gosta do Lula ou do Bush!
- Atualmente de nenhum."
E ele sabiamente termina :
"- Eu prefiro assistir o Silvio Santos!!!"
É ou não um cientista político? E olha que nunca nem chegou perto de um dicionário para, sequer, verificar verbetes como:
"Política" (arte ou ciência de governar); "Politicagem" (política ordinária, mesquinha, interesseira); "Político" (que trata de política, ..., cortês, delicado, astuto, esperto,...); "Politiqueiro" (indivíduo que faz politicagem...); "Politiquês" (linguagem cheia de termos políticos, frequentemente vazia e sem sentido) ou mesmo "Alienação" (ação de alienar..., desordem mental, arrebatamento, indiferença, ...).
Ora vejam, tão jovem e tão sagaz! Conseguiu, em 2 frases, resumir e entender tudo!
Pedro Filosofo II
Dando continuidade à série de filosofias do Pedro, relato outra notável experiência reflexiva do garoto.
Mais uma vez, embasado somente em aspectos práticos da vida cotidiana, Pedro sintetiza, em uma única frase, o capo lavoro de Marx - O Capital.
A obra prima da filosofia, complexa leitura e interpreteção, é por essa criança - que sequer ouviu falar em capitalismo e menos ainda em socialismo - dissecada e covardemente resumida em uma única frase.
Eu e Pedro estávamos em passeio ao Shopping, quando lhe ofereço um suco. Tomamos o suco tranquilamente enquanto brincávamos com a prima Valentina, e falávamos infantilidades. Peço a conta e ele então indaga:
"- Quanto você vai ter que pagar pelos sucos, Pri?"
Eu respondo "x", e ele com ar preocupado, rebate:
"- Tudo isso? E você ainda vai ter que pagar alguma outra coisa?"
Eu novamente respondo dizendo que sim, tería ainda que pagar "y" pelo estacionamento. Ele continua a somatória de valores:
"- Nossa! "x" mais "y" é muito! E quanto mais você vai gastar quando formos no New Dog tomar milk shake?"
Pensativa e preocupada, digo somente que seria muito mais... Eis que contrariado e irritado, o menino exclama:
"- Eu odeio o dinheiro, ele não serve para nada mesmo!"
A tia, orgulhosa e coruja, fica satisfeita com a ilustre conclusão proletária do brilhante sobrinho.
12 março 2007
Maternidade Ativa
Ontem, domingão, saímos para visitar uns amigos em Campinas.
Foi muito legal, uma viagem bem família, levando a bebê para conhecer uma coleguinha quase da mesma idade, tudo muito divertido! Os papos totalmente corujas, trocas de experiências dos bebês, do crescimento, das dificuldades dessa fase inicial, enfim.
Quando chegamos em casa, já à noite, fomos ouvir a secretária eletrônica, e tinha um recado de uma amiga, também de longe, deixando um novo número de telefone.
Depois fui checar meus e-mails e tinha lá uma mensagem dessa mesma amiga, em tom de desabafo...
Só para situar, essa amiga, a qual vou chamar de "Terezinha de Jesus", também acabou de ter uma bebê, 4 meses mais nova que a nossa TITINA. Ela também é uma mãe profissional que encara seu papel de forma muito positiva e enriquecedora, assim como eu e algumas outras mães que conheço.
Mas o desabafo da "Terezinha de Jesus" era muito bem fundamentado nas questões práticas da tal maternidade... aquela parte do processo que procuramos não comentar muito para não desanimar os que não tem filhos, para não irritar os maridos, para não deixar os parentes preocupados, para não parecer que entramos numa roubada...
A maternidade é realmente, como diz o poeta "... um tempo sem hora...", muito bem definido! A gente entra nela para sempre, um "sempre" sem data... sem parar! E o tempo é algo totalmente inexistente nesse processo, pois ele passa e a gente não percebe... A gente engravida, a barriga cresce, passam-se 9 meses e nem percebemos que o bebê já vai nascer. O bebê nasce, a gente começa a função de mãe que é non stop! A noite cai, o bebê chora, a gente acorda, depois não dorme mais... aí vai dar banho, amamentar, trocar, fazer dormir... e quando vê o dia passou e você nem tomou banho, nem viu o sol e o relógio não teve a menor utilidade .
A rotina se ajeita, o bebê começa a dormir melhor, mas nem por isso você consegue ver o tempo passar. O bebê tem 6 meses, 9 meses, não é mais tão bebê assim e o tempo continua passando sem a gente perceber.
O tempo passa, corre, voa na maternidade! A gente se olha no espelho e nem se vê; a gente entra no chuveiro, mas não toma banho; a gente deita, mas não dorme; a gente come, mas não se alimenta; a gente vê tudo e não presta atenção em nada; a gente trabalha, mas não consegue fazer nada; não temos tempo para nada, mas fazemos tudo!
Tempo, tempo, tempo... cadê, você???? Não sei onde está o tempo que branqueia meus cabelos, mas não me permite pintá-los; que destrói minhas unhas, mas não permite arrumá-las; que me deixa com fome, mas não me deixa comer; que me engorda, sem que eu tenha tempo de comer... ai, ai, ai...
Pois é, para minha amiga "Terezinha de Jesus", eu digo que o tempo não existe, ele é totalmente relativo à falta do que fazer dos que não tem filhos, à falta de assunto dos que não podem observar os pimpolhos como nós fazemos. E tem mais, o dinheiro também é relativo, de que adiantaria estarmos trabalhando e bem remuneradas, se não teríamos TEMPO de gastá-lo... ahahah!!!
Mas se com a maternidade, descobrimos que o tempo é mero artigo de luxo, descobrimos também que a falta de tempo, é inversamente proporcional à quantidade de amor que temos para oferecer, infinito!!!!
E assim, o "tempo" continua passando e a gente não percebendo... a gente fica braba muitas vezes, chora de tristeza, mas no fundo, no fundo, estamos felizes da vida porque temos só para nós, um sorrisinho lindo e especial, que é só nosso e de mais ninguém.
09 março 2007
Viagem Inca
Recentemente, um amigo, que pretende fazer a Trilha Inca, me pediu para reenviar uns e-mails que escrevi relatando minha viagem pela Bolívia e Peru, em 2004. Foi então que resolvi publicar aqui no blog esse meu diário eletrônico de viagem, para instigar/estimular quem mais tenha esse sonho em mente.
A história dessa viagem é muito legal! Tudo começou quando tentava conseguir um convite para assistir à pré-estréia (mundial) de "Diários de Motocicleta" do Walter Salles, acho que era início de 2004. Como sou cinéfila e sempre trabalhei com entretenimento, tenho lá meus contatos quentes, ou pelo menos TINHA meus contatos quentes.
Daquela vez, quem me deu uma força foi um caríssimo amigo, que trabalha numa distribuidora de cinema, o João, nome genérico, mas pessoa especial. Eu e minha ilustre-sempre-cara-de-pau, e o João, sempre quebrando meus galhos cinematrográficos.
Consegui 2 convites e na época meu marido, Daniel, estava trabalhando em horários bizarros, na restauração de um filme clássico da cinematografia brasileira e não poderia me acompanhar... Eis que entra em cena minha fiel escudeira, RP Vieira, e fomos juntas.
Ela amou o convite, imagine só!!! Que luxo!!!
Já tinha lido muito a respeito do filme e estava superempolgada para assistí-lo. O evento aconteceria nas salas do Arteplex, na Rua Frei Caneca, às 22h.
Chegando lá, muita gente; iriam ocupar todas as salas com a avant premiere do filme! Uma superfesta com o elenco do filme desfilando pelo hall dos cinemas: Gael Garcia Bernal, Alberto Granado em pessoa, Walter Salles, etc.
Entramos, o filme começa e eu ficando cada vez mais emocionada com as cenas, a poesia, o roteiro e a simplicidade da viagem da história, tudo isso me deixou tocadíssima. Alguns até podem dizer que não seria para tanto, mas para mim foi. A idéia de conhecer a América Latina me empolgou e quando acabou o filme e saí do cinema, tive a certeza de que minhas próximas férias passaria viajando para algum daqueles cenários do filme.
Ao final, fomos eu e RP Vieira comprimentar o Gael, com beijinho e tudo, além de seguirmos o Granado até o toalete, esperando o velhinho sair para igualmente comprimentá-lo pela aventura daquela viagem e por tudo que aquela história representou. Foi emocionante.
Machu Pichu era uma trip antiga que queria fazer... foram 2 tentativas frustradas no passado, mas a idéia tinha retomado o vigor depois do filme. A Bolívia viria no "pacote" devido, a princípio, ao "trem da morte", sempre imaginei ir para Machu Pichu de trem pela Bolívia. Depois, estudando os guias de viagem, percebi que a Bolívia deveria ser não só uma rota de passagem, mas parte integrante da viagem. De fato, foi uma descoberta e tanto, um país fascinante!
Os textos que seguem são bem divertidos e são a íntegra de e-mails que mandava, periodicamente para os amigos.
UHU, FÉRIAS!!!! Cap. I - Corumbá - 20/06/2004
A viagem começou em Corumbá.
Em primeiro lugar sobrevoar o Pantanal foi lindo!!!!!
Ver a água penetrando a planície verde claro e escuro, se embrenhando como uma invasora, é muito legal!!!! Ela, literalmente, rompe as barreiras e não pede linceça, toma o que der, um visual esplêndido!!!!!!
A cidade é uma graça!!! Fica à beira do Rio Paraguai e tem uma pequena região portuária bem antiga, o máximo!!!
Aliás , meu avô que já serviu o exército aqui, disse que o porto foi construído na segunda guerra.
Da "beira rio" de Corumbá, hoje a tarde, ví um pôr do sol maravilhoso, lindão!!! Parei e fiquei assistindo o sol se apagar na água do pantanal no horizonte... fez até “xxiiiiiii”…
Amanhã é o grande dia, parto para a fronteira com a Bolívia para pegar o vulgo "trem da morte"!!!! Veremos o que me aguarda, mas acho que metade é lenda, de qualquer forma sei que vai ser muito jóia!
