"Alma"
É o nome do lugar onde se encontram esses pedaços perdidos de nós mesmos.
São partes do nosso corpo como as pernas, os braços, o coração.
Circulam em nosso sangue, estão misturadas com os nossos músculos.
Quando elas aparecem o corpo se comove, ri, chora...
Pra que serve elas?
Pra nada.
Não são ferramentas.
Não podem ser usadas.
São inúteis.
Elas aparecem por causa da saudade.
A alma é movida a saudade!
A alma não tem o menor interesse no futuro.
A saudade é uma coisa que fica andando pelo tempo passado à procura dos pedaços de nós mesmos que se perderam...
Rubem Alves
14 agosto 2007
02 agosto 2007
Em Memória
Dia 24 de julho de 1919, na cidade de Pariquera Açu, Vale do Ribeira, sul do estado de São Paulo, nasce o menino Thadeu,moreno de olhos verdes, filho de Eva Zelinski e Theodoro Sosnowski, imigrantes poloneses.
O pai, Theodoro Sowsnowski, era um homem muito culto, filho de aristocratas poloneses de Warsóvia e que tinha ido estudar nos EUA, pelo que parece o então jovem pouco estudou mas muito esbanjou e aproveitou a boêmia em terras norte-americanas . Uma vez iniciada a 1ª Guerra Mundial, Theodoro, foge dos EUA para a Am. do Sul, com medo da convocação à luta, vindo parar no Brasil, no Vale do Ribeira, onde se casa com Eva. Sobre a família de Eva, pouco se sabe...
Thadeu, era o terceiro filho, seria o do meio pois ainda viriam mais 2 meninas que formariam portanto essa grande família de 5 filhos, que pela ordem eram:
Casimiro, Maria, Thadeu, Joana e Eugênia Sosnowski.
O menino Thadeu, ficou lá no Vale do Ribeira mais ou menos até seus 5 anos de vida, quando a família decidiu vir para São Paulo, fugir da miséria daquela região, que até hoje é a mais pobre do estado.
A família foi até Iguape e lá pegaram um navio que os deixaria no porto e Santos, de onde subiram para a capital de trem.
Ao chegarem na capital, instalaram-se no “Bairro do Anastácio”, que era uma colônia de imigrantes do Leste Europeu, com famílias de Húngaros, Poloneses, Armênios, Tchecos, Russos, etc.
O menino Thadeu, tinha o hábito de ler histórias em quadrinhos de ficção científica do jornal de seu pai, que após terminar sua leitura, carinhosamente passava à vez ao menino curioso.
Esse é o começo da história de meu avô, “Seu” Thadeu, que viveu por 88 anos.
Meu vô dizia que lá no “Anastácio” ele morava numa “habitação coletiva”, vulgarmente conhecida como “cortiço” , a vida era muito dura, muito trabalho e pouco dinheiro. O pai, Theodoro, era alcoólatra e morreria muito cedo de cirrose, mas apesar das dificuldades, a família se manteve unida e lutando.
O jovem Thadeu vem a se tornar um craque no futebol com típicas pernas tortas, em seu tempo de jogador, faz muitas amizades que durariam a vida toda.
Reza a lenda, que também era boêmio e namorador, sempre galante, alinhado, de terno, chapéu, pele morena e grandes olhos verdes.
Eis que num dado momento conhece a “Dona” Mathilde e, aos 28 anos, em 1947, resolvem se casar. Daí começa a nossa família da forma como ela se configura hoje. Deste casamento nascem os filhos Darcio e Darcy, com apenas 15 meses de diferença. Desses filhos casados, nasceram os 6 netos e de 2 dos netos mais 2 bisnetos, sendo que de um casal nos tornamos quase 20 pessoas!
Eu sou a neta mais velha do “Seu” Thadeu, tenho 34 anos e fui criada muito próxima aos meus avós, os 4 sempre estiveram perto de mim e tenho imensas e deliciosas recordações de todos eles.
Me sinto realmente privilegiada por ter tido e ainda ter esse valioso contato.
Mas com meu avô Thadeu a coisa era diferente... ele foi e sempre será minha fonte de inspiração, meu herói maior, meu ídolo, minha referência de vida.
Um avô do qual eu guardo imagens míticas: o piadista, tomador de cerveja, cuidador das plantas, palmeirense, apreciador de boa música, amante da leitura, leitor de jornal, o negociante, o teimoso... tantas figuras numa só!
Emanava afeto pelos poros, minhas recordações são tantas mas as palavras não bastam para descrevê-las, pois são mais do que fatos, são imagens e emoções, são indescritíveis.
Quanto valeria um papo de 20 minutos falando do passado? Ou mesmo do presente? Nada que eu pudesse mensurar com números ou descrever com palavras... algo intangível que só poderia ser sentido com o olhar, o colorido dos rostos, o calor do tocar das mãos, o tom das palavras ditas, os movimentos do corpo...
Como descrever o sabor de uma laranjada feita por ele ou uma fruta descascada por ele? tudo muito além do paladar, totalmente afeto...
Como recusar um bolo ou uma garrafa de vinho ou groselha dados por ele? Em todas essas coisa há muito mais do que o que elas são, há um elemento emocional, uma disponibilidade para o dar que representa um conjunto complexo de afeições...
Poderia uma bisneta receber melhor presente de 1 ano do que uma maravilhosa salada de frutas feita pelas mãos do bisavô orgulhoso? Qual seria então o valor “calórico” daquelas frutas? Quanto não receberam as pessoas que dela comeram? A sábia energia de suas mãos, o calor de seu coração e toda a sua gentileza em preparar o alimento com todo carinho... o sabor ficou muito melhor, tenho certeza!
Os inúmeros saberes, que me foram transmitidos pelo meu avô, são riquezas pessoais de valor inestimável, são como tesouros que vou guardar para sempre e que vou procurar transmitir a outros, assim como ele fez, tentando deixar minhas marcas pessoais assim como ele me deixou as dele. Esses saberes, muitas vezes simples se tornam complexos diante da infinidade de valores afetivos que permeiam sua transmissão.
São esses mesmos valores que preenchiam nossas longas conversas, onde a atenção e o respeito pela opinião do outro sempre foram mantidos de forma muito tranqüila e natural, onde ambos, declaradamente, tirávamos lições e reflexões... eram durante essas conversas que eu me sentia cada vez mais apaixonada pelo meu avô, pela sua pessoa, pelo seu pensamento, pela sua sabedoria vivida e experimentada.
