17 abril 2007

Sobre Mãe e Filha


Hoje eu escrevo para você, minha filha, Valentina, com 9 meses e 27 dias, que está sapeca, serelepe, risonha como sempre, simpática, vivaz, “falante”, linda!

Ontem e hoje você foi pela primeira vez na escolinha, ou melhor, no berçário, fizemos essa opção pois a mamãe vai começar a trabalhar, depois de ter conseguido ficar um tempão se dedicando quase que exclusivamente à você.
Esse período que passamos juntinhas foi maravilhoso, não posso em nenhum momento me arrepender de tê-lo passado assim tão próxima de você, tendo acompanhado cada pequeno novo movimento que você fazia, ou aprendia, cada sonzinho emitido, cada gestozinho singelo. Ter partecipado da sua vidinha, assim tão intensamente, me fez te conhecer um tantão assim de enorme!
Como foi lindo ver o primeiro sorriso, a primeira palminha, a primeira engatinhada, a primeira sentada, a primeira levantada… e tantas outras estripulias lindas.

Realmente nada disso tem preço, fica sempre a certeza de que cada centavo que deixei de ganhar não trabalhando, desde que a barriga começou a crescer com você lá dentro, até hoje, valeu mais que um milhão, só por ter podido te acompanhar… foi e é muito bom estar com você, cuidar de você.

Mas agora, a mamãe, como ser pensante, mulher e cheia de siricuticos, precisa de mais tempo para voltar a trabalhar, não porque se encheu de você, mas porque gosta de fazer muitas coisas, inclusive cuidar de você. Nos últimos tempos tenho precisado pensar em mais coisas e tenho tido vontade de sair para fazer outras coisas legais, para ter muito mais para te ensinar e para te contar, sempre!

Geralmente a gente trabalha para ganhar dinheiro, e “com certeza” eu vou ganhar dinheiro no trabalho, mas isso não é o que mais conta, afinal nem vou ganhar tanto dinheiro assim… mas preciso trabalhar por uma necessidade maior do que a de ganhar dinheiro e um dia você vai entender o que significa isso.
De qualquer forma, também acho que eu e você precisamos saber como é o mundo lá fora, longe um pouquinho uma da outra afinal, naturalmente, não passaremos a vida toda juntinhas assim, então é bom para as duas acostumar com o mundo lá fora…

Mas sei que você vai tirar de letra tudo isso, a escolinha é bem legal, cheia de criancinhas e bebês como você, e todos podem aprender um com o outro, brincar e ter outro tipo de contato. Hoje fiquei muito orgulhosa de você e de sua independência, talvez ainda seja cedo para tirar essas conclusões, mas mesmo assim, arrisco dizer que sempre achei que você não sentiria traumaticamente essa nossa “primeira distância”, acho que sempre te mandei uma “VIBE” positiva de curtir o mundo e as pessoas que vivem nele… e isso começa com você interagindo como bebê, indo nos colinhos, sorrindo para as pessoas, querendo se comunicar, para num futuro, evoluir para as relações de amizade e o desbravamento do mundo em si.

Que bom, filha, que você é assim tão feliz, e tão atenta e vibrante ao que acontece à sua volta, você só tem a ganhar sendo assim, mantendo esse seu olhão aberto sobre as coisas e percebendo cada movimento…

Se eu tivesse que te descrever agora eu diria que você é assim, um bebê muito feliz por ser amada, por ser livre e natural, espalhafatosa, gritona, com pernas velozes, mãos super ágeis e com dois olhos enooormes na vida desde o primeiro instante que nasceu… assim minha Linda Flôr de Junho.

Com muito amor:
Mamãe Pri-Pri

13 abril 2007

Desenvolvimento com Liberdade


Nos útlimos tempos tenho me dedicado à descoberta de coisas novas, principalmente aquelas que podem me proporcionar prazer e algum tipo de nova oportunidade profissional. Não sei se vou conseguir, mas tenho tentado alçar voôs para os campos do desenvolvimento social sustentável, que também pode ser chamado de “terceiro setor”, nome que não me agrada pois não se explica. Nessa busca, antiga de afinidade mas recente de fato, conheci algumas pessoas que atuam na area há tempos, outras que querem atuar como eu, outras ainda que a estudam, que auxiliam esse setor, enfim, de tudo. Nesse meio encontra-se desde os mais deslumbrados até os mais cabeçudos, que estudam atuando e que portanto tem conhecimento de causa e paixão.