Acabei de comer um pacu à cuiabana (peixe do pantanal), muito gostoso, feito ensopado com mandioca e banana da terra, delicioso!!!
Quando achar mais internet, na Bolívia, pero... escrevo mais.
* PS. para RP Vieira: as aventuras do Che e do Alberto estão me embalando, aliás nada mais propício para a leitura nessa trip.
• Me refiro ao livro, "Diários de Motocicleta", escrito pelo Che e no qual se baseia o filme de mesmo nome, que ganhei da RP Vieira em meu aniversário de 31 anos (22/05/04).
Cap II - Puerto Quijarro 21/06/2004
Na Bolívia tem internet e MSN também!!!! Cheguei aqui para pegar o trem ("da morte") 2h mais cedo por culpa do taxista, que ódio!!!!
Parei na fronteira e o cara que carimba o passaporte ficou olhando todos os meus vistos e fazendo comentários engraçadinhos... que ódio II!!!
O lugar aqui e bem podre e sujo, comer nem pensar, tudo para evitar a diarréia, que neste momento seria muito precoce...
Esse lugar aqui, onde estou agora usando a internet, concerta celulares e tem internet com MSN, é um barato! As ruas são todas sem asfalto, tudo pobre e tem essa biboca aqui, parece até a Rua 25 de março dos pobres, mas pobres meeeesmo!!! Sem noção!!! A estação fica exatamente aqui em frente mas não tem nem um puxadinho pra se esticar.. coisa de louco.
Fico por aqui pois estou online e hoje minhas aventuras ainda nem começaram direito . Daqui 2 dias terei bem mais pra contar...
Besos calientes a todos los amigos!!!
Cap. III Sucre 24/06/2004
Sobreviví ao “Trem da Morte” e aos milhares de mosquitos que queriam me comer viva!!!
Foi pura aventura com 21h de duração, nem Indiana Jones
aguentaria!!! Sem contar que o trem quebrou e tivemos que esperar por 2h, parados no meio do pantanal boliviano (selva!), a chegada de outra locomotiva...
Uma loucura!!!
Uma sujeira, uma pobresa, tudo ímpar!!! Mas uma grande experiência. Depois disso tudo, ao chegar em Sta. Cruz, encarei na sequência mais 15h de ônibus até Sucre - a verdadeira capital da Bolívia - pasmem, não é La Paz!!!!
Foram ao todo 36h sem banho, sem comer direito e sem dormir direito.
O que eu posso dizer agora é que já está muito frio, Sucre fica a 2700m de altitude, é uma cidade linda, toda colonial em estilo espanhol, toda branca, tipo os cenários do Zorro, bem legal!
A cidade é patrimonio da humanidade! Tem muitas universidades e é um pólo intelectual boliviano, do qual eles muito se orgulham.
Para não perder o costume, devo comunicar-lhes que o inevitável aconteceu... diarréia... tarda mas não falha!!
Mesmo depois de tantos cuidados não teve jeito, também pudera, a sujeira aqui é demais...
Os bolivianos são muito legais, gente boa, simpáticos, mas se tem uma coisa que não são é limpinhos! São feinhos também os coitados...
Amanha me dirijo para o deserto de sal, um lugar que deve ser único e fica a 4000m de altitude, dizem que lá faz um frio da PO***!
Mas está tudo ótimo, muitas aulas práticas de história e política...eita país triste este, muito pior que o Brasil! Os coitados já privatizaram até a alma! Uma loucura!!!! Até a água deles é privatizada, pode??? “Morte ao imperialismo yanque!!!!”
Por hora é isso... deixo meu beijo a todos e aguardem, mais notícias.
Cap IV - "A Saga" ou Como chegar a Uyuni 26/06/2004
Olha eu aqui denovo, sobrevivendo às agruras e venturas
bolivianas...
Para sua despreocupação, devo informá-los que já sarei da diarréia... tive que tomar remédio mas tudo bem...
Ontem deixei a cidade de Sucre em um “mini-bus” (como eles dizem) onde as bagagens eram carregadas “arriba” do dito cujo... Não gostei muito da idéia, principalmente porque a estrada era de terra, imaginem isso!!!
Além do mais, durante a viagem tínhamos que fazer uma baldeação numa outra cidade onde deveríamos trocar de “mini-bus” e pegar outro “mini-bus”... Enfim... a saída de Potosí, marcada para o meio-dia, só aconteceu às 13h, até aí tudo bem...
O problema foi que o tal do motorista, que era cego de um olho e manco (acreditem pois não é exagero!), começou a dar voltas pela cidade, indo e voltando pelo mesmo caminho, sem dar nenhuma satisfação à carga humana que levava consigo, no caso eu mais um monte de pobres diabos dentro do ônibus... Foi quando se deu o “barraco” - " Bamos, Bamos!!! (pronúncia deles).
Depois de muito protesto ele abre a portinha da cabine e grita, como se o estivéssemos insultando: - " Lo ayudante se olvido de la plata!!! Devemos volver, non se pode viajar sin la plata..." - Piada, não??? Mas é verdade... a essas alturas já tínhamos perdido mais 1h e já eram 14h... Mas quando ele finalmente toma o caminho da roça, eis que atropela “una chiquita”! - sim uma menininha!!!!
Aí sim que foi o maior barraco, a menina era super pobre e saiu todo mundo de suas casas querendo bater no “conductor”, linchar sei lá ... a menina estava bem, só sofreu uns arranhões, mas a coisa estava feia...
Ele tentou voltar para trás, ou fugir, deu outra volta inútil na cidade e quando tentamos denovo passar pelo local do acidente, os moradores tinham fechado a estrada e chamado a polícia...
Foi uma saga!!! Tivemos que voltar para a cidade novamente para tentar achar o tal dono da “pseudo” companhia de ônibus, que nem celular tinha...
Enquanto isso eu e os pobres diabos começamos a reivindicar nossos "derechos"... na verdade eu só queria que tirassem minha mochila, lá de cima dequela geringonça, para eu poder decidir o que fazer e sair daquele ônibus amaldiçoado!!! Eu fiquei muuuito P* da vida!!!
Finalmente acharam o homem, dono da “empresa de ônibus” e tudo ficou ok com a polícia e pudemos finalmente partir de Potosí com o mesmo chofer assassino...
A viagem foi um absurdo, o visual era magnífico, mas a estrada... de terra, tortuosa, cheia de precipícios... se para um motorista normal era difícil, imaginem para um caolho e manco!!! Nada contra pessoas caolhas e mancas, mas é que diante dos aconteciomentos, isso parecia até uma caricatura!
Ele parou uma hora para os “xixis” e eis que descubro que não existiam banheiros na tal parada... O pior, é que o motorista dizia que poderíamos “fazer” em qualquer lugar, mas não tinha nem uma moitinha sequer!!!
Pelo menos chegamos sãos e salvos em Uyuni... depois de muuuitas horas de atraso ebem de noite, no áuge da FRIACA... tudo bem...
O deserto de sal, onde estou agora e o maximo!!! Um visual licérgico, tudo branco e brilhante, andar sem óculos de sol é impossível!!! Aqui tem mochileiros de toda a parte do mundo, um barato!!!
A coisa é muito louca, até parece que você está em um lugar que não existe, uma viagem!!!
Também faz um frio da P***, algo como 1 grau de dia e menos 10 à noite, o que na prática significa usar mais ou menos de 5 blusas. Dormir ou tomar banho é quase impossível, já encontrar um quarto com aquecimento SEGURO, é mosca branca e salve-se que puder!
Por hoje é só... agora sigo viagem para o Lago Titicaca de onde
mandarei mais notícias das alturas.
Besos.
Cap V - Lago Titicaca - Ilha do Sol e Cusco!!! 03/07/2004
Hola, que tal!!!
Desculpem pela demora, sei que muitos estão ansiosos pelas novidades mas as aventuras e desventuras na Am. Latina, não me permitiram escrever mais vezes, muitas dificuldades giram em torno da comunicação... aliás, o “dindin” está acabando… aí coisa complica…
Eu parei em Uyuni por 3 dias e depois fui para Copacabana, cidade às margens do lago Titicaca, o mais alto do mundo, a 3800m de altitude.
(Está tocando Roberto Carlos aqui na rádio do local – “Não perciso nem dizer, tudo isso que eu te digo, mas é muito bom saber, que você é meu amigo... papará papará papará..)
Depois de uma viagem gélida, com menos 10 graus, num trem de “mierda” de Uyuni para Oruro, onde me enganaram dizendo que tinha caleifação. Lá peguei um ônibus mais detonado ainda, para La Paz, de onde eu ainda pegaria na sequência outro ônibus para Copacabana, no Lago.
Passei um frio danado no trem e se não fosse pelo meu super sleepingbag, eu agora estaria morta e congelada nos Andes.
Para vocês terem uma idéia, a janela do trem do lado de for a, tinha crostas de gelo como na geladeira...
Chegando em Oruro, corri com um grupo de britânicos (escoceses, irlandeses e ingleses) para pegar o tal ônibus para La Paz, viagem que duraria umas 3h. Fomos direto e até pensei em ficar em La Paz por um ou dois dias, porém a cidade é muito grande, várias histórias de truques para assaltar turistas aí desanimei, basta SP...
A viagem até La Paz foi Linda, um puta visual como sempre, para compensar a falta de conforto ou o excesso de desconforto…
Chegando em La Paz, estávamos do alto vendo a cidade lá em baixo, rodeada de enormes picos nevados, lindo!!! Só que o visual da cidade em si, um horror!!! Um favelão enorme, uma Rocinha continua nas encostas das montanhas... HORROR!!!!
Ah, enquanto estive lá nevou!!! Foi engraçado, pois a cidade não
combina com neve...