Jamais poderei esquecer momentos simples como um banho de mar em sua companhia em Mongaguá; uma fruta tirada do pé de seu quintal, uma visita ao museu da FAAP em sua companhia; as aulas de direção; o leite quente no copo de manhã me esperando quando ia muito cedo para o colégio ou o pão quente do lanche da tarde; todas as festas nas quais estivemos juntos; os inúmeros copos de caipirinha e cerveja; os jogos de vôlei no quintal da praia; as aulas de bicicleta; sua bela letra cursiva; as fantásticas brincadeiras no quintal; aquela bela máquina de escrever antiga da sua casa na qual eu brincava de ser gente grande; a música característica de um período da infância, quando eu ouvia Roberto Carlos e Julio Iglesias na sua casa; as farras de fanta-uva no bar vazio da Vila Souza; ele me balançando e cantando a “música-da-barata” em baixo do chapéu de sol na casa da praia; nossas cestas juntos e suas incríveis histórias para dormir; os lanches de misto-quente na chapa às sextas-feiras; seu conselho sobre viajar para o Egito; seu apoio para eu comprar meu primeiro carro; sua reação “bizarra” quando soube da minha gravidez; suas piadas; sua eterna corujisse com netos e pior ainda com bisnetos...
Todas essas recordações e muitas mais, estão aqui comigo, vivas na minha mente e em meu coração.
O corpo do Vô Thadeu se foi para sempre, mas tudo o que ele representa, criou, pensou, moldou continua presente na família.
O tangível e o intangível da morte formam um cruel paradoxo:
O que é o corpo sem o brilho do espírito? O que é o espírito sem o corpo que materializa suas ações? O que seria da vida se não houvessem as memórias? E por quê as memórias não se bastam sem as pessoas suas agentes?
Vô, quanto não daria para ter isso novamente... sua mão áspera e forte pegando na minha mão e passando todo o calor e as emoções sobre as quais escrevi, pegar na sua mão e sentir você pegando na minha... como isso era bom... como vou sentir saudades!
Com muito amor,
Sua neta mais velha.
26 junho 2007
O PRIMIERO ANIVERSARIO
A Valentina fez 1 aninho dia 20 de junho. Engraçado que os dias que precediam seu aniversário, funcionavam como uma contagem regressiva na minha memória enquanto lembrava cada detalhe do que tinha acontecido no ano passado, nos dias e nos momentos precedentes ao seu nascimento: o feriado de Corpus Christi, a Parada Gay, a vinda rotineira de minha amiga Mara a São Paulo...
Daí por diante eu entrei num flash back desvairado e nas 24h que antecederam seu 1 aninho, tentava reviver "aquelas" mesmas 24h do ano passado, bastava eu me dar conta do tempo que minha mente viajava para 2006.
O dia 20 foi um dia cheio, ela foi pro berçário mais tarde e saiu mais cedo, mas ainda que eu não tenha ficado o dia todo com ela, meu dia foi todo dela, todo dedicado a ela.
Minha mãe, na impossibilidade de fazer um bolo para ela, comprou um bolo em forma de casinha de chocolate, que mais parecia um brinquedinho de Valentina, claro que ela não comeu o bolo de chocolate super power, mas se divertiu e bateu palmas no parabéns.
Mas nesse dia, meu olhar para ela era totalmente contemplativo, eu olhava, olhava e não me cansava de olhar, apreciando a beleza e a vivacidade da criança. Nem parecia que o ano tinha passado... que ela já estava grandinha, cheia de graça e de novidades... tão diferente daquele bebê que quase não interagia com a gente, que só mamava, dormia, abria os olhos e fazia coco.
Quando me percebia pensando e a contemplando, parecia que a cada minuto meu amor se multiplicava e meu orgulho de ser a MÃE DELA se elevava à enésima potência...
A semana prosseguiu com os preparativos da festinha de comemoração, preparativos iniciados de fato há mais de um mês atrás, envolvendo muitas pessoas, todas dedicadas a alegria de ter nossa pequena e de comemorar esse fato.
Meu pai, o avô da Valen, grande pivô desses preparativos, foi o responsável por transformar em realidade o tema que idealizei, que era a Arca de Noé do Vinícius de Morais, grande poeta de minha infância, que me encantou em musicais dedicados à sua poesia que passavam na TV e que escolhi para ilustrar a festinha dela.
Ele fez um trabalho lindo, reproduzindo os bichos tal e qual os encartes do discos dos musicais, ficaram lindos! Além disso, conseguiu, com a ajuda de minha mãe-avó, também materializar a arca em si, construindo uma, quase em tamanho real! Minha idéia tomava forma pelas mãos do meu pai-avô. Mas ainda tinham muitos detalhes pipocando na minha mente, e com a ajuda de algumas outras mentes férteis a gente aprimorou as idéias, afinou e se preparou para executar.
Engraçado, que eu sei que a Valen nem vai se lembrar desse dia, mas eu queria muito que tudo ficasse lindo, simples e divertido. Queria criar um ambiente fantasioso para a festa, mas que espelhasse a forma e o colorido que ela deu em minha vida.
Ao mesmo tempo, sabia que de alguma forma meu desejo era grandioso, mas e por que não sê-lo? Oras, bolas, afinal é para minha filha, caramba!
Quantas vezes me matei no trabalho, realizando "eventos" para os outros, me esfolando para que tudo saisse perfeitamente bem, nos mínimos detalhes? Pois então, agora era pra gente, muuuuito mais prazeiroso!
Lógico que deu um trabalho enorme, fazer tudo, ir fundo nos detalhes, imaginar algo diferente do lugar comum, tentar ser original, mas valeu a pena, valeu o cansaço, o tempo gasto, a mobilização de tantas pessoas em prol de uma mesma doce causa.
A gente fez tudo com muito carinho, para ela e para as pessoas que queríamos que compartilhassem conosco aquele dia, aquela manhã, aquele sol que brilhava, aquelas músicas que tocavam e o mais importante, aquele sorrisinho meigo de sincero de nossa pequena.
Por muitas vezes durante a festa, me vieram lágrimas aos olhos por ver tão lindo aquele meu sonho de mãe-criança, por estar com ela e por ser eu e meu sonho para ela, sentia uma emoção imensa de poder estar ali daquela forma.
Comparando a realidade com o universo da minha imaginação, tenho para mim que tudo foi perfeito:
a luz pura e perfeita da manhã, como os sentimentos sinceros da nossa pequena; a Arca de Noé e seus bichos aos pares que garantiriam a espécie, com graça e amor, como nossa pequena garantirá a nossa; as cores e flores e simplicidade da chita, assim como é o amor de uma criança; a poesia que embala e descreve com maestria os sentimentos do homem para embalar e descrever nossos sonhos na festa; a companhia de todos queridos amigos e companheiros; a boa comida para celebrar; as crianças essenciais para brincar e abrilhantar e o nosso amor pela Valen para finalizar.