Não acho que atuar em desenvolvimento social seja o filão da vez, mas sim a necessidade da vez. Pessoalmente, acredito nas obrigações do Estado e luto pelo fortalecimento e cumprimento de seus deveres como educação, cultura, saúde, segurança, bem estar, etc, mas também acho que não podemos simplesmente ficar esperando, acho sim que podemos fazer nossa parte de alguma forma, ainda que seja mínima, mas que represente a diferença, a ruptura, a mudança de atitude perante o mundo e como ele se nos apresenta.
Isso vai desde a coleta seletiva de lixo, boicote a marcas, consumo consciente, respeito ao meio ambiente, até mudanças de hábitos alimentares, qualidade de vida, renúncia ao “trabalho escravo remunerado” em favor do prazer, ajudar o próximo, enfim… um mar de coisas.

Sei também que neste meio de “boa vontade”, tem muita gente picareta, muita entidade que não faz nada, muita gente que enriquece, então é importante estar atento aos verdadeiros bons exemplos, aqueles que são despretenciosos e não pregam a verdade absoluta do “bem contra o mal”, pois o problema não é exatamente essa dicotomia.

O que me inspira a escrever hoje é alguém que nem mesmo conheço, mas passei a admirar, e que nos últimos tempos foi recorrentemente citada por pessoas diferentes, durante essa minha busca por fazer algo que pessoalmente me faça mais sentido.
Falo de um economista, indiano, chamado Amartya Sen. Arrisco dizer que no último mês, ouvi falar mais do Sr. Amartya Sen do que do próprio Bush… o que pode ter alguns significados, mas o melhor deles é que acredito estar frequentando as pessoas e os lugares certos, dentro do meu ponto de vista, claro.

Este importante professor, ganhou o prêmio Nobel de economia em 1998, por sua contribuição aplicando à economia uma visão social, e por incluir a ética no debate sobre problemas econômicos.

Trata-se de uma pessoa com uma mente especial, se dedica a estudar, entre muitas outras coisas, a questão das liberdades x oportunidades na formação do indivíduo como cidadão e a explicar que a “pobreza” está diretamente ligada à isso, a não conseguir ser livre o suficiente para conseguir atingir seus objetivos pessoais para se desenvolver, levando em conta o meio e as condições nas quais este indivíduo vive.

Daí a tamanha importância do desenvolvimento social dos Estados, a fim de que as condições macro sejam favoráveis ao ser humano para sua realização enquanto cidadão. Portanto, se economicamente o indivíduo é privado de buscar o seu desenvolvimento, através da educação, cultura, saúde, trabalho, teremos a probreza … nada além daquilo que vemos todos os dias quando saímos de nossas casas no Brasil.

É importante refletir a respeito do que propõe o “Sr. Sen”, associando diversos fatores que nos são tão familiares, já que vivemos em um país em desenvolvimento. Não por acaso ele se pôs a pensar sobre toda essa “encrenca”, a Índia também sofre as mazelas sociais da desigualdade, da fome, das privações, nada mais natural do que o olhar vir de casa.

O que me espanta é que em um mundo onde o progresso material caminha de forma galopante, o mesmo não acontece com a sociedade, que regride violentamente, com indivíduos cada vez mais privados de suas liberdades básicas. Já os poucos indivíduos que detém o poder de o dinheiro, se voltam cada vez mais para seus interesses particulares, sem pensar de forma mais abrangente, sem perceber que o mundo, da forma como está não se sustenta – precisamos do famoso desenvolvimento sustentável, transformar o vício em virtude em todo esse círculo.
O Sr. Sen propõe que se houver ética e moral, se o homem agir guiado por seus valores, talvez haja a possibilidade de mudança no paradigma atual tanto no cenário econômico quanto no social. Talvez seja possível começar a dividir o bolo para que sobre alguma coisa para quem nunca teve nem uma migalha… talvez assim a gente consiga vislumbrar o desenvolvimento dos países pobres formando neles cidadãos com dignidade e liberdade de escolha.

Bom pensar que mesmo a miséria, gera mentes brilhantes no exercício de saná-la. Acabei de falar da minha recente descoberta, o Sr. Amartya Sen, mas também temos um outro bom exemplo, vindo da própria Índia e igualmente um Nobel, porém da Paz, em 2006, atribuído a Muhammad Yunus e ao Banco Grameen, pelos esforços em assistência ao desenvolvimento, através de um modelo de microcrédito que possibilitou a milhões de pessoas, em sua maioria mulheres, de sair da pobreza. Melhorar as condições de vida também significa promover a paz.