Na rodoviária de La Paz, medonha e fedorenta, comprei outra passagem e me dirigi, quase que imediatamente, para Copacabana.
Foram mais ou menos 4h de viagem, tendo que baldear num tal “estreito-de-sei-lá-o-que” , onde eles embarcam os ônibus em umas balsas conduzidas por uns hominhos pequenos que nem
parecem que vão dar conta do recado... MEDA!!!!
Depois de uma jornada de 17h de viagens contínuas, cheguei na tão sonhada Copacabana!!!! Uma cidade linda, às margens do lago,
com um astral fantástico, pessoal relax, etc. Procurei um hostel
descente que fosse quentinho, com água “caliente” para el baño... Achei Fofésimo! - Kantutas Hostel - Detalhe: um dia, na hora do desayuno, vi o carinha que preparava o café, tomando o chorinho do suco no copo do liquidificador e logo em seguida, sem lavar, colocou mais frutas p/ bater outro suco... Felizmente não era o meu... Pode uma tosquisse dessa???
Em Copacabana eu estava no paraíso, lugar pequeno, tranquilo, com comida boa, trutas do lago, pessoal legal, uma super "VIBE"!!!! Só gringo doido gente boa… por outro lado muito israelense escroto, os caras terminam de matar os palestinos durante o exército e depois vêm para a Am. Latina para relaxar e exercer toda a escrotidão que lhes é peculiar... um horror!
Copacabana é a porta de entrada para a Ilha do Sol, que fica a 2h de barco da cidade. Fui fazer a trilha de um dia na Ilha. Foi o máximo!!! Incrível!!! As águas azuis e verdes do lago, suas pequenas praias desertas, suas montanhas, sua paisagem inóspita e bucólica, suas llamas e alpacas vagando pelos caminhos, sua população simples e hospitaleira, descendente dos quéchuas e aymaras... enfim tudo de bom!!!!
Dizem que lá nasceu o primeiro Inka : Manco Kapac. Tem inúmeras ruínas de templos, terraços de agricultura, tudo lindo e cheio de história!!!! A trilha ao redor da Ilha, de norte a sul, dura 4h, é linda, um pouco pesada, sob o sol quente, mas frio ao mesmo tempo. Fiz a trilha com um alemão e um canadense, com direito a parada para lanche e tudo o mais! O legal dessa parada, foi que virou um “point”, depois pararam também duas francesas e um “tiozinho” local e ficamos todos juntos sentados no chão, num local com vista privilegiada, escolhida a dedo, comendo e dividindo o nosso "pão"... foi divertido!
Na trip de barco até a ilha, conheci gente de vários países e os papos foram fantásticos! Viagens que cada um já tinha feito pelo mundo, lugares a conhecer, trocas de dicas sobre futuros destinos, cuidados a tomar, histórias sobre a Am. Latina, música, literatura,
costumes, filosofias de vida, tudo muito legal! A discussão de consenso dos "no english speakers": infelizmente, isso tudo só foi possível através da língua colonialista que é o maldito inglês... odeio admitir isso!!!! Ah, e tem mais, os EUA estão realmente por fora... e encontrei outra pessoa cujo objetivo principal é NUNCA ir para NY!!!! Ehehehe!!! Não sou a única!!!!
Depois de Copacabana fui para Cusco, meu penúltimo destino.
Fui de ônibus, com direito a baldeação em Puno, também às margens do Titicaca, mas já no Peru. A cidade é muito feia, e realmente o lado boliviano do lago é muito mais legal!!!! Sem comparação!!!!
Ficamos lá por 5h, esperando pelo famoso "BUS CAMA" que deveria sair às 20h. Nesse meio tempo, fomos todos, os passageiros a embarcar, conhecer "las islas flotantes de URUS", uma coisa bizarra! Elas são mesmo flutuates, feitas de um tipo de taboa, eu achei todo aquele passeio muito chato, muito coisa de turista.
Além do mais, estava morrendo de frio, já que eram 16h e não tinha mais sol e quando eu sinto frio não consigo pensar muito bem, então fico bem irritada e não acho graça em mais nada...
Assim foi meu passeio pelas “islas flotantes”...não aconselho... puro turismo de japonês para tirar fotos e veja que nem isso eu fiz de
tão irritada que estava... Meu mau humor é uma pérola rara!!!!
Finalmente seguimos para Cusco, mas óbvio que tinha que ter uma confusão no ônibus... era um daqueles de 2 andares, em baixo era leito e em cima normal... Mas o quê os picaretas fizeram??? Venderam mais leitos do que lugares disponíveis e um grupo de baianos, que eram muito legais por sinal (várias tiazinhas aventureiras!), se FU*** pois ficaram sem seus lugares... Os
IRRESPONSÁVEIS não anotaram os números dos assentos e portanto “os baianos” não puderam reivindicar seus lugares propriamente ditos, só a grana que pagaram a mais... foi a maior confusão que por fim não deu em nada, como sempre! Eu também fiquei P*** com mais uma falta de respeito, o tal ônibus leito, tinha nada menos do que TODAS as janelas de baixo estouradas e meu assento estava quebrado e torto, viajei por 8h pendendo para o lado...
Chegamos a Cusco às 4h da manhã com um frio medonho!!!
Por coincidência, tinha reserva no mesmo hostel dos “baianos”… Êita lugarzinho frio, sujo e fedido!!!! Até chorei quando, às 4h30 adentrei minha “abitación”, porquita e vi a privada com xixi e cheia de goticulas amareladas no assento... uhuhu!!! "disgusting"!!!!
O quarto era tão frio que tive que usar meu sleepingbag, até mesmo por uma questão higiênica...
Pela manhã, quando acordei, meu único objetivo era sair de lá...
Acabei indo fazer um passeio no Vale Sagrado dos Incas, fomos em vários sítios arqueológicos nos arredores de Cusco e ainda visitamos alguns mercados típicos, o dia foi bem proveitoso. Na volta, fui para um outro hostel bem mais caro, porém quentinho, limpinho e aconchegante, características fundamentais quando se está sozinha sem um cobertorzinho de orelha… que saudades!
Impressões sobre Cusco: sin palavras! É uma cidade linda!!! Cheia de agitos, de museus, etc., muuuito legal!!! A Catedral é uma coisa
maravilhosa, e talvez a igreja mais bonita que já visitei... e olha que na Itália eu vi igrejas lindas! Talvez só não seja mais bela que a Igreja de S. Francisco de Assis, em Assis (Itália), mas de qualquer forma é o máximo! Só no predio central, ela tem 17 altares de ouro e prata!!!
A parte chata de tudo é que está chovendo aqui... não uma chuva
torrencial, mas uma chuva "chatorrencial"... e com isso o frio aumenta... faz 2 dias que não pára de chover e só para lembrá-los, amanhã, às 7h30 devo ingressar na Trilha Inca... ai meu Deus!!!!
Com essa chuva até pensei em desistir, eu já odeio frio, com chuva então… piorou! Mas depois de toda essa SAGA, desistir seria covardia da minha parte... e mais, o astral que existe em torno do "fazer a Trilha" é algo que te enche de energia e curiosidade, não tem jeito!!!
A minha esperança, se a chuva não passar, é que no final de 4 dias eu consiga ver o sol...
Espero sobreviver a tudo isso... mas que tá muito frio, isso tá!
Ontem fui numa baladinha "Cuzqueña" à noite, as baladas aqui são fortes e rola droga pacas!
É isso, amanhã começo minha peregrinação de 4 dias, com
certeza será uma prova de resistência física e psicológica...
Tenho um objetivo para o próximo ano e é isso que vou pedir a "Pachamama" (mãe terra) quando chegar lá em cima...
Torçam por mim e saibam que quando chegar lá vou pensar em todos vocês e pedir um pouco de energia para cada um, isso tá garantido!
Quando descer no dia 7, se tiver forças, escrevo como foi ...
Repito, Cusco é mais interessante do que qualquer um possa imaginar e bem mais cara também, se puderem, venham um dia...
Hasta la vista!
PS. estamos com lua cheia e estou achando um desperdicio este tempinho de chuva...imagine subir sob a luz da Lua!
Cap VI - Trilha Inca / Machu Picchu - 08/07/2004
Quem vos fala é uma nova pessoa...
Vocês devem imaginar porque... Ontem às 20h cheguei de volta da Trilha Inca, mais especificamente Machu Pichu como destino final...
Começamos a caminhada pela Trilha no dia 4 às 11h e fizemos mais ou menos umas 4h ao todo neste dia. Tudo muito light e reconhecendo o grupo que mostrou ser muito legal.
Éramos 8 pessoas, 3 franco-canadenses, 4 sul-africanos e eu; 3 garotas e 5 caras, entre eles 2 gays. Eu era a vovó... (óbvio!). A média era 24 anos com 2 meninos de 22... Tudo bem, não deixei a desejar! Todos disseram que eu não tinha cara de 31, fiquei suuuper feliz!!! Acho que realmente não tenho.
Na divisão das barracas tive um problema... eu sobrava sozinha… não tinha uma barraca só pra mim... merdas da organização peruana!!! Tive que ficar com um rapaz canadense, ainda bem que era o MENOS bobo dos 3 canadenses do grupo... apesar de bobos, eles eram legais. Ter companhia na barraca foi bom pois ficar sozinha, com o frio que fazia, seria complicado... pelo menos tinham 2 respirando lá dentro o que deixava o ambiente um pouco mais quente (no bom sentido!).
Consegui o que poucos conseguem: levar uma mochila HÍPER pequena! Ninguém acreditava! Tudo friamente calculado para não passar perrengues de peso e nem necessidade de nada... A RP Vieira, me deu algumas boas dicas sobre isso o que valeu e muito - "Tudo o que você pensar em colocar na mochila pode ser demais diante do segundo dia de caminhada...".
Baseada nisso, resumi tudo e lá fui eu, com a menor mochila do mundo para uma mulher, vou inclusive entrar no Guiness!!! Eheheh!!!