Obrigada a PachaMama por ter me dado a Valen, obrigada também aos demais fazedores de sonhos, como eu.
PS. talvez este texto tenha uma conotação meio egoísta, mas imagino que outras pessoas compartilhem ou tenham compartilhado os mesmos sentimentos que eu, porém não posso falar por elas...
Daí por diante eu entrei num flash back desvairado e nas 24h que antecederam seu 1 aninho, tentava reviver "aquelas" mesmas 24h do ano passado, bastava eu me dar conta do tempo que minha mente viajava para 2006.
O dia 20 foi um dia cheio, ela foi pro berçário mais tarde e saiu mais cedo, mas ainda que eu não tenha ficado o dia todo com ela, meu dia foi todo dela, todo dedicado a ela.
Minha mãe, na impossibilidade de fazer um bolo para ela, comprou um bolo em forma de casinha de chocolate, que mais parecia um brinquedinho de Valentina, claro que ela não comeu o bolo de chocolate super power, mas se divertiu e bateu palmas no parabéns.
Mas nesse dia, meu olhar para ela era totalmente contemplativo, eu olhava, olhava e não me cansava de olhar, apreciando a beleza e a vivacidade da criança. Nem parecia que o ano tinha passado... que ela já estava grandinha, cheia de graça e de novidades... tão diferente daquele bebê que quase não interagia com a gente, que só mamava, dormia, abria os olhos e fazia coco.
Quando me percebia pensando e a contemplando, parecia que a cada minuto meu amor se multiplicava e meu orgulho de ser a MÃE DELA se elevava à enésima potência...
A semana prosseguiu com os preparativos da festinha de comemoração, preparativos iniciados de fato há mais de um mês atrás, envolvendo muitas pessoas, todas dedicadas a alegria de ter nossa pequena e de comemorar esse fato.
Meu pai, o avô da Valen, grande pivô desses preparativos, foi o responsável por transformar em realidade o tema que idealizei, que era a Arca de Noé do Vinícius de Morais, grande poeta de minha infância, que me encantou em musicais dedicados à sua poesia que passavam na TV e que escolhi para ilustrar a festinha dela.
Ele fez um trabalho lindo, reproduzindo os bichos tal e qual os encartes do discos dos musicais, ficaram lindos! Além disso, conseguiu, com a ajuda de minha mãe-avó, também materializar a arca em si, construindo uma, quase em tamanho real! Minha idéia tomava forma pelas mãos do meu pai-avô. Mas ainda tinham muitos detalhes pipocando na minha mente, e com a ajuda de algumas outras mentes férteis a gente aprimorou as idéias, afinou e se preparou para executar.
Engraçado, que eu sei que a Valen nem vai se lembrar desse dia, mas eu queria muito que tudo ficasse lindo, simples e divertido. Queria criar um ambiente fantasioso para a festa, mas que espelhasse a forma e o colorido que ela deu em minha vida.
Ao mesmo tempo, sabia que de alguma forma meu desejo era grandioso, mas e por que não sê-lo? Oras, bolas, afinal é para minha filha, caramba!
Quantas vezes me matei no trabalho, realizando "eventos" para os outros, me esfolando para que tudo saisse perfeitamente bem, nos mínimos detalhes? Pois então, agora era pra gente, muuuuito mais prazeiroso!
Lógico que deu um trabalho enorme, fazer tudo, ir fundo nos detalhes, imaginar algo diferente do lugar comum, tentar ser original, mas valeu a pena, valeu o cansaço, o tempo gasto, a mobilização de tantas pessoas em prol de uma mesma doce causa.
A gente fez tudo com muito carinho, para ela e para as pessoas que queríamos que compartilhassem conosco aquele dia, aquela manhã, aquele sol que brilhava, aquelas músicas que tocavam e o mais importante, aquele sorrisinho meigo de sincero de nossa pequena.
Por muitas vezes durante a festa, me vieram lágrimas aos olhos por ver tão lindo aquele meu sonho de mãe-criança, por estar com ela e por ser eu e meu sonho para ela, sentia uma emoção imensa de poder estar ali daquela forma.
Comparando a realidade com o universo da minha imaginação, tenho para mim que tudo foi perfeito:
a luz pura e perfeita da manhã, como os sentimentos sinceros da nossa pequena; a Arca de Noé e seus bichos aos pares que garantiriam a espécie, com graça e amor, como nossa pequena garantirá a nossa; as cores e flores e simplicidade da chita, assim como é o amor de uma criança; a poesia que embala e descreve com maestria os sentimentos do homem para embalar e descrever nossos sonhos na festa; a companhia de todos queridos amigos e companheiros; a boa comida para celebrar; as crianças essenciais para brincar e abrilhantar e o nosso amor pela Valen para finalizar.
Obrigada a PachaMama por ter me dado a Valen, obrigada também aos demais fazedores de sonhos, como eu.
PS. talvez este texto tenha uma conotação meio egoísta, mas imagino que outras pessoas compartilhem ou tenham compartilhado os mesmos sentimentos que eu, porém não posso falar por elas...
12 junho 2007
O Meu Amor
Sendo menos ousada... remendo a homenagem abaixo e "uso" a poesia do grande Chico pra você... a sua cara!
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele inteira fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz
Homenagem de Dia dos Namorados
25 maio 2007
Mostra de Curtas de Animação no Amorim Lima
Você sabia que existe animação além da Disney e da TV?
Neste sábado, 26/05, as 14h, acontece uma mostra de curtas de animação, infantis, de todas as partes do mundo, organizada por mim e por outros colegas, lá no Amorim Lima.
Será o todo, 70min. de exibição, em DVD.
Quem quiser aparecer, levar uma criança, conhecer a escola, sintam-se convidados, é aberto e gratuito!
O Amorim fica na Rua Professor Vicente Peixoto, 50 - Butantã - Tel.: (11) 3726-1119
Abaixo segue a programação:
Mostra de Curtas de Animação para Crianças no AMORIM LIMA
Pai e Filha (Father and Daughter)
Dir. Michael Dudok de Wit
Holanda/2000
8min. 30seg.
Oscar de melhor Curta de Animação – 2001
Um pai dá adeus à sua filha pequena e vai embora. Ela espera seu retorno por dias, meses, anos...
AU BOUT DU MONDE
Dir. Konstantin Bronzit
França/ 1999 7 min. 45seg.
“No fim do Mundo”, pessoas comuns vivem em condições incomuns no alto de uma montanha..
Cão de Guarda (Guard Dog)
Dir. Bill Plympton
EUA/ 2004 5min. 30seg.