No momento me sinto como se estivesse em Porto Alegre, nos Fóruns Sociais Mundiais que tive a oportunidade de participar, tendo contato com todo esse discurso, que muitos podem achar utópico, mas que sem dúvida gera a reflexão. É bom estar em volta de gente que pensa, que reflete, que lê e que faz alguma coisa para além do próprio umbigo. Gente inteligente, que acrescenta, que discute, que propõe.

Convido os leitores à reflexão, a buscar novos argumentos, a pensar que “Um Mundo Melhor é Possível”, nenhuma mudança vem de uma hora para outra, primeiro é preciso o caos para então se chegar à solução ou à alternativa, portanto o processo é realmente lento e não podemos deixar de acreditar e de fazer a nossa parte.


Livros de Amartya Sen em português:

Sobre Ética e Economia
CIA DAS LETRAS

Desenvolvimento Como Liberdade
CIA DAS LETRAS

Desigualdade Reexaminada
Ed. Record

E muitos outros em inglês.

05 abril 2007

A internacionalização do genocídio



Abaixo um artigo de que recebi e que faço questão de socializar no blog. Imperdível!

A internacionalização do genocídio
FIDEL CASTRO
no "GRANMA"


Acaba de ser encerrada a reunião de Camp David. Todos ouvimos com interesse a entrevista coletiva concedida pelos presidente dos Estados Unidos e do Brasil, bem como acompanhamos as notícias e opiniões sobre a reunião.

Diante das demandas de seu visitante brasileiros quanto às tarifas alfandegárias e subsídios que apóiam e protegem a produção norte-americana de etanol, Bush não fez a menor concessão, em Camp David.

O presidente Lula atribuiu a esse fator a alta de preços do milho, cereal que segundo ele teve aumento de mais de 85%.

Antes disso, o jornal "Washington Post" publicou um artigo do líder brasileiro no qual ele expunha a idéia de converter alimentos em combustível.

Não é minha intenção lastimar pelo Brasil, ou me imiscuir em assuntos relacionados à política interna daquele grande país. Foi exatamente no Rio de Janeiro, sede da conferência mundial do meio ambiente realizada há 15 anos, que denunciei com veemência, em discurso de sete minutos, os perigos ambientais que ameaçavam a sobrevivência de nossa espécie.

Naquela reunião, esteve presente George Bush pai, então presidente dos Estados Unidos, e ele demonstrou cortesia ao aplaudir minhas palavras, como todos os demais presidentes.

Nenhum dos presentes ao encontro de Camp David respondeu à pergunta fundamental: de que origem serão obtidas as 500 milhões de toneladas de milho e outros cereais que os Estados Unidos, a Europa e outros países ricos precisariam para produzir a quantidade de etanol que as grandes empresas norte-americanas e de outros países exigem como contraparte de seus dispendiosos investimento? Quem vai produzir a soja, a semente de girassol e a colza, cujos óleos serão convertidos por esses mesmos países ricos em combustíveis?

Diversos países produzem e exportam seus excedentes de alimentos. O equilíbrio entre exportadores e consumidores já é tenso, o que gera disparada nos preços de alguns produtos. Em benefício da brevidade, não me resta alternativa a não ser me limitar a destacar o seguinte:

Os cinco principais produtores do milho, cevada, sorgo, centeio e aveia que Bush deseja converter em matéria-prima de produção do etanol entregam anualmente 679 milhões de toneladas desses produtos ao mercado mundial, de acordo com os dados mais recentes. Por sua vez, os cinco principais consumidores desses grãos, alguns dos quais também grandes produtores, necessitam no momento de 604 milhões de toneladas desses produtos ao ano. O excedente disponível se reduz a menos de 80 milhões de toneladas.

Esse colossal desvio de cereais para a produção de combustível, sem incluir as sementes oleaginosas, serviria para fornecer aos países ricos do mundo menos de 15% do que consomem anualmente os seus vorazes automóveis.

Bush declarou em Camp David sua intenção de aplicar esta fórmula em nível mundial, o que significa nada menos que a internacionalização do genocídio.