Acampamos na primeira noite num lugar bem podrão, como uma latrina nojenta, mas a comida era boa, aliás, o caminho foi recheado de boa comida e latrinas nojentas, um paradoxo...
A primeira noite com o meu "tent mate" foi ok, sem nenhum imprevisto ou ataque, tudo normal, assim como todas as outras noites, inclusive, ele tinha uma lanterna muito boa que eu também podia usar, fiquei bem feliz! Ah! O nome do meu colega era Eric.
Acordamos cedo no dia seguinte e a notícia que a guia nos deu foi que devido ao mau tempo dos últimos dias, tinha tido uma nevasca no passo de 4.200m (que teríamos que atingir naquele dia) e que iria depender do "controle" nos dizer se seria possível ou não passar por conta dos 40cm de neve... Foi aquele blablablá...
Eu, como odeio frio, entrei em pânico, além disso nunca tinha feito caminhada na neve e nem sabia como poderia ser, só sei que juntando o fato de aquele ser, normalmente, o pior dia de trilha, ainda ter que enfrentar neve na subida, seria uma loucura!!! Os meninos canadenses amaram a idéia, já que na terra deles só tem neve...
Vamos lá, subida por 4h e descida por mais 2h.
Primeiro controle: tempo melhor, os caras deixaram passar, se não deixassem teríamos que tomar outro caminho sem sítios arqueológicos...
Folha de coca e vamos nós... no começo fui retardatária, mas depois fiquei no meio do grupo (santa coca!!), mas morrendo... e carregando a mochilinha-mini... (uhuhu!!!)
Confesso que quase morri!!! Coisa de louco, não acreditava que a coisa podia chegar àquele grau de dificuldade!!! Suava, sentia frio, suava, sentia frio...e aí chegamos ao primeiro topo que eu, ingênuamente, achei que fosse o fim... poor Pri!!!
Mas enquanto isso também conseguia apreciar a paisagem, uma mistura de montanha com floresta, coisa que não temos no Brasil; uns paredões imensos que nos acompanhavam como se estivessem vigiando nossos pesados passos montanha acima.
Break para os chocolates e cereais e voltamos a subir, dalí já se via a imensa parede branca e gelada que iríamos enfrentar... não acreditei quando vi aquilo!!!
Os guias diziam que fazia 5 anos que não caía neve naquele ponto da trilha e que aquilo era uma raridade... Todos os guias, também dos demais grupos, estavam excitados pela neve rara e pelo visual, mas eu não sabia ao certo o que pensar daquilo tudo... NEVE???? FRIO???? SUBIDA???? já estava exausta ...
Comecei a subir o monstro branco que me pregava peças a todo o momento! Meu cajado (ah! eu tinha um cajado!!!) ,muitas vezes escorregava no gelo liso já prensado pelos pés dos peregrinos como eu. Minha superbota escorregava me ameaçando ribanceira a baixo a todo momento... Olhava pra cima e via ainda um imenso caminho a percorrer e eu morrendo... Num dado momento comecei a xingar em voz alta, no meio da neve, falando todos os palavrões que vocês podem imaginar (ninguém entendia mesmo), mas subitamente tive medo de avalanche, pois vi um bolinhos de neve rolarem... Tudo bem, era só pra desabafar o cansaço e o enorme desafio nevado...
Será que era sorte ou azar??? - me perguntava a todo momento... ali o frio já era bem mais pesado pois não tinha umidade nem vegetação, só gelo e montanha por todos os lados!
Chegamos então a um lugar onde tinha acontecido uma "pequena" avalanche, e a neve estava todoa revolvida, suja, impedindo o "bom andamento" (se é que se pode dizer isso…) dos caminhantes. Um guia ficou ali ajudando seu grupo a passar e, obviamente, quando chegou na minha vez ele se foi e senti meu primeiro MEDO de verdade... medo de cair, de rolar cordilheira abaixo... que horror!
Escorregava a todo momento, o gelo estava muito liso e muitas vezes era mais seguro pisar no fofo (40 cm aprox) pois dava mais estabilidade, mais gelava o pé.
Finalmente chegamos ao passo dos 4.200m, festa geral, fotos, todo mundo doido pela novidade, um monte de neve e um frio danado!!!! Foi quando me ative ao trecho seguinte da trilha: uma descida super íngrime, de 2h mais ou menos, cuja primeira hora seria na neve... os que já fizeram a trilha, sabem o que é aquela descida... imaginem só, toda coberta de neve!!! Era puro escorregador branco e ameaçador!!!! Gelei mais do que já estava...
Fui falar com a nossa guia e disse que estava CAGA... de medo de descer e arrebentar meus lindos dentinhos arrumados por 5 anos de aparelho FIXO! Ela, coitada, disse que também estava, ela nunca tinha descido “aquilo” com neve... ai ai...
Muitas fotos, bonecos de neve e vamos nós morro abaixo... empunhei meu superhíper-cajado como " Thor" e fui escorregando... primeiro chão, segundo chão, terceiro chão... Tremia de medo, queria chorar, queria ajuda, mas nada, todo mundo tava na mesma situação que eu... ainda assumi a dianteira do meu grupo, pois como cai muitas vezes, acabei ganhando mais tempo(eheheh!!!)... Logo meu “tent mate” e seu fiel escudeiro desceram como doidos, correndo na neve e sumiram horizonte abaixo...
Os carregadores, coitados, de chinelo, de bermudas e com aquelas enormes cargas nas costas, eram os mais visados nos tombos... meu Deus... tive vontade de chorar por eles!
Depois de uma hora de horror na neve, a coisa começou a derreter e me deparei com pequenos rios de água corrente, provenientes do degelo da monstra branca...
Meus joelhos tremiam pelo esforço da subida e descida, mas continuei firme! Fora os doidos que desceram correndo, meu grupo tinha sumido lá atrás de mim...
No caminho abaixo, já mais calmo, fui conversando com um carregador, EDOARDO, 25 anos, muito legal e simples que pouco falava espanhol, falava mais quechua mesmo. Ele me relatou a vida horrivel de um carregador. Os carregadores, são aqueles que acompanham os grupos que fazem a Trilha Inca e que levam as barracas, a comida, e todo o resto, inclusive o botijão de gás, que não é dos pequenos... São 25kg para cada!!!
Ele dizia que ganhavam, pelos 4 dias, mais ou menos R$ 30,00, no máximo R$ 50,00... isso não é vida... ele falava de suas perspectivas, o que pretendia, etc... Os carregadores tem até varizes nos braços… Ah! Existem também velhos carregadores!!! No terceiro dia, eu tive uma crise de choro, no meio da trilha sozinha, quando um dos velhinhos passou por mim, todo carregado, que vida é essa!!!
Quando finalmente cheguei ao acampamento, mais uma vez usei meu vasto vocabulário de palavrões. Ficamos eu e os dois canadenses ligeiros falando do desafio daquele dia...
Realmente, foi um teste mental de equilíbrio e resistência... a todo momento você pensa que não vai ser capaz de terminar, de chegar lá! Mas deu... Aquele segundo dia de Trilha Inca, foi certamente a coisa mais dificíl que fiz na vida!!!
O visual do acampamento era legal, bem no alto, mas não demorou pra começar a chover... choveu a noite inteira!!!!! E esse era o lugar mais frio e mais alto da trilha, imaginem com chuva!!!
Terceiro dia, 8h de caminhada porém bem mais light. Logo de cara já avistamos um sítio arqueológico e assim foi ao longo do dia com 4 sítios, alternando entre “terrazas”, fortalezas, armazéns de comida, sítios sagrados, coisas lindas!!!! deixando tudo o que já tinha visto ao redor de Cusco no chinelo!!!! Toda aquela natureza exuberante, com os paredões andinos e no meio, aquelas pérolas históricas! “ Uau!” - era isso que exclamávamos o tempo todo!
O sol se abriu quando chegávamos em nosso último acampamento, que coincidia com o sítio arqueológico mais bonito. Tiramos as blusas e conseguimos deitar, com folga de tempo, no meio de umas terrazas incas, um visual inesquecível!!! Com o rio lá em baixo, no vale do Vilcabamba, uma garganta profunda... um vale muitíssimo profundo, coisa de louco!!!
No acampamento, teria tido a oportunidade de tomar meu primeiro banho da trilha, mas levei pouca grana e tínhamos ainda que dar uma “gorjeta” para os carregadores, além de ter que comer no dia seguinte e pagar um maldito ônibus até o trem que nos levaria de volta para Cuzco. Sendo assim, tive que declinar ao banho, como um ato heróico... meu cabelo já estava mais que duro!
Neste acampamento, estavam todos excitados, pois o dia seguinte seria o GRANDE DIA!!!!
Acordamosas 3h30... escuro e lanterna na mão... Às 5h passamos pelo último controle antes da chegada a Machu Pichu, éramos os 2 primeiros grupos a sair do acampamento, o que nos dava a vantagem de chegar lá antes dos demais e ter ainda alguma privacidade para ver o espetáculo. Fizemos a caminhada de 1h30 em tempo recorde- 1h!!! Todos os 15 em fila indiana, como peregrinos RESIGNADOS!!! Lindo!!!
O dia amanheceu na selva alta!
O céu foi ficando azul, depois rosa, depois laranja, uma coisa única e então chegamos à "porta do sol", onde se daria a primeira vista da cidade sagrada...
Mas para nossa decepção - NADA... só neblina... todos ali parados diante “dela”, mas não a víamos, parecia que tudo era parte da mesma dificuldade de chegar, a névoa encobria o que esperávamos ver há 4 dias!!!!
Esperamos um pocuco, mas fomos em frente rumo a cidade de Machu Pichu, por mais 40 minutos de trilha... chegamos no ponto “x”, onde todos tiram aquela foto clássica e mesmo sob nossas barbas, a cidade não se revelava, dando então um ar mais místico ainda. Eu só ria, uma emoção me invadiu e eu queria rir, queria chorar, queria ver, mas sabia que tudo aquilo era parte do espetáculo... a névoa fazia a parte dele, um suspense.