Um cão de guarda paranóico, acompanha seu dono em um passeio pelo parque, enquanto imagina os terríveis perigos que ele corre...
As Pedras (Das Rad)
Dir. Chris Stenner, Arvid Uibel e Heidi Wittlinger
Alemanha/ 2001 8min. 30seg.
Duas pedras companheiras, assistem a evolução da humanidade do alto de uma montanha.
O deus (The God)
Dir. Konstantin Bronzit
Russia/ 2003 4min. 20seg.
A estátua de uma divindade indu é incomodada por uma mosca da qual ela tenta se livrar.
Estranhos Invasores (Strange Invaders)
Dir. Cordell Barker
Canadá/ 2001 8min. 27seg.
Um engraçado casal é surpreendido pela chegada de um estranho bebê alienígena na família.
Atama Yama
Dir. Koji Yamamura
Japão/ 2002 10min.
Indicado ao Oscar de melhor curta de animação em 2003
Um homem careca, fica intrigado quando uma folha de planta cresce em sua cabeça.
Kutoja
Dir. Laura Neuvonen
Finlândia/ 2005 6min. 39seg.
Uma mulher tricota desesperadamente.
O Pistoleiro Sem Dedos
Dir. Daniel Araújo
Brasil/ 2001 1min.
O drama de um pistoleiro desprovido de dedos.
Zona Militar
Dir. Daniel Araújo
Brasil/ 2002 2min.
A difícil tarefa de descascar cebolas durante uma guerra...
24 maio 2007
Pela Preservação do Bem Estar do Homem
"Não há uma racionalidade no mundo, não há finalidade nele. Apenas existe um conjunto de interações. O mundo segue à deriva. À Terra não importa em nada que a vida se extinga, não seria o primeiro planeta a morrer. Insisto: a conservação não é pela Terra, não é pela biosfera, é por nós. A biodiversidade é importante para nosso bem-estar fisiológico, psíquico, estático. O grande dom dos seres humanos é que podemos criar tecnologia, mas, também, podemos detê-la, nos livrar das máquinas quando deixam de adequar-se ao que queremos; é uma questão de desejo."
Por Humberto Maturana - Ph.D. em Biologia (Harvard, 1958). Nasceu no Chile, estudou Medicina (Universidade do Chile) e depois Biologia na Inglaterra e Estados Unidos. Como biólogo, seu interesse se orienta para a compreensão do ser vivo e do funcionamento do sistema nervoso, e também para a extensão dessa compreensão ao âmbito social humano. É professor do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Chile. Prega a Biologia do Amar e do Conhecer para a formação humana.
22 maio 2007
Feliz Aniversário, Envelheço na Cidade!!!
Ontem, 22/05, completei 34 anos... Caramba!!! Ano que vem 35... o que será que isso significa????
Não sei... ano que vem descubro!
Para finalizar a reflexão sobre o "fazer aniversário", uso uma frase do grande amigo de Nelson Rodrigues, Otto Lara Resende (Bonitinha mais Ordinária):
"... a juventude tem cura, é só esperar..."
20 maio 2007
Sábado no Amorim Lima
Ontem, dia 19/05, logo pela manhã, tínhamos um importante compromisso: comparecer ao evento de entrega do prêmio "Salva de Prata", da câmara dos vereadores de São Paulo, para a EMEF Amorim Lima. O "Amorim", como é conhecido, é a escola onde eu colaboro com o projeto de cinema, já há 3 anos. A título de esclarecimento, esse prêmio é dado a trabalhos notáveis, reconhecidos por mérito nos mais diversos âmbitos, e este ano quem teve esse "reconhecimento", por parte da câmara de SP, foi o Amorim, por seu esplêndido trabalho pedagógico-cultural-inclusivo.
Ir até o Amorim participar de seus eventos é no mínimo uma injeção de ânimo, impossível sair de lá sem que suas energias e esperanças no amanhã tenham sido renovadas e como é de costume, me emocionei...
A escola tem um projeto pedagógico diferenciado, adotando o slogan da "escola sem paredes", onde as crianças trabalham sempre em grupos, dispostas em salões enormes e não seguem a proposição taylorista, nem o ultrapassado regime de "engolir" aulas. Alí, a participação do aluno é a alma do negócio e o professor exerce o papel de guia para os estudos, além de estimulador da pesquisa na geração do saber, mas sempre com o olhar multidisciplinar.
Os alunos não estudam por matéria e sim por roteiros temáticos, que englobam todas as disciplinas do currículo escolar, abordadas de forma interligada e o material didático é sim o mesmo usado nas demais escolas da rede municipal de ensino.
Além disso, a cultura popular é parte fundamental da grade da escola, desde muito antes da prefeitura instituir as oficinas de arte nas escolas do munícipio, o Amorim já tinha seus oficineiros voluntários, trabalhando no incremento do currículo escolar, através da cultura popular brasileira e das artes em geral, com um olhar rebuscado sobre o papel da cultura no ensino, como agente inclusivo e estimulante dos gostos, talentos e saberes. Foi nessa brecha que me encaixei e me engajei na escola, levando uma oficina de cinema para os adolescentes, assim como outros colegas que, como eu, levavam um pouco do seu melhor com música popular, brincadeiras, capoeira, teatro, dança, leitura, etc.
Mas a escola não vive somente do que existe lá dentro, vive muito a sua comunidade que é atuante e decisiva. Alí, as reuniões de conselho tem quorum garantido por professores, educadores, colaboradores, pais e alunos, engajados num mesmo proprósito e objetivo - buscar e ter uma educação de qualidade, acima de qualquer possível dificuldade.
A escola é feita de muitas pessoas, muitos corações e muitas mentes, e com certeza não basta a força de uma só para que algo de diferente aconteça, é necessário um trabalho coletivo forte e coerente. Entretanto, no caso do Amorim, tenho absoluta certeza que se a Ana Elisa, sua diretora, não fosse quem é, nem como é, a escola não seria assim. Ela é uma pessoa extremamente guerreira, visionária, disposta, uma apaixonada pela educação, é sem dúvida a mentora da escola, muito mais que uma diretora. Trabalha como o regente de uma orquestra, que está de olho em tudo e em todos, colocando as pessoas no mesmo tom, na mesma sintonia e ditando o ritmo. Ela detecta os diferentes talentos para trabalhá-los de forma isolada e tirando assim o máximo do melhor de cada um, de forma a nos fazer sentir pessoas melhores. Somos todos iguais, mas todos diferentes e cada um especial em seu papel, é assim que ela estimula alunos, professores, educadores, colaboradores, arte-educadores, funcionários, TODOS! A Ana é uma pessoa por quem tenho grande admiração e respeito.