O presidente do Brasil, em mensagem oficial publicada pelo "Washington Post" antes do encontro de Camp David, afirmou que menos de 1% da terra cultivável brasileira está em uso para a produção de cana-de-açúcar e etanol. A área em questão é quase três vezes superior ao território empregado por Cuba para a produção de quase 10 milhões de toneladas de cana-de-açúcar ao ano, antes da crise da União Soviética e das alterações climáticas.

Nosso país tem longa experiência na produção e exportação de açúcar, primeiro como base de trabalho para os escravos, que chegaram a atingir o número de mais de 300 mil nos primeiros anos do século 19 e fizeram da então colônia espanhola o maior exportador do mundo. Quase 100 anos mais tarde, no começo do século 20, na república então recentemente criada cuja independência plena frustrou a intervenção norte-americana, apenas imigrantes antilhanos e cubanos analfabetos arcavam com o fardo de cultivo e colheita da cana. A tragédia do nosso povo era o chamado tempo morto, causado pelo caráter cíclico dessa cultura.

As terras produtoras de cana-de-açúcar eram propriedades de empresas norte-americanas ou de grandes latifundiários cubanos. Por isso, acumulamos mais experiência que ninguém sobre os efeitos sociais dessa cultura.

No dia 1 de abril, a rede de TV CNN divulgou a opinião de especialistas brasileiros segundo os quais muitas das terras dedicadas ao cultivo da cana haviam sido adquiridas por norte-americanos e europeus ricos.

Em minhas reflexões publicadas em 29 de março, expliquei os efeitos das alterações climáticas sobre Cuba, aos quais devem ser acrescentadas outras características tradicionais de nosso clima.

Em nossa ilha, pobre e distante do consumismo, não haveria nem mesmo pessoal suficiente para suportar os rigores do cultivo ou manutenção dos canaviais em meio ao calor, às chuvas ou às secas cada vez mais freqüentes. Quando os ciclones nos atingem, nem mesmo as mais perfeitas máquinas são capazes de realizar a colheita dos talos de cana retorcidos, inclinados. Durante séculos, não eram usadas queimadas, e o solo não era compactado ao peso de complexas máquinas e enormes caminhões; os fertilizantes nitrogenados, fosfóricos e potássicos, hoje altamente dispendiosos, nem mesmo existiam, e os meses quentes e úmidos se alternavam regularmente. Na agricultura moderna, não existe possibilidade de rendimento elevado sem rotação regular de culturas.

A agência France Presse (AFP) veiculou no domingo informações preocupantes sobre as alterações climáticas, vistas pelos especialistas do grupo formado sob os auspícios da ONU como inevitáveis, e que responderão por graves conseqüências nas próximas décadas.

"As alterações climáticas afetarão o continente americano de maneira importante, ao gerar mais tormentas violentas e ondas da calor, as quais causarão secas na América Latina, com extinção de espécies, e também fome", de acordo com o relatório da ONU, cuja aprovação deve ser votada em Bruxelas na semana que vem.

"Ao final do século em curso, cada hemisfério sofrerá problemas de água e, se os governos não tomarem medidas urgentes, o aumento de temperatura pode elevar os ricos de mortalidade, contaminação, catástrofes naturais e enfermidades infecciosas, adverte o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC)".

"Na América Latina, o aquecimento está derretendo as geleiras dos Andes e ameaça a selva amazônica, cujas regiões periféricas podem se converter em savanas", de acordo com o artigo da AFP.

"Devido à elevada proporção dos habitantes que vivem na proximidade das costas, os Estados Unidos também estarão expostos a fenômenos naturais extremos, como demonstrou o furacão Katrina em 2005".

"Este é o segundo de uma série de três relatórios do IPCC, divulgado em fevereiro passado e contendo o primeiro diagnóstico científico que estabeleceu as alterações climáticas como certeza".

"Neste segundo estudo, de 1,4 mil páginas, no qual as alterações são analisadas por setor e região e do qual a AFP obteve uma cópia, a conclusão é de que, ainda que se tomem medidas radicais para reduzir as emissões de dióxido de carbono na atmosfera, o aumento de temperaturas em todo o planeta está confirmado", conclui o texto da agência francesa de notícias.

Como era de esperar, Dan Fisk, assessor de segurança nacional do governo norte-americano para assuntos da região, declarou no dia da reunião de Camp David que "na discussão dos assuntos regionais, Cuba seria um deles, e não exatamente para abordar o etanol sobre o qual o presidente convalescente Fidel Castro escreveu um artigo, mas sim para discutir a fome que se abate sobre o povo cubano".