Esperamos até às 7h30, todos tomando suas posições, escolhendo os melhores lugares, ângulos, armando seus tripés, ajustando suas câmeras, todos excitados... aguardando o espetáculo da natureza e da humanidade, juntos em perfeita harmonia!!!!
Foi então que sol começou a despontar na montanha Huayana Pichu... a famosa, ele cortava lentamente a neblina e aos pucos descortinou a cidade Inca...
Foi um momento de êxtase... todos lá assistindo a Natureza... não era um pôr do sol, nem o nascer dele... era Ele em harmonia com a obra humana! Chorei... as lágrimas escorreram e vi o quanto todo o sacrifício era necessário... Chegar ali sem caminhar, sem pensar na vida, sem sofrer um pouco, sem chuva, sem neve, sem natureza, sem descobrir aos poucos o que tudo aquilo significa, com certeza não seria a mesma coisa... Assistir ao sol e as nuvens abrindo caminhos para nossos olhos, ávidos por Machu Pichu é realmente um espetáculo, uma experiência, uma emoção!!!!
Não dá para falar/escrever mais, é isso, tem que ir para crer, para ver para sentir... tem que se superar... tem que ter paciência... tem que refletir... Machu Pichu é um sentimento e é isso!
Acho que a vida inteira e o que estiver por vir, já valeu a pena, depois de assistir o sol, que surgia atrás da montanha, o pico mais alto, formando uma certa "aura" rosa ao redor desse pico, dessa montanha... Mágico!
Nenhuma fotografia reproduziria aquela imagem... uma catarse!
Um beijo a todos! E espero do fundo do coração um dia todos façam essa trip.
Pri... the queen of the montains...
08 março 2007
Dia Internacional da Mulher
Que belo dia de sol na capital paulistana!!!
A data de hoje, por sí e pelo lindo sol escaldate, já traria um significado especial, porém uma comemoração marca este dia nos calendários mundiais, trata-se do dia Internacional da Mulher, 8 de março.
O que isso significa de fato não sei, mas na prática, recebemos os cumprimentos de alguns mais avisados, alguns e-mails femininos exaltados, às vezes ganhamos rosas nos supermercados, enfim... é isso e basta.
Não contentes com o dia de sol e a data comemorativa do Dia Internacional da Mulher, não é que este ano inventaram mais uma para hoje??? Adivinhem só quem chega para nos prestigiar na nossa Sampa Caos??? Mr. president... George W. Bush... não é o máximo???
Mr. Bush, aterrisa na capital paulistana, hoje às 19h, seguido de uma patética comitiva de segurança composta por 4000 homens entre policiais civis, militares, federais e rodoviários, bombeiros, guardas civis metropolitanos e soldados do Exército. Só a PM (Polícia Militar) irá disponibilizar 1.000 homens, 300 veículos --entre carros, motos e veículos pesados--, além de 24 cavalos. Imagine o caos que vai se formar entorno dessa estúpida visita de 24h.
E me digam, o que vai ser feito em 24h? Por que não uma vídeo-conferência? Por que sair de seu próprio país, já que tem tanto medo de levar uma bala na testa?
Quer saber, esse Mr. Persona-non-grata-Bush deveria ter vergonha de deixar o território americano! Go home!!!
05 março 2007
SOS Saude Publica
Uso meu blog como instrumento de protesto contra a medida sumária, tomada pela Secretaria Municipal da Saúde da cidade de São Paulo, de demissão de mais de 600 funcionários do Programa de Saúde da Família que engloba, entre outros, a Casa de Parto de Sapopemba, onde a Valentina nasceu.
Posso falar com propriedade sobre a Casa de Parto, pois fui muito bem atendida durante minha gestação e parto, foram elas, suas comprometidas funcionárias, que me ajudaram a trazer ao mundo minha filha, de forma tão linda, humana e natural, assim como fazem com tantas outras mães, destoando no nível comum de atendimento em um país campeão mundial em cesáreas. A Casa de Parto de Sapopemba é hoje referência nacional em atendimento ao parto natural humanizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Os 600 funcionários, que estão cumprindo "aviso prévio" desde sexta-feira (02/03/07), fazem parte de programas como: ambulatório de especialidades (cardiologistas, ginecologistas, neurologistas, oftalmologistas, endocrinologistas, dermatologistas, pneumologistas, otorrinolaringologistas, reumatologistas, urologistas), programa de saúde mental (psiquiatras, terapeutas ocupacionais, psicólogos), programa de reabilitação (fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeuta ocupacional), profissionais de apoio administrativo e serviços gerais das Unidades Básicas de Saúde do Programa de Saúde da Família nas regiões norte e sudeste de São Paulo.
Não podemos permitir que decisões como esta, tomadas sem consulta prévia à população, principal prejudicada, acabem como o mínimo de serviços de saúde públicos de qualidade, aos quais temos acesso nessa cidade. Não podemos deixar que as autoridades, em sua jogatina política prejudique dessa forma as comunidades atendidas e os funcionários demitidos, sem discussão e esclarecimento dos motivos que levaram a essa tomada de decisão. Ainda assim, não podemos deixar que a saúde pública não seja encarada como prioridade e dever do Estado. Chega de apatia, chega de achar que ações inconsequentes não nos afetam diretamente, chega de fechar os olhos, temos o dever de assumir o papel de cidadão que nos cabe.
Sabemos que existe um abaixo assinado em ação pela internet, mas no momento não tenho detalhes, assim que souber o endereço será postado para que todos possam colaborar nesse ato de indignação. Além disso, hoje às 15h, haverá reunião em frente à Secretaria Municipal de Saúde, na rua General Jardim, próximo ao metrô República, com divulgação junto à mídia, com os funcionários e as comunidades/pessoas atendidas pelo sistema e os que simplesmente queiram demonstrar seu apoio contra essa medida.
Endereço da Secretaria:
R. General Jardim, 36
01223-906 - São Paulo - SP
PABX: 0 XX 11 3218-4000
E-mail: sms@prefeitura.sp.gov.br
04 março 2007
Minha Filha Valentina - O inicio de Tudo
Nossa Gravidez... Priscilla e Daniel
Contar como um bebê chegou ao mundo, é contar um processo longo e curto ao mesmo tempo. Longo porque a curiosidade que cerca o nascimento é enorme e curto porque a barriga deixa muitas saudades. Mas o processo como um todo, é formado por escolhas pessoais, experiências ouvidas, bagagem acumulada durante a vida e principalmente durante o período da gestação.
A minha gravidez foi recheada de acontecimentos de todas as naturezas, coisas boas, coisa nem tão boas assim, coisas muito ruins e tristes mas principalmente coisas maravilhosas que me possibilitaram ter a oportunidade de escolher um caminho muito legal para ter minha filha, Valentina.
Dentre os tantos acontecimentos, houve minha demissão do trabalho, em situação lamentável, triste, humilhante, algo que a princípio me causou pânico, raiva, desilusão, insegurança, mas que depois puder perceber que esse acontecimento estava me proporcionando tempo para pensar, refletir, ler, ouvir e conhecer sobre a gravidez e suas possibilidades.
A consequente limitação financeira, nos causou um certo medo, num primeiro momento, mas durante o período de 9 meses, também pudemos, eu e Daniel, perceber que essa seria uma nobre lição de comedimento, de limitar impulsos, de contribuir com o aprimoramento de nossa formação “ideológica”, tornando o dia a dia mais regrado, sem excessos de consumo ou gastos materiais desnecessários. Essa forma de encarar a vida, já fazia parte de nosso estilo, porém a situação nos obrigou, de forma muito tranqüila, a transformar tudo isso numa rotina saudável, até como um exercício para a criação de nossa filha.
A saúde de membros de nossa família esteve muito comprometida em alguns momentos, e isso também reforçou uma crença importante quanto aos princípios de uma vida sã. Sempre soubemos que o segredo do corpo está na mente, e mais uma vez tivemos a oportunidade de reforçar esse preceito através da, muitas vezes dura, prática dos fatos. Priorizamos a saúde, a qualidade de vida, as noites de sono, a boa alimentação, a terapia, o Yoga, enfim tudo que possibilitaria passar pela gravidez de forma sã e saudável, apesar de qualquer intempérie.
Nossa Valentina foi concebida com muita energia positiva, desejávamos muito um filho como confirmação do amor, admiração e respeito existentes entre eu e Daniel. Sempre tivemos um convívio harmonioso e repleto de afinidades em praticamente tudo, um filho viria para selar tudo isso.
Às vezes parece até simbólico, mas ela foi feita numa viagem de férias para Cuba, onde fomos, eu e Daniel, fazer um curso de cinema documentário... um bela inspiração revolucionária... Como eu digo no poema abaixo, foi trazida pela “cegonha de Fidel”... de barba e charuto!
E foi assim que a fizemos e que a esperamos, vendo ela crescer a cada dia, acompanhando cada sintoma de sua presença, desde os primeiros quilos a mais, os enjôos horríveis dos 4 primeiros meses, os xixis intermináveis, as noites mal dormidas, os hormônios à flor da pele, o peso do barrigão, até suas mexidas e movimentos como borboletas na barriga... tudo muuuito gostoso e prazeiroso!
A alegria de descobrir o sexo, de escolher o nome, de vê-la no ultrasson... imaginar seu rosto, sua voz, a quem irá puxar... cor dos cabelos, dos olhos... formato das mãos, do nariz, da orelha...
Nove meses ouvindo lendas e crendices, palpites e opiniões entendidas de desentendidos... muito engraçado!