Por tudo isso o Amorim nos recarrega, ali as festas são festas mesmo e como disse a Vereadora Soninha, que estava lá ontem na cerimônia, as festas juninas são juninas, as festas da cultura são da cultura, festa de natal é de natal e absolutamente tudo dentro da idéia de um cultura genuinamente BRASILEIRA, recebendo portanto o seu devido valor.
Foi lindo ontem, ver a moçadinha da capoeira se apresentar, dançando, sambando, tocando e cantando. Foi maravilhoso ver meninos e meninas, numa roda de brincadeiras, também se apresentando, cantando e brincando o Brasil, foi apoteótico o encerramento da solenidade, com um grupo de Maracatu, cujos integrantes percussionistas eram somente meninas de 10 a 14 anos, de arrepiar! Onde mais vemos isso???
O Amorim é hoje um exemplo de escola pública, com gestão autônoma, coletiva e participativa, algo a ser seguido, a ser espelhado, a ser incorporado. Um exemplo de educação pública cujos princípios de valorização humana tando do professor, aluno, educador e todos os demais, é trabalhada com equidade.
O Amorim é um lugar onde as diversidades são respeitadas e destacadas. Uma grande prova disso, foi a composição da mesa da solenidade, que era formada pelo atual Sec. da Educação (PSDB) e pela ex-secretária (PT) da gestão Marta, onde o discurso do atual secretário era exatamente o de exaltar o trabalho da escola e o incentivo recebido pela gestão do PT, ressaltando que "...num projeto de escola como esse não há política que possa interferir..." - é isso, o resultado deve ser soberano sempre!
Denovo, repito uma frase que tenho usado muito, referindo-me a fatos, coisas, pessoas, lugares que fazem a diferença e que nos enchem de esperança: Um Mundo melhor é possível!
Me sinto importante e privilegiada por, de alguma forma, fazer parte de tudo isso e por estar contribuindo para esse mundo melhor que nossos filhos vão poder desfrutar, ainda que não em sua plenitude, mas que mesmo em sua parcela, seja melhor.
Ainda eufórica com a recarga recebida ontem no Amorim, tenho esperança que o homem retome para si, algumas virtudes essenciais para a melhoria se seu espírito e consequente melhoria da humanidade - a gentileza e a dádiva - que no meu ver foram e são importantíssimas no processo de construção do Amorim: sem gentileza não existe a doação, e sem doação não há o que receber...
Quem quiser conhecer o site da escola está novinho em folha e o meu trabalho também está no site:
http://www.amorimlima.com.br
18 maio 2007
Pérola do Ministro "Gil"
Estou me divertindo muito com meu novo brinquedinho que ganhei de dia das mães: um IPod vídeo, muito fofo, e veio com um Cd para alimentá-lo, uma pérola da MPB, um disco do Gil com o Jorge Ben que se chama "Gil Jorge - Ogum Xangô", muito legal!!!
Para os que já conheciam, me perdoem a ignorância, mas antes tarde do que nunca!
Nesse disco descobri uma jóia rara, uma música muito, muito divertida do Gil, que se chama "Nega", de 1971, com letra em inglês. Cada vez que ouço morro de rir! Puro entretenimento! Resolvi então compartilhar a letra com vocês e instigar, os que não conhecem, a buscar tal jóia e curtir esse som - "My Tropical woman is you Nega, I love you!!!"
NEGA (PHOTOGRAPH BLUES)
Gilberto Gil
1971
Nega
You spent so blissfully
The last few days with me
Nega
I spent so nicely too
The last few days with you
When I met you, it was so fine
I didn't talk a lot to you
I only mentioned your smooth hair
You made a speech about shampoo
We took many, many, many photographs
Downtown
As we passed through
Nega
You spent so blissfully
The last few days with me
Nega
I spent so nicely too
The last few days with you
You've been going just where I've gone
All my people you have seen
I've been doing just what you've done
Now I can dig your cup of mu tea
We let our moments become, become
What they really had to be
Nega
You spent so blissfully
The last few days with me
Nega
I spent so nicely too
The last few days with you
Develop our photographs
As simple dreams that will come true
Perhaps they will make you laugh
Or make you sure about we two
Develop, baby, our photographs
Perhaps they will make you sure
Perhaps they will show you nothing
Nothing, but a shade of blue
14 maio 2007
Dia da Mães
Queria muito ter conseguido escrever no domingo, o tempo, como sempre, não permitiu, mas não tarde, quero e devo relatar um pouco da emoção de ter passado meu primeiro dia das mães.
Às vezes temo ser repetitiva em minhas abordagens, mas como deixar de lado a condição de mãe? Condição essa que, nos chama para esse lugar 24h por dia, desde o instante em que acordamos, até durante nossos sonhos mais profundo, por isso, acredito que o tema maternidade seja tão recorrente nos textos desse blog.
Meu último texto retratava a felicidade de ver minha pequena se adaptando a uma nova realidade que lhe foi imposta por força das circunstâncias, depois disso tanta coisa aconteceu... a tristeza, a angústia, o choro, a dúvida, tudo por não saber se as escolhas são as mais acertadas, ou talvez por ter certeza de que essas escolhas jamais serão as mais acertadas... Tivemos um período muito difícil, talvez o primeiro de nossas vidas, minha e da Valentina, como mãe e filha, como conflito, como decisão, como culpa, como mágoa sentida. Mesmo assim, necessito acreditar que as coisas estão melhores e que esse é o caminho que devemos trilhar.
Mas ainda bem que depois de tudo isso, vem então uma outra emoção, assim tão forte, e tão mais tenra, que é a chegada do meu primeiro dia das mães... algo tão bobo, mas muito significativo... nada comercial, um sentimento mesmo, besta, mas um sentimento bom de expectativa, de chegada, de ansiedade.
Começando a se descortinar há algumas semanas atrás, quando a escolinha inicia uma série de "teasers", como contagem regressiva para este dia, enviando pequenos pensamos, frases, a cerca da mítica materna, se assim a posso chamar. Aí veio o pedido de uma contribuição em dinheiro, em nome do papai, claro!, para a compra da tal "lembrancinha". Depois o pedido de confirmação para a festinha das mamães, quando deveríamos levar um prato de doce e algo para beber, enfim... todo um preparo!
Juro que em outros tempos, encararia tudo isso como "piegas" mas, sem pudores, devo admitir que é bem legal! A festinha da escola foi na semana anterior ao dia 13/05, e foi lá que pagamos nosso primeiro mico, eu e o papai Daniel... imagine que era uma festa só de mães, mas nós dois, em nossa empolgação pueril, nem nos atinamos a este fato e fomos os 3, felizes! Só quase na hora de ir embora, percebi que o Daniel era o único pai da festa... ahahah! Ato falho total! Com certeza precisávamos, ambos, ver para crer e partilhar... Que divertido, a idéia era que as crianças fizessem bijouterias para as mães, mas no meu caso, fiz eu mesma para mim mesma.