Dada a necessidade de responder a esse cavalheiro, cabe-me o dever de lembrá-lo de que o índice de mortalidade infantil em Cuba é inferior ao dos Estados Unidos. Ele pode estar seguro de que não existe cidadão algum sem assistência médica gratuita. Todos estudam, e a ninguém falta oferta de emprego útil, apesar do meio século de bloqueio econômico e da intenção dos governos norte-americanos de forçar a rendição do povo cubano por meio da fome e da asfixia econômica.

A China jamais empregaria nem apenas uma tonelada de cereais para produzir etanol. Trata-se de um país de economia próspera, que bate recordes de crescimento e no qual cidadão nenhum deixa de receber a renda necessária para os bens essenciais de consumo, ainda que 48% de seu 1,3 bilhão de habitantes trabalhem na agricultura. Pelo contrário: há uma proposta para promover economia de energia por meio do fechamento de milhares de fábricas que consomem volumes inaceitáveis de eletricidade e combustíveis. Muitos dos alimentos mencionados são importados pelos chineses das regiões mais distantes do mundo, transportados por milhares de quilômetros.

Dezenas e dezenas de países não produzem combustíveis fósseis e não têm condições de produzir milho e outros grãos ou sementes oleaginosas, porque não dispõem nem mesmo da água necessária a atender suas necessidades mais fundamentais.

Em uma reunião convocada em Buenos Aires pela Câmara da Indústria do Azeite e pelo Centro de Exportadores, sobre a produção do etanol, o holandês Loek Boonekamp, diretor de mercados e comércio agrícola da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), declarou à imprensa que "os governos se entusiasmaram muito, mas deveriam estudar com frieza se é mesmo interessante apoiar de forma tão robusta o etanol".

"A produção de etanol só é viável nos Estados Unidos; em mais nenhum país, a não ser que sejam concedidos subsídios", ele afirmou. "Não se trata de um maná dos céus e não devemos nos comprometer cegamente".

Hoje, os países desenvolvidos defendem a idéia de misturar biocombustíveis e combustíveis fósseis à razão de 5%, e isso já pressiona os preços agrícolas. Se a proporção de mistura se elevasse a 10%, 30% da superfície arável dos Estados Unidos e 50% da superfície arável européias seriam necessárias. É por isso que pergunto se isso é sustentável. O aumento da demanda pelo cultivo de etanol produzirá preços mais altos e instáveis.

O protecionismo norte-americano hoje representa tarifa de US$ 0,14 por litro, e os subsídios reais atingem montantes muito mais altos.

Aplicando a simples aritmética que aprendemos na escola, pode-se comprovar que a simples substituição das lâmpadas incandescentes por modelos fluorescentes, como afirmei em meu artigo anterior, representaria redução de investimentos e de consumo de recursos energéticos equivalente a bilhões de dólares, sem usar um só hectare de terra agrícola.
Enquanto isso, notícias de Washington afirmam textualmente o seguinte, de acordo com a agência de notícias AP:

"O misterioso desaparecimento de milhões de abelhas nos Estados Unidos está deixando os apicultores do país inquietos, e começa a causar preocupação no Congresso, que debaterá esta semana a situação crítica de um inseto essencial para o setor agrícola".

"Os primeiros sinais sérios desse enigma surgiram pouco depois do Natal, no Estado da Flórida, quando alguns apicultores descobriram que suas abelhas haviam desaparecido".

"Desde então, a síndrome que os especialistas designaram como síndrome do colapso de colônias (CCD, na sigla em inglês), reduziu em 25% os enxames do país".

"Perdemos mais de meio milhão de colônias, cada qual com população média de 50 mil abelhas", disse Daniel Weaver, presidente da Federação Norte-Americana de Apicultores, segundo o qual o problema atinge 30 dos 50 Estados do país. O aspecto mais curioso do fenômeno é que, em muitos casos, não foram encontrados restos mortais.

"Os laboriosos insetos polinizam plantações avaliadas em entre US$ 12 bilhões e US$ 14 bilhões, de acordo com um estudo da Universidade Cornell".

"Os cientistas aventaram toda espécie de hipótese, entre elas a de que algum pesticida tenha provocado danos neurológicos nas abelhas e alterado seu senso de orientação. Outros atribuem a culpa à seca, ou às ondas emitidas por celulares, mas o certo é que ninguém conhece a explicação científica exata".