E o amor, pelo “serzinho” vindouro, crescendo, crescendo e a vontade de que sua chegada nesse mundo seja linda, natural e iluminada, sem sofrimento sem drogas, sem nada, cresceu também proporcional à medida desse amor. Queríamos que a natureza atuasse em seu nascimento como atuou na sua concepção e que acima de tudo ela optasse por vir, chegar, triunfar na SUA hora, nem antes nem depois.
O Parto Natural... Priscilla, Daniel e Valentina
Acho importante dizer que já tinha passado por 3 obstetras antes de chegar ate o GAMA (Grupo de Apoio à Maternidade Ativa) e conhecer a Dra. Andrea que me acompanhou no Pré-Natal. Acho que antes de começar a frequentar o GAMA e fazer minhas opções (pela saudável e louvável influência de um casal de amigos que tiveram suas filhes de parto natural), eu já buscava algo que não sabia bem o que era, e por isso fui mudando de médicos, achando sempre um “defeitinho”.
A realidade brasileira com relação ao parto é muito cruel, somos campeões mundiais em cesáreas provando que a adoção desse “procedimento” por parte dos médicos foi banalizada. Os motivos para isso, são os mais variados, mas esbarram sempre na questão financeira e na falência do sistema público de saúde, dando possibilidade aos convênios ditarem regras absurdas e aos médicos se tornarem, principalmente no caso dos partos, tiranos ditadores de suas vontades e conveniências.
Foi levando esses e muitos outros fatores em consideração que nossa mente se esclareceu com relação ao parto. Eu queria ter um parto “normal”, mas queria também um acompanhamento diferenciado do que vemos e ouvimos por aí, diante dessa dura realidade brasileira. O fato é que encontramos! Através do GAMA, achamos uma médica que entendia o parto de forma natural, respeitando o momento como sendo da mulher, do casal e do bebê por nascer. Também através do GAMA, soubemos da existência das tais “Casas de Parto”, e logo eu e Daniel nos sentimos atraídos. Mas antes fomos conhecer as maternidades e depois de nos depararmos com uma realidade fria, vimos que realmente precisávamos de alternativas.
O parto domiciliar nos agrada, mas acredito que como pais de primeira viagem, isso pesou para não irmos fundo nessa opção, mas de qualquer forma aprendemos a entendê-la como uma das melhores opções para o nascimento. Daí fomos conhecer a Casa de Parto de Sapopemba num sábado pela manhã, e ficamos apaixonados. A partir deste dia ficou quase decidido que teríamos a bebê lá. O lugar é muito legal tem uma aura muito boa, saudável, pessoas muito capacitadas e profissionais atendendo e um cheiro de comidinha caseira que fica na memória! A decisão de ter nossa bebê na Casa de Parto foi um processo de amadurecimento de várias questões que nos foram apresentadas durante os 9 meses de espera.
Agora vamos aos fatos…
Dia18/06/06, domingo, final do feriado de Corpus Cristi. Pela manhã comecei a sentir algumas dores diferentes e avisei o Daniel que estava com contrações leves. Passei o dia todo assim. O Daniel insistia para eu ligar para a minha doula* e prof. de Yoga, a Cris, que estava comemorando seu aniversário de 40 anos num sítio… achei que podia esperar mais e só liguei à noite.
Contei sobre as contrações, etc e ela disse que eu poderia estar em prodomus** mas que tabém isso poderia ser um alarme falso e eu entrar em trabalho de parto só depois de alguns dias…
Ela também foi bem clara em me aconselhar a dormir o máximo que eu conseguisse e tentar relaxar, mesmo entre as contrações. Segui à risca os conselhos e naquela noite, mesmo com as contrações mais fortes, eu dormi o máximo possível, e era incrível como conseguia!!! Os intervalos eram de 10’ a 15’, mas dava para dormir!
Na segunda pela manhã, 19/06/06, as dores estavam mais intensas e os intervalos menores, de 5’ em 5’, 7’ em 7’, e o tampão*** saindo mais e mais… daí pra frente, controlar a respiração passou a ser fundamental (inspira, expira pela boca). Já me sentia uma “pata choca”, andava de um lado pro outro e percebi que ficar deitada era o pior dos mundos, as dores ficavam muito mais fortes!!!
Liguei denovo para Cris e contei a evolução do processo, ela então disse que achava que eu realmente estava em prodomus e denovo me aconselhou a dormir nos intervalos para poupar minhas energias. Também aconselhou o Daniel a ficar comigo pois a “coisa” poderia começar a pegar… Tomei um banho bem longo para relaxar, o que ajudou muito!
Eu estava muito tranquila e disposta a descansar mesmo, afinal o que mais eu poderia fazer. Daí desenvolvi uma técnica de ficar deitada nos intervalos e quando percebia que teria uma contração, levantava para não sentir tanta dor, isso era incrível – levantar rápido com aquela barriga!!!
Na parte da tarde as contrações dimunuiram a frequência e voltaram para 10 em 10’ (estranho…). Levantei e fiquei de um lado pro outro repetindo que precisava sair, que o espaço do “AP” estava muito pequeno… queria ir no parque caminhar.
A Cris ligou novamente e também me aconselhou a sair caso eu realmente estivesse disposta. Saímos e fomos caminhar, era engraçado estar no meio do parque de um lado pra outro, parando de 10 em 10’ para me apoiar e sentir as contrações… parecia que todo mundo estava percebendo o que se passava e que logo iriam dar um “presta atenção” no Daniel: “Cara, sua mulher tá parindo tira ela daqui!!!”
Mas eu continuava tranquila, sabia que o bebê estava começando a sair e que eu precisava ter calma e tranquilidade para que corresse tudo bem. Sempre me concentrava na respiração para buscar um certo alívio.
Quando voltamos para casa, com a chegada da noite (18h), a coisa apertou de verdade. Apesar do ritmo se manter igual, a dor ficou mais forte. Comecei procurar uma posição para suportar as contrações e descobri que se ficasse de 4 na cama ou de pé com as costas curvadas e apoiada em algo, ficava bem mais suportável… nessa fase, a mulher em geral parece um bicho procurando uma posição, um lugar, um “ninho”, alguma coisa que nem se sabe o quê!!!
Voltei pro quarto, quietinha, deitada no escuro e cochilando nos intervalos, mas ficando de 4 nas contrações…
Jantei, bebi muita água, mas sempre voltava pro escurinho do quarto. Nesse período o Daniel só monitorava o tempo e ficava por perto, vendo se tudo estava ok , ainda… a Cris também estava sendo informada, afinal acompanharia o parto. Nessas alturas ela já tinha dito que achava que o trabalho de parto iria engrenar na madrugada.
Mais ou menos às 23h, no meio de uma contração fortíssima a bolsa rompeu escorrendo um pouco de água. Corri pro banho, onde fiquei por quase 1h. Nesse meio tempo o Daniel ligou para a Cris que disse logo que se a bolsa tinha rompido durante uma contração, era por que o trabalho de parto já devia estar adiantado e que se eu quisesse poderíamos ir para a Casa de Parto, nos encontraríamos lá. Eu preferi que ela viesse em casa, achava que dava para ficar mais e também tinha receio de ir pra lá e ter que ficar muito tempo ainda... Eu estava muito tranquila apesar da dor, sabia que tinha um certo controle da situação e que podia ficar em casa mais tempo, não queria correr o risco de estranhar o ambiente, tinha noção que ficar em casa, o máximo possível, era o melhor a fazer.
Depois que a bolsa rompeu, a frequência das contrações aumentou para 3’ em 3’, a dor também aumentou e começou a sair sangue. Enquanto a Cris estava a caminho eu fiquei o tempo todo no chuveiro relaxando… como foi bom!!! Com a sua chegada, ficamos monitorando as contrações por mais ou menos 1h e quando decidimos ir para a Casa de Parto já era quase 1h da manhã.
O pior, de todo o processo foi o trajeto de casa até a Casa de Parto, não pelo tempo ou distância, mas pelo desconforto, parecia uma eternidade. As dores eram muito fortes e eu não tinha posição! Tentei várias coisas, a Cris até parou o carro durante uma contração para ver se melhorava… foi bem difícil!!!! Mas chegamos lá por volta da 1h30.
As enfermeiras, outra Cris e Marlene, nos receberam super bem e fomos verificar o andamento do trabalho fazendo um exame de toque e como foi horrivel!!! Me senti muito invadida! Mas tudo bem, fiquei também aliviada quando elas disseram que já estava com 7cm de dilatação!!! UAU!!!!!
Me senti encorajada com a “notícia”, mas sabia q estava entrando na fase mais difícil do trabalho – a transição – que seria a passagem dos 7cm para os 10cm.
Fomos então para a sala de parto onde recebi massagens, colocaram uma musiquinha para relaxar e as menina começaram a encher a banheira. O Daniel tava sempre do meu lado, super companheiro, segurando minha mão e me tocando quando lhe era possível.
A banheira foi abençoada, nela relaxei tanto que dormia de sonhar entre as contrações, dormia meeeesmo, ainda que somente 3 ou 4 minutinhos, mas dormia! Foi uma fase muito interessante, eu ali na banheira a Cris acariciando minha cabeça, o Daniel me dando a mão, me acariciando (ele tirou varias fotos nessa hora! Muito lindas!!!!), as meninas, parteiras, perguntando se eu queira alguma coisa, um silêncio quase absoluto, penumbra… todo mundo me assistindo, de alguma forma “me servindo”, tudo dependia de mim! Ali fiquei assim, em transe, por pelo menos 2h relaxando mas sentindo as contrações (lógico!), até q alguma coisa me disse “Priscilla, vc precisa acordar e voltar ao trabalho senão nada vai acontecer.” Abri os olhos, me ajeitei e as enfermeiras perguntaram se eu não estava sentindo vontade de fazer força, eu disse que achava que não… então a Cris (doula) pegou um ponto na minha mão, apertou e foi automática a “resposta”, veio uma contração com a força total… CARACA!!! Foi tão forte que minha vontade era dar um soco na cara dela(rs…), o Daniel tentou fazer o mesmo mas não funcionou, então ela mesma repetiu o toque nesse ponto mais umas 2 vezes no máximo e aí a coisa engrenou. Foi quando a Cris enfermeira fez outro exame de toque e constatou os 10cm, elas me orientaram a começar a achar uma posição para eu ficar pro bebê nascer.