A semana passou rapidamente e o dia 13/05/07 amanheceu um dia lindo de céu azul, azul, sol brilhando, típico dia de outono. A Valentina já estava na cama com a gente pois já tinha acordado para mamar e ficou lá.
Foi tão legal acordar como mãe no dia das mães! Parecia que eu tinha sido promovida, condecorada, sei lá! Muitos beijinhos do papai, carinhos e afagos do bebê, sorrisos de frasesinhas doces... e eu ali esperando o momento mais legal... o do cartão...
Fui tomar banho e quando terminei, voltei para o quarto e lá estava... um pacotinho em cima da cama, com um cartão, desenhado pelo papai, em cima de tudo. Olhei do lado e lá estava ele, o papai com a filhinha no colo, olhando para mim com cara de "abre, abre, abre!". Peguei o cartão e em seguida os olhos marejaram... uma singela frase e um desenho lindo dos 2 me olhando como se estivessem batendo palmas para mim... foi lindo! Dentro, para meu espanto, uma mensagem redigida pela Valen... alguns códigos indecifráveis, parte de uma mensagem secreta dela para mim...
Presente? Ah! Tinha também... mas não era o que mais importava, mas gostei muito dele e de todo o trâmite que envoleu sua aquisição, depois relatada pelo papai empolgado.
Para completar, almoço em família na casa da vó Mathilde, como sua maravilhosa lasanha e vasta opção de doces...
Quem bom, nossos últimos 2 dias das mães tinham sido muito tristes por conta de problemas de saúde das 2 matriarcas: minha avó em 2005 e minha mãe em 2006...
Que bom que este ano foi diferente! Que bom que eu também faço parte do quadro materno-familiar, que bom que temos a Valentina.
Às vezes temo ser repetitiva em minhas abordagens, mas como deixar de lado a condição de mãe? Condição essa que, nos chama para esse lugar 24h por dia, desde o instante em que acordamos, até durante nossos sonhos mais profundo, por isso, acredito que o tema maternidade seja tão recorrente nos textos desse blog.
Meu último texto retratava a felicidade de ver minha pequena se adaptando a uma nova realidade que lhe foi imposta por força das circunstâncias, depois disso tanta coisa aconteceu... a tristeza, a angústia, o choro, a dúvida, tudo por não saber se as escolhas são as mais acertadas, ou talvez por ter certeza de que essas escolhas jamais serão as mais acertadas... Tivemos um período muito difícil, talvez o primeiro de nossas vidas, minha e da Valentina, como mãe e filha, como conflito, como decisão, como culpa, como mágoa sentida. Mesmo assim, necessito acreditar que as coisas estão melhores e que esse é o caminho que devemos trilhar.
Mas ainda bem que depois de tudo isso, vem então uma outra emoção, assim tão forte, e tão mais tenra, que é a chegada do meu primeiro dia das mães... algo tão bobo, mas muito significativo... nada comercial, um sentimento mesmo, besta, mas um sentimento bom de expectativa, de chegada, de ansiedade.
Começando a se descortinar há algumas semanas atrás, quando a escolinha inicia uma série de "teasers", como contagem regressiva para este dia, enviando pequenos pensamos, frases, a cerca da mítica materna, se assim a posso chamar. Aí veio o pedido de uma contribuição em dinheiro, em nome do papai, claro!, para a compra da tal "lembrancinha". Depois o pedido de confirmação para a festinha das mamães, quando deveríamos levar um prato de doce e algo para beber, enfim... todo um preparo!
Juro que em outros tempos, encararia tudo isso como "piegas" mas, sem pudores, devo admitir que é bem legal! A festinha da escola foi na semana anterior ao dia 13/05, e foi lá que pagamos nosso primeiro mico, eu e o papai Daniel... imagine que era uma festa só de mães, mas nós dois, em nossa empolgação pueril, nem nos atinamos a este fato e fomos os 3, felizes! Só quase na hora de ir embora, percebi que o Daniel era o único pai da festa... ahahah! Ato falho total! Com certeza precisávamos, ambos, ver para crer e partilhar... Que divertido, a idéia era que as crianças fizessem bijouterias para as mães, mas no meu caso, fiz eu mesma para mim mesma.
A semana passou rapidamente e o dia 13/05/07 amanheceu um dia lindo de céu azul, azul, sol brilhando, típico dia de outono. A Valentina já estava na cama com a gente pois já tinha acordado para mamar e ficou lá.
Foi tão legal acordar como mãe no dia das mães! Parecia que eu tinha sido promovida, condecorada, sei lá! Muitos beijinhos do papai, carinhos e afagos do bebê, sorrisos de frasesinhas doces... e eu ali esperando o momento mais legal... o do cartão...
Fui tomar banho e quando terminei, voltei para o quarto e lá estava... um pacotinho em cima da cama, com um cartão, desenhado pelo papai, em cima de tudo. Olhei do lado e lá estava ele, o papai com a filhinha no colo, olhando para mim com cara de "abre, abre, abre!". Peguei o cartão e em seguida os olhos marejaram... uma singela frase e um desenho lindo dos 2 me olhando como se estivessem batendo palmas para mim... foi lindo! Dentro, para meu espanto, uma mensagem redigida pela Valen... alguns códigos indecifráveis, parte de uma mensagem secreta dela para mim...
Presente? Ah! Tinha também... mas não era o que mais importava, mas gostei muito dele e de todo o trâmite que envoleu sua aquisição, depois relatada pelo papai empolgado.
Para completar, almoço em família na casa da vó Mathilde, como sua maravilhosa lasanha e vasta opção de doces...
Quem bom, nossos últimos 2 dias das mães tinham sido muito tristes por conta de problemas de saúde das 2 matriarcas: minha avó em 2005 e minha mãe em 2006...
Que bom que este ano foi diferente! Que bom que eu também faço parte do quadro materno-familiar, que bom que temos a Valentina.
17 abril 2007
Sobre Mãe e Filha
Hoje eu escrevo para você, minha filha, Valentina, com 9 meses e 27 dias, que está sapeca, serelepe, risonha como sempre, simpática, vivaz, “falante”, linda!
Ontem e hoje você foi pela primeira vez na escolinha, ou melhor, no berçário, fizemos essa opção pois a mamãe vai começar a trabalhar, depois de ter conseguido ficar um tempão se dedicando quase que exclusivamente à você.