O pior pode estar por vir: uma nova guerra para garantir o abastecimento de gás e petróleo que colocará a espécie humana à beira do holocausto total.

Há órgãos de imprensa russos que, invocando fontes nos serviços de informações, informam que a guerra contra o Irã vem sendo preparada em todos os detalhes há mais de três anos, desde o dia em que os Estados Unidos decidiram ocupar totalmente o Iraque, desencadeando uma interminável e odiosa guerra civil.

Enquanto isso, o governo norte-americano destina centenas de bilhões ao desenvolvimento de armas de tecnologia altamente sofisticada, como as que empregam sistemas microeletrônicos, ou novas armas nucleares que poderiam atingir seus objetivos uma hora depois de recebida a ordem.

Os Estados Unidos ignoram olimpicamente o fato de que a opinião mundial se opõe a toda espécie de arma nuclear.

Demolir até a última fábrica iraniana é tarefa técnica relativamente fácil para um poderio como o norte-americano. O difícil pode vir mais tarde, se surgir uma nova guerra contra a fé islâmica, que merece todo o nosso respeito, como as demais religiões dos povos do Oriente Próximo ou distante, anteriores ou posteriores ao cristianismo.

A detenção de soldados ingleses em águas territoriais do Irã parece provocação semelhante à dos chamados "Irmãos de Resgate", os quais, desafiando ordens do presidente Clinton, invadiam nossas águas territoriais; a ação defensiva de Cuba, absolutamente legítima, serviu de pretexto ao governo norte-americano para promulgar a famosa lei Helms-Burton, que viola a soberania de outros países. O uso intenso de publicidade nas mídias causou o esquecimento quanto àquele episódio. Não são poucos os que atribuem o preço de US$ 70 por barril que o petróleo atingiu na segunda-feira ao medo de um ataque ao Irã.
De onde os países pobres do Terceiro Mundo extrairão os recursos mínimos para sobreviver?

Não exagero nem uso palavras insensatas, me atenho aos fatos.

Como vocês podem ver, são muitas as faces obscuras do poliedro.

TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI

03 abril 2007

Clandestino?


Como uma viagem de férias pode se transformar num pesadelo? Para os mais otimistas, essa indagação pode parecer coisa de gente neurótica, mas não… essa é a realidade à qual estamos sujeitos ao inventar uma simples viagem de férias para o exterior.

Como esclarecimento aos ingênuos e leigos, quando digo “exterior”, me refiro aos ditos “países de primeiro mundo”.

Nós, pobres mortais sul-americanos, estamos mesmo condenados ao confinamento em nosso território. Se torna cada vez mais complicado querer sair da América Latina rumo aos tais “países de primeiro mundo” por inúmeros motivos: alto custo, falta de oportunidades, caos nos aeroportos brasileiros, ameaças de ataques terroristas, preconceito e consequentemente, rigidez nas políticas migratórias .

Cada vez mais, somos submetidos a situações humilhantes e vexatórias ao aportarmos em outro “país de primeiro mundo”, falo de nós “latinos”, mas não podemos esquecer outros povos igualmente discriminados como muçulmanos, asiáticos, africanos, mulheres, hossexuais e por aí vamos longe. Alguns podem se perguntar o porquê disso e talvez possamos enumerar algumas razões que podem parecer justificáveis:
- Combate ao emprego ilegal?
- Combate ao tráfico de drogas?
- Combate ao terrorismo?
- Controle demográfico?
- Evitar a mão de obra escrava?
- Evitar problemas de desemprego?
- Evitar epidemias?
- Preconceito religioso?
- Evitar a exploração sexual de mulheres e menores?
Nada disso justifica a forma como TODOS os considerados “suspeitos”, são tratados quando chegam num desses países, sendo julgados por critérios pouco transparentes e muitas vezes, culminando com uma deportação inexplicável e banal, sem direito a recurso!
A mentaliade não evita os problemas e fica clara a atitude de colocar a sujeira em baixo do tapete do outro e fazer vistas grossas para a responsabilidade mundial de toda essa miséria que assola todas as nações, independente de índices econômicos.