Aí foi difícil, pois eu não queria me mover, tentei cócoras mas não fiquei confortavel. Elas disseram que eu poderia ficar na banheira mas teriam que completar a água para o bebê nascer ali… AH NÃO! Não dava para ter o discernimento de esperar para completar a banheira, o “bicho tava pegando” e tinha que desovar a “jaca entalada”, não dava para ser muito romântica naquela hora nem para pensar muito, ali eu era totalmente bicho! Como constatou o Daniel, naquele momento eu entrei na “partolândia”!!! Com muito esforço, sai da banheira e fomos para o quarto, subi na cama, mas juro que queria alguém me dizendo o que fazer, quando na verdade elas queriam que EU dissesse o que queria fazer… Eu não queria nada, queria que o bebê nascesse, doia muuuuiiito!!! Os puxos estavam super fortes e então eu lembrei da posição de 4 que me ajudava em casa durante as contrações. Fiz o mesmo ali, e instintivamente levantei uma das pernas abrindo para o lado, aumentando assim a abertura, senti que elas passaram um óleo na região do períneo para evitar a laceração.
Nessa hora eu já não estava mais lá. Sentia os puxos fortes e queria urlar, mas as meninas pediam para que eu canalizasse a força só lá em baixo sem despediçar com a voz… eu tentava e realmente fazia uma certa diferença, eu sentia uma coisa “entalada” que me dava um certo desespero, até que num dado momento perguntei o que tinha lá em baixo e as meninas responderam ironicas: “o que você acha??? É a Valentina!!! Capricha na força que ela tá saindo!” (rs…)
Já faltava pouco, o Daniel se aproximou para fazer uma carícia e quando me tocou disse que sentiu um choque e um arrepio, tamanha a energia que eu emanava naquele momento, muito incrível isso!!!!
E foi assim, depois de uns 4 puxos bem fortes ela nasceu, às 4h35 do dia 20/06/06, eu só senti um”glupt” e ela saindo por baixo, toda roxinha, feia e linda!!! Ainda ouvi a Cris enfermeira dizendo que tinha uma circular de cordão, deram uma mexida (que eu senti) e pronto estava ela desenrolada, depois o Daniel me contou que foi uma “manobra” super rápida que a parteira fez com toda segurança e habilidade.
Foi cansativo, dolorido mas compensador, lógico!!! Ela veio logo pros meus braços mamar e ficou um tempão comigo, o Daniel cortou o cordão depois que parou de pulsar, a placenta nasceu e só bem depois ela foi para a sala ao lado, acompanhada do pai para medir, pesar, etc. Pesou 3, 265 kg e mediu 51cm., uma meninona!!! A princípio ela era super roxa depois ficou toda iluminada, de verdade!!! Uma bebê linda!!!
Foi muito legal, tudo!!! Ao final de tudo tivemos, eu, Daniel e Cris (doula), direito ao mingau da Marlene (parteira) para renovar nossas energias, me sentia em casa!!! Muito realizada e feliz.
Meu parto foi muito legal e, segundo as “entendidas”, rápido. Na hora parecia uma eternidade depois, parando pra pensar, até consegui achar rápido. Na Casa de Parto foram 3h (cheguei 1h30 e 4h30 ela nasceu), a fase ativa do trabalho de parto durou ao todo umas 6h no máximo, mas contando com o prodomus talvez tenha sido umas 24h total.
Tive um parto tranquilo, em nenhum momento pensei que não iria suportar e nem pensei em analgesia, deu pra segurar as dores, que são realmente fortes. Não tive nenhum tipo de intervenção, não tomei nenhuma droga. A bebê nasceu ótima, e também não teve nenhuma intervenção, NADA! Chorou muito na primeira noite mas só porque queria ficar comigo… no meu peito… fofa, meu pacotinho!!!!
No pós-parto imediato tive alguns incômodos que foram normais, mas nada que me desanimasse ou me fizesse repensar minha escolha pelo parto natural.
A Casa de Parto de Sapopemba nos acolheu muito bem, como estava sozinha, o Daniel pôde ficar comigo o tempo todo, só não dormiu… Me deram uma super orientação sobre amamentação, banho, cuidados, etc. Me sentia em casa com comidinha caseira, bolo de banana, chazinhos, torradas na madrugada tudo muito legal!!!!! Nota 1000!!!!!
Me sinto muito bem pelo parto e muito feliz que tenha dado tudo certo, a cumplicidade do Daniel foi primordial para que as coisas corressem bem. Eu me sinto muito mais forte como mãe e mulher e essa força veio do parto natural… o engraçado disso tudo, são as mulheres, mães, vindo perguntar como é essa “coisa” de parto, como são as dores… uma curiosidade estranha… como se isso fosse naturalmente para poucas e não para a maioria.
Que bom que tivemos essa oportunidade linda de ver nascer e participar ativamente do nascimento de nossa filha.
Temos sorte: eu , Daniel e Valentina.
*doula: acompanhante de parto
** prodomus: fase inicial do trabalho de parto com contrações desritmadas
*** quem quiser conhecer o GAMA acesse: http://www.maternidadeativa.com.br
A realidade brasileira com relação ao parto é muito cruel, somos campeões mundiais em cesáreas provando que a adoção desse “procedimento” por parte dos médicos foi banalizada. Os motivos para isso, são os mais variados, mas esbarram sempre na questão financeira e na falência do sistema público de saúde, dando possibilidade aos convênios ditarem regras absurdas e aos médicos se tornarem, principalmente no caso dos partos, tiranos ditadores de suas vontades e conveniências.
Foi levando esses e muitos outros fatores em consideração que nossa mente se esclareceu com relação ao parto. Eu queria ter um parto “normal”, mas queria também um acompanhamento diferenciado do que vemos e ouvimos por aí, diante dessa dura realidade brasileira. O fato é que encontramos! Através do GAMA, achamos uma médica que entendia o parto de forma natural, respeitando o momento como sendo da mulher, do casal e do bebê por nascer. Também através do GAMA, soubemos da existência das tais “Casas de Parto”, e logo eu e Daniel nos sentimos atraídos. Mas antes fomos conhecer as maternidades e depois de nos depararmos com uma realidade fria, vimos que realmente precisávamos de alternativas.
O parto domiciliar nos agrada, mas acredito que como pais de primeira viagem, isso pesou para não irmos fundo nessa opção, mas de qualquer forma aprendemos a entendê-la como uma das melhores opções para o nascimento. Daí fomos conhecer a Casa de Parto de Sapopemba num sábado pela manhã, e ficamos apaixonados. A partir deste dia ficou quase decidido que teríamos a bebê lá. O lugar é muito legal tem uma aura muito boa, saudável, pessoas muito capacitadas e profissionais atendendo e um cheiro de comidinha caseira que fica na memória! A decisão de ter nossa bebê na Casa de Parto foi um processo de amadurecimento de várias questões que nos foram apresentadas durante os 9 meses de espera.
Agora vamos aos fatos…
Dia18/06/06, domingo, final do feriado de Corpus Cristi. Pela manhã comecei a sentir algumas dores diferentes e avisei o Daniel que estava com contrações leves. Passei o dia todo assim. O Daniel insistia para eu ligar para a minha doula* e prof. de Yoga, a Cris, que estava comemorando seu aniversário de 40 anos num sítio… achei que podia esperar mais e só liguei à noite.
Contei sobre as contrações, etc e ela disse que eu poderia estar em prodomus** mas que tabém isso poderia ser um alarme falso e eu entrar em trabalho de parto só depois de alguns dias…
Ela também foi bem clara em me aconselhar a dormir o máximo que eu conseguisse e tentar relaxar, mesmo entre as contrações. Segui à risca os conselhos e naquela noite, mesmo com as contrações mais fortes, eu dormi o máximo possível, e era incrível como conseguia!!! Os intervalos eram de 10’ a 15’, mas dava para dormir!
Na segunda pela manhã, 19/06/06, as dores estavam mais intensas e os intervalos menores, de 5’ em 5’, 7’ em 7’, e o tampão*** saindo mais e mais… daí pra frente, controlar a respiração passou a ser fundamental (inspira, expira pela boca). Já me sentia uma “pata choca”, andava de um lado pro outro e percebi que ficar deitada era o pior dos mundos, as dores ficavam muito mais fortes!!!
Liguei denovo para Cris e contei a evolução do processo, ela então disse que achava que eu realmente estava em prodomus e denovo me aconselhou a dormir nos intervalos para poupar minhas energias. Também aconselhou o Daniel a ficar comigo pois a “coisa” poderia começar a pegar… Tomei um banho bem longo para relaxar, o que ajudou muito!
Eu estava muito tranquila e disposta a descansar mesmo, afinal o que mais eu poderia fazer. Daí desenvolvi uma técnica de ficar deitada nos intervalos e quando percebia que teria uma contração, levantava para não sentir tanta dor, isso era incrível – levantar rápido com aquela barriga!!!
Na parte da tarde as contrações dimunuiram a frequência e voltaram para 10 em 10’ (estranho…). Levantei e fiquei de um lado pro outro repetindo que precisava sair, que o espaço do “AP” estava muito pequeno… queria ir no parque caminhar.
A Cris ligou novamente e também me aconselhou a sair caso eu realmente estivesse disposta. Saímos e fomos caminhar, era engraçado estar no meio do parque de um lado pra outro, parando de 10 em 10’ para me apoiar e sentir as contrações… parecia que todo mundo estava percebendo o que se passava e que logo iriam dar um “presta atenção” no Daniel: “Cara, sua mulher tá parindo tira ela daqui!!!”