Esse período que passamos juntinhas foi maravilhoso, não posso em nenhum momento me arrepender de tê-lo passado assim tão próxima de você, tendo acompanhado cada pequeno novo movimento que você fazia, ou aprendia, cada sonzinho emitido, cada gestozinho singelo. Ter partecipado da sua vidinha, assim tão intensamente, me fez te conhecer um tantão assim de enorme!
Como foi lindo ver o primeiro sorriso, a primeira palminha, a primeira engatinhada, a primeira sentada, a primeira levantada… e tantas outras estripulias lindas.
Realmente nada disso tem preço, fica sempre a certeza de que cada centavo que deixei de ganhar não trabalhando, desde que a barriga começou a crescer com você lá dentro, até hoje, valeu mais que um milhão, só por ter podido te acompanhar… foi e é muito bom estar com você, cuidar de você.
Mas agora, a mamãe, como ser pensante, mulher e cheia de siricuticos, precisa de mais tempo para voltar a trabalhar, não porque se encheu de você, mas porque gosta de fazer muitas coisas, inclusive cuidar de você. Nos últimos tempos tenho precisado pensar em mais coisas e tenho tido vontade de sair para fazer outras coisas legais, para ter muito mais para te ensinar e para te contar, sempre!
Geralmente a gente trabalha para ganhar dinheiro, e “com certeza” eu vou ganhar dinheiro no trabalho, mas isso não é o que mais conta, afinal nem vou ganhar tanto dinheiro assim… mas preciso trabalhar por uma necessidade maior do que a de ganhar dinheiro e um dia você vai entender o que significa isso.
De qualquer forma, também acho que eu e você precisamos saber como é o mundo lá fora, longe um pouquinho uma da outra afinal, naturalmente, não passaremos a vida toda juntinhas assim, então é bom para as duas acostumar com o mundo lá fora…
Mas sei que você vai tirar de letra tudo isso, a escolinha é bem legal, cheia de criancinhas e bebês como você, e todos podem aprender um com o outro, brincar e ter outro tipo de contato. Hoje fiquei muito orgulhosa de você e de sua independência, talvez ainda seja cedo para tirar essas conclusões, mas mesmo assim, arrisco dizer que sempre achei que você não sentiria traumaticamente essa nossa “primeira distância”, acho que sempre te mandei uma “VIBE” positiva de curtir o mundo e as pessoas que vivem nele… e isso começa com você interagindo como bebê, indo nos colinhos, sorrindo para as pessoas, querendo se comunicar, para num futuro, evoluir para as relações de amizade e o desbravamento do mundo em si.
Que bom, filha, que você é assim tão feliz, e tão atenta e vibrante ao que acontece à sua volta, você só tem a ganhar sendo assim, mantendo esse seu olhão aberto sobre as coisas e percebendo cada movimento…
Se eu tivesse que te descrever agora eu diria que você é assim, um bebê muito feliz por ser amada, por ser livre e natural, espalhafatosa, gritona, com pernas velozes, mãos super ágeis e com dois olhos enooormes na vida desde o primeiro instante que nasceu… assim minha Linda Flôr de Junho.
Com muito amor:
Mamãe Pri-Pri
13 abril 2007
Desenvolvimento com Liberdade
Nos útlimos tempos tenho me dedicado à descoberta de coisas novas, principalmente aquelas que podem me proporcionar prazer e algum tipo de nova oportunidade profissional. Não sei se vou conseguir, mas tenho tentado alçar voôs para os campos do desenvolvimento social sustentável, que também pode ser chamado de “terceiro setor”, nome que não me agrada pois não se explica. Nessa busca, antiga de afinidade mas recente de fato, conheci algumas pessoas que atuam na area há tempos, outras que querem atuar como eu, outras ainda que a estudam, que auxiliam esse setor, enfim, de tudo. Nesse meio encontra-se desde os mais deslumbrados até os mais cabeçudos, que estudam atuando e que portanto tem conhecimento de causa e paixão.
Não acho que atuar em desenvolvimento social seja o filão da vez, mas sim a necessidade da vez. Pessoalmente, acredito nas obrigações do Estado e luto pelo fortalecimento e cumprimento de seus deveres como educação, cultura, saúde, segurança, bem estar, etc, mas também acho que não podemos simplesmente ficar esperando, acho sim que podemos fazer nossa parte de alguma forma, ainda que seja mínima, mas que represente a diferença, a ruptura, a mudança de atitude perante o mundo e como ele se nos apresenta.
Isso vai desde a coleta seletiva de lixo, boicote a marcas, consumo consciente, respeito ao meio ambiente, até mudanças de hábitos alimentares, qualidade de vida, renúncia ao “trabalho escravo remunerado” em favor do prazer, ajudar o próximo, enfim… um mar de coisas.
Sei também que neste meio de “boa vontade”, tem muita gente picareta, muita entidade que não faz nada, muita gente que enriquece, então é importante estar atento aos verdadeiros bons exemplos, aqueles que são despretenciosos e não pregam a verdade absoluta do “bem contra o mal”, pois o problema não é exatamente essa dicotomia.
O que me inspira a escrever hoje é alguém que nem mesmo conheço, mas passei a admirar, e que nos últimos tempos foi recorrentemente citada por pessoas diferentes, durante essa minha busca por fazer algo que pessoalmente me faça mais sentido.
Falo de um economista, indiano, chamado Amartya Sen. Arrisco dizer que no último mês, ouvi falar mais do Sr. Amartya Sen do que do próprio Bush… o que pode ter alguns significados, mas o melhor deles é que acredito estar frequentando as pessoas e os lugares certos, dentro do meu ponto de vista, claro.
Este importante professor, ganhou o prêmio Nobel de economia em 1998, por sua contribuição aplicando à economia uma visão social, e por incluir a ética no debate sobre problemas econômicos.
Trata-se de uma pessoa com uma mente especial, se dedica a estudar, entre muitas outras coisas, a questão das liberdades x oportunidades na formação do indivíduo como cidadão e a explicar que a “pobreza” está diretamente ligada à isso, a não conseguir ser livre o suficiente para conseguir atingir seus objetivos pessoais para se desenvolver, levando em conta o meio e as condições nas quais este indivíduo vive.
Daí a tamanha importância do desenvolvimento social dos Estados, a fim de que as condições macro sejam favoráveis ao ser humano para sua realização enquanto cidadão. Portanto, se economicamente o indivíduo é privado de buscar o seu desenvolvimento, através da educação, cultura, saúde, trabalho, teremos a probreza … nada além daquilo que vemos todos os dias quando saímos de nossas casas no Brasil.