Falo tudo isso pois, na semana passada, minha irmã passou por uma situação complicadíssima ao chegar em Madri, de férias, para visitar o namorado que estuda em Bilbao, no país Vasco. Foram mais de 6 meses juntando dinheiro suado de trabalho, para tirar merecidas férias depois de 5 anos de faculdade, vivendo a pindaíba de grana, aproveitando seus primeiros “níqueis” faturados no mercado de trabalho para passear e matar a saudade apertada do namorado. Tudo friamente calculado para dar certo: passagem aérea pesquisadíssima, quantidade de dinheiro, seguro saúde, mochila nova, contatos de amigos para hospedagem, expectativa, uma grande festa!

Saiu de S. Paulo na terça às 7h20, indo por Buenos Aires (a passagem da “Aerolineas” era mais barata), para chegar em Madri às 7h da quarta-feira. Tudo certo… Mas quando chegou lá, ela e TODOS os demais passageiros da aeronave(argentinos, brasileiros, peruanos, bolivianos, etc), foram barrados pela migração… TODOS!!! Ficaram presos na “salinha” sem poder se comunicar com ninguém ou sequer se alimentar, por mais de 7h! Após as tais 7h de espera inútil e de desespero de todos os que os esperavam lá e aqui, foram liberados sem nenhuma explicação. Detalhe: no caso da minha irmã, sua mala ainda foi extraviada aparecendo somente no dia seguinte…

Depois de tudo isso, temos ainda que proferir a infeliz frase: “- Ainda bem que ela não foi deportada…” . Ainda bem o quê??? Isso tudo foi uma falta de respeito, abuso, preconceito, tudo!
Será que algum leitor ainda vai tentar justificar alguma coisa?

A todo instante somos subjulgados pelos que possuem o poder, seja em nosso próprio país seja fora dele. Portamos a tarja de estrangeiros “non gratos” porque somos de uma região explorada por colonizadores estúpidos que nos deixaram como legado, nada mais do que a pobreza econômica e social perante o mundo. Para eles, nossas riquezas são todas exploráveis e mal aproveitadas e não vão além dos recursos naturais. Já nos sugaram pelo ouro, pela prata, pelo açúcar, pelo café, pela cocaína, nos sugam pela biodiversidade e talvez, num futuro próximo, nos matem pela água.

Nossa diversidade cultural é inexistente aos olhos desses infelizes estrangeiros em nossa terra. O samba, o carnaval, o futebol, o café e a cerveja talvez seja o máximo que eles consigam absorver… somos massacrados pela globalização predatória que nos empurra suas modas e cultura de massa, fazendo com que nossas crianças também não enxerguem seu próprio jardim.
Os franceses, os italianos, os espanhóis, os americanos e alemães, continuam vindo aqui para abrir pousadas em nosso litoral, as grandes redes mundiais de hotéis também chegam de forma galopante e pregam a ilusão do preço baixo, quando o serviço é de "quinta" e o acesso é destinado aos próprios, já que são eles mesmos que possuem a moeda forte. Com isso o setor, uma vez formado por grupos nacionais, famílias locais, são engolidos pelos gigantes porque não acompanharam as “tendências globais de mercado”.
Da mesma forma os Carrefours, Extras, Bigs, Sam’s, Wall Marts, etc, acabam com os mercadinhos tradicionais dos bairros, pois seus preços “são imbatíveis”, dão até de graça! A Telefônica chega sucateando nossa telefonia e se apodera de todos os demais serviços de telecomunicações e tecnologia com o discurso, cara-de-pau, de que não monopoliza nada… Sim, eles estão certos, “Pizarro” não comandou nenhum ato de genocídio na América Latina.
“There’s no free lunch at all, my friends!”

A história da América Latina, carrega essas e muitas outras marcas, a massa dificilmente se lembra disso até porque nem teve acesso a essas informações e provavelmente não saberia assimilar nada disso. Dura realidade…

Continuaremos pois, sendo barrados em aeroportos do primeiro mundo, tolhidos de nossa liberdade de ir e vir, de conhecer culturas diferentes, de ver a arte da diversidade, a arte dos grandes mestres, de migrar, de miscigenar?
E depois dessa triste constatação, manteremos nossa postura de “homem cordial”, definida por Sérgio Buarque de Holanda em “Raízes do Brasil”, continuaremos sendo hospitaleiros e generosos com os estrangeiros que aqui chegam, daremos presentes, levaremos para passear, estenderemos o tapete vermelho, afinal é essa ainda a única forma de sermos notados e reconhecidos.