Mas eu continuava tranquila, sabia que o bebê estava começando a sair e que eu precisava ter calma e tranquilidade para que corresse tudo bem. Sempre me concentrava na respiração para buscar um certo alívio.
Quando voltamos para casa, com a chegada da noite (18h), a coisa apertou de verdade. Apesar do ritmo se manter igual, a dor ficou mais forte. Comecei procurar uma posição para suportar as contrações e descobri que se ficasse de 4 na cama ou de pé com as costas curvadas e apoiada em algo, ficava bem mais suportável… nessa fase, a mulher em geral parece um bicho procurando uma posição, um lugar, um “ninho”, alguma coisa que nem se sabe o quê!!!
Voltei pro quarto, quietinha, deitada no escuro e cochilando nos intervalos, mas ficando de 4 nas contrações…
Jantei, bebi muita água, mas sempre voltava pro escurinho do quarto. Nesse período o Daniel só monitorava o tempo e ficava por perto, vendo se tudo estava ok , ainda… a Cris também estava sendo informada, afinal acompanharia o parto. Nessas alturas ela já tinha dito que achava que o trabalho de parto iria engrenar na madrugada.
Mais ou menos às 23h, no meio de uma contração fortíssima a bolsa rompeu escorrendo um pouco de água. Corri pro banho, onde fiquei por quase 1h. Nesse meio tempo o Daniel ligou para a Cris que disse logo que se a bolsa tinha rompido durante uma contração, era por que o trabalho de parto já devia estar adiantado e que se eu quisesse poderíamos ir para a Casa de Parto, nos encontraríamos lá. Eu preferi que ela viesse em casa, achava que dava para ficar mais e também tinha receio de ir pra lá e ter que ficar muito tempo ainda... Eu estava muito tranquila apesar da dor, sabia que tinha um certo controle da situação e que podia ficar em casa mais tempo, não queria correr o risco de estranhar o ambiente, tinha noção que ficar em casa, o máximo possível, era o melhor a fazer.
Depois que a bolsa rompeu, a frequência das contrações aumentou para 3’ em 3’, a dor também aumentou e começou a sair sangue. Enquanto a Cris estava a caminho eu fiquei o tempo todo no chuveiro relaxando… como foi bom!!! Com a sua chegada, ficamos monitorando as contrações por mais ou menos 1h e quando decidimos ir para a Casa de Parto já era quase 1h da manhã.
O pior, de todo o processo foi o trajeto de casa até a Casa de Parto, não pelo tempo ou distância, mas pelo desconforto, parecia uma eternidade. As dores eram muito fortes e eu não tinha posição! Tentei várias coisas, a Cris até parou o carro durante uma contração para ver se melhorava… foi bem difícil!!!! Mas chegamos lá por volta da 1h30.
As enfermeiras, outra Cris e Marlene, nos receberam super bem e fomos verificar o andamento do trabalho fazendo um exame de toque e como foi horrivel!!! Me senti muito invadida! Mas tudo bem, fiquei também aliviada quando elas disseram que já estava com 7cm de dilatação!!! UAU!!!!!
Me senti encorajada com a “notícia”, mas sabia q estava entrando na fase mais difícil do trabalho – a transição – que seria a passagem dos 7cm para os 10cm.
Fomos então para a sala de parto onde recebi massagens, colocaram uma musiquinha para relaxar e as menina começaram a encher a banheira. O Daniel tava sempre do meu lado, super companheiro, segurando minha mão e me tocando quando lhe era possível.
A banheira foi abençoada, nela relaxei tanto que dormia de sonhar entre as contrações, dormia meeeesmo, ainda que somente 3 ou 4 minutinhos, mas dormia! Foi uma fase muito interessante, eu ali na banheira a Cris acariciando minha cabeça, o Daniel me dando a mão, me acariciando (ele tirou varias fotos nessa hora! Muito lindas!!!!), as meninas, parteiras, perguntando se eu queira alguma coisa, um silêncio quase absoluto, penumbra… todo mundo me assistindo, de alguma forma “me servindo”, tudo dependia de mim! Ali fiquei assim, em transe, por pelo menos 2h relaxando mas sentindo as contrações (lógico!), até q alguma coisa me disse “Priscilla, vc precisa acordar e voltar ao trabalho senão nada vai acontecer.” Abri os olhos, me ajeitei e as enfermeiras perguntaram se eu não estava sentindo vontade de fazer força, eu disse que achava que não… então a Cris (doula) pegou um ponto na minha mão, apertou e foi automática a “resposta”, veio uma contração com a força total… CARACA!!! Foi tão forte que minha vontade era dar um soco na cara dela(rs…), o Daniel tentou fazer o mesmo mas não funcionou, então ela mesma repetiu o toque nesse ponto mais umas 2 vezes no máximo e aí a coisa engrenou. Foi quando a Cris enfermeira fez outro exame de toque e constatou os 10cm, elas me orientaram a começar a achar uma posição para eu ficar pro bebê nascer.
Aí foi difícil, pois eu não queria me mover, tentei cócoras mas não fiquei confortavel. Elas disseram que eu poderia ficar na banheira mas teriam que completar a água para o bebê nascer ali… AH NÃO! Não dava para ter o discernimento de esperar para completar a banheira, o “bicho tava pegando” e tinha que desovar a “jaca entalada”, não dava para ser muito romântica naquela hora nem para pensar muito, ali eu era totalmente bicho! Como constatou o Daniel, naquele momento eu entrei na “partolândia”!!! Com muito esforço, sai da banheira e fomos para o quarto, subi na cama, mas juro que queria alguém me dizendo o que fazer, quando na verdade elas queriam que EU dissesse o que queria fazer… Eu não queria nada, queria que o bebê nascesse, doia muuuuiiito!!! Os puxos estavam super fortes e então eu lembrei da posição de 4 que me ajudava em casa durante as contrações. Fiz o mesmo ali, e instintivamente levantei uma das pernas abrindo para o lado, aumentando assim a abertura, senti que elas passaram um óleo na região do períneo para evitar a laceração.
Nessa hora eu já não estava mais lá. Sentia os puxos fortes e queria urlar, mas as meninas pediam para que eu canalizasse a força só lá em baixo sem despediçar com a voz… eu tentava e realmente fazia uma certa diferença, eu sentia uma coisa “entalada” que me dava um certo desespero, até que num dado momento perguntei o que tinha lá em baixo e as meninas responderam ironicas: “o que você acha??? É a Valentina!!! Capricha na força que ela tá saindo!” (rs…)
Já faltava pouco, o Daniel se aproximou para fazer uma carícia e quando me tocou disse que sentiu um choque e um arrepio, tamanha a energia que eu emanava naquele momento, muito incrível isso!!!!
E foi assim, depois de uns 4 puxos bem fortes ela nasceu, às 4h35 do dia 20/06/06, eu só senti um”glupt” e ela saindo por baixo, toda roxinha, feia e linda!!! Ainda ouvi a Cris enfermeira dizendo que tinha uma circular de cordão, deram uma mexida (que eu senti) e pronto estava ela desenrolada, depois o Daniel me contou que foi uma “manobra” super rápida que a parteira fez com toda segurança e habilidade.
Foi cansativo, dolorido mas compensador, lógico!!! Ela veio logo pros meus braços mamar e ficou um tempão comigo, o Daniel cortou o cordão depois que parou de pulsar, a placenta nasceu e só bem depois ela foi para a sala ao lado, acompanhada do pai para medir, pesar, etc. Pesou 3, 265 kg e mediu 51cm., uma meninona!!! A princípio ela era super roxa depois ficou toda iluminada, de verdade!!! Uma bebê linda!!!
Foi muito legal, tudo!!! Ao final de tudo tivemos, eu, Daniel e Cris (doula), direito ao mingau da Marlene (parteira) para renovar nossas energias, me sentia em casa!!! Muito realizada e feliz.
Meu parto foi muito legal e, segundo as “entendidas”, rápido. Na hora parecia uma eternidade depois, parando pra pensar, até consegui achar rápido. Na Casa de Parto foram 3h (cheguei 1h30 e 4h30 ela nasceu), a fase ativa do trabalho de parto durou ao todo umas 6h no máximo, mas contando com o prodomus talvez tenha sido umas 24h total.
Tive um parto tranquilo, em nenhum momento pensei que não iria suportar e nem pensei em analgesia, deu pra segurar as dores, que são realmente fortes. Não tive nenhum tipo de intervenção, não tomei nenhuma droga. A bebê nasceu ótima, e também não teve nenhuma intervenção, NADA! Chorou muito na primeira noite mas só porque queria ficar comigo… no meu peito… fofa, meu pacotinho!!!!
No pós-parto imediato tive alguns incômodos que foram normais, mas nada que me desanimasse ou me fizesse repensar minha escolha pelo parto natural.
A Casa de Parto de Sapopemba nos acolheu muito bem, como estava sozinha, o Daniel pôde ficar comigo o tempo todo, só não dormiu… Me deram uma super orientação sobre amamentação, banho, cuidados, etc. Me sentia em casa com comidinha caseira, bolo de banana, chazinhos, torradas na madrugada tudo muito legal!!!!! Nota 1000!!!!!
Me sinto muito bem pelo parto e muito feliz que tenha dado tudo certo, a cumplicidade do Daniel foi primordial para que as coisas corressem bem. Eu me sinto muito mais forte como mãe e mulher e essa força veio do parto natural… o engraçado disso tudo, são as mulheres, mães, vindo perguntar como é essa “coisa” de parto, como são as dores… uma curiosidade estranha… como se isso fosse naturalmente para poucas e não para a maioria.
Que bom que tivemos essa oportunidade linda de ver nascer e participar ativamente do nascimento de nossa filha.
Temos sorte: eu , Daniel e Valentina.
*doula: acompanhante de parto
** prodomus: fase inicial do trabalho de parto com contrações desritmadas
*** quem quiser conhecer o GAMA acesse: http://www.maternidadeativa.com.br
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