É importante refletir a respeito do que propõe o “Sr. Sen”, associando diversos fatores que nos são tão familiares, já que vivemos em um país em desenvolvimento. Não por acaso ele se pôs a pensar sobre toda essa “encrenca”, a Índia também sofre as mazelas sociais da desigualdade, da fome, das privações, nada mais natural do que o olhar vir de casa.
O que me espanta é que em um mundo onde o progresso material caminha de forma galopante, o mesmo não acontece com a sociedade, que regride violentamente, com indivíduos cada vez mais privados de suas liberdades básicas. Já os poucos indivíduos que detém o poder de o dinheiro, se voltam cada vez mais para seus interesses particulares, sem pensar de forma mais abrangente, sem perceber que o mundo, da forma como está não se sustenta – precisamos do famoso desenvolvimento sustentável, transformar o vício em virtude em todo esse círculo.
O Sr. Sen propõe que se houver ética e moral, se o homem agir guiado por seus valores, talvez haja a possibilidade de mudança no paradigma atual tanto no cenário econômico quanto no social. Talvez seja possível começar a dividir o bolo para que sobre alguma coisa para quem nunca teve nem uma migalha… talvez assim a gente consiga vislumbrar o desenvolvimento dos países pobres formando neles cidadãos com dignidade e liberdade de escolha.
Bom pensar que mesmo a miséria, gera mentes brilhantes no exercício de saná-la. Acabei de falar da minha recente descoberta, o Sr. Amartya Sen, mas também temos um outro bom exemplo, vindo da própria Índia e igualmente um Nobel, porém da Paz, em 2006, atribuído a Muhammad Yunus e ao Banco Grameen, pelos esforços em assistência ao desenvolvimento, através de um modelo de microcrédito que possibilitou a milhões de pessoas, em sua maioria mulheres, de sair da pobreza. Melhorar as condições de vida também significa promover a paz.
No momento me sinto como se estivesse em Porto Alegre, nos Fóruns Sociais Mundiais que tive a oportunidade de participar, tendo contato com todo esse discurso, que muitos podem achar utópico, mas que sem dúvida gera a reflexão. É bom estar em volta de gente que pensa, que reflete, que lê e que faz alguma coisa para além do próprio umbigo. Gente inteligente, que acrescenta, que discute, que propõe.
Convido os leitores à reflexão, a buscar novos argumentos, a pensar que “Um Mundo Melhor é Possível”, nenhuma mudança vem de uma hora para outra, primeiro é preciso o caos para então se chegar à solução ou à alternativa, portanto o processo é realmente lento e não podemos deixar de acreditar e de fazer a nossa parte.
Livros de Amartya Sen em português:
Sobre Ética e Economia
CIA DAS LETRAS
Desenvolvimento Como Liberdade
CIA DAS LETRAS
Desigualdade Reexaminada
Ed. Record
E muitos outros em inglês.
05 abril 2007
A internacionalização do genocídio
Abaixo um artigo de que recebi e que faço questão de socializar no blog. Imperdível!
A internacionalização do genocídio
FIDEL CASTRO
no "GRANMA"
Acaba de ser encerrada a reunião de Camp David. Todos ouvimos com interesse a entrevista coletiva concedida pelos presidente dos Estados Unidos e do Brasil, bem como acompanhamos as notícias e opiniões sobre a reunião.
Diante das demandas de seu visitante brasileiros quanto às tarifas alfandegárias e subsídios que apóiam e protegem a produção norte-americana de etanol, Bush não fez a menor concessão, em Camp David.
O presidente Lula atribuiu a esse fator a alta de preços do milho, cereal que segundo ele teve aumento de mais de 85%.
Antes disso, o jornal "Washington Post" publicou um artigo do líder brasileiro no qual ele expunha a idéia de converter alimentos em combustível.
Não é minha intenção lastimar pelo Brasil, ou me imiscuir em assuntos relacionados à política interna daquele grande país. Foi exatamente no Rio de Janeiro, sede da conferência mundial do meio ambiente realizada há 15 anos, que denunciei com veemência, em discurso de sete minutos, os perigos ambientais que ameaçavam a sobrevivência de nossa espécie.
Naquela reunião, esteve presente George Bush pai, então presidente dos Estados Unidos, e ele demonstrou cortesia ao aplaudir minhas palavras, como todos os demais presidentes.
Nenhum dos presentes ao encontro de Camp David respondeu à pergunta fundamental: de que origem serão obtidas as 500 milhões de toneladas de milho e outros cereais que os Estados Unidos, a Europa e outros países ricos precisariam para produzir a quantidade de etanol que as grandes empresas norte-americanas e de outros países exigem como contraparte de seus dispendiosos investimento? Quem vai produzir a soja, a semente de girassol e a colza, cujos óleos serão convertidos por esses mesmos países ricos em combustíveis?
Diversos países produzem e exportam seus excedentes de alimentos. O equilíbrio entre exportadores e consumidores já é tenso, o que gera disparada nos preços de alguns produtos. Em benefício da brevidade, não me resta alternativa a não ser me limitar a destacar o seguinte:
Os cinco principais produtores do milho, cevada, sorgo, centeio e aveia que Bush deseja converter em matéria-prima de produção do etanol entregam anualmente 679 milhões de toneladas desses produtos ao mercado mundial, de acordo com os dados mais recentes. Por sua vez, os cinco principais consumidores desses grãos, alguns dos quais também grandes produtores, necessitam no momento de 604 milhões de toneladas desses produtos ao ano. O excedente disponível se reduz a menos de 80 milhões de toneladas.
Esse colossal desvio de cereais para a produção de combustível, sem incluir as sementes oleaginosas, serviria para fornecer aos países ricos do mundo menos de 15% do que consomem anualmente os seus vorazes automóveis.
Bush declarou em Camp David sua intenção de aplicar esta fórmula em nível mundial, o que significa nada menos que a internacionalização do genocídio.
O presidente do Brasil, em mensagem oficial publicada pelo "Washington Post" antes do encontro de Camp David, afirmou que menos de 1% da terra cultivável brasileira está em uso para a produção de cana-de-açúcar e etanol. A área em questão é quase três vezes superior ao território empregado por Cuba para a produção de quase 10 milhões de toneladas de cana-de-açúcar ao ano, antes da crise da União Soviética e das alterações climáticas.
Nosso país tem longa experiência na produção e exportação de açúcar, primeiro como base de trabalho para os escravos, que chegaram a atingir o número de mais de 300 mil nos primeiros anos do século 19 e fizeram da então colônia espanhola o maior exportador do mundo. Quase 100 anos mais tarde, no começo do século 20, na república então recentemente criada cuja independência plena frustrou a intervenção norte-americana, apenas imigrantes antilhanos e cubanos analfabetos arcavam com o fardo de cultivo e colheita da cana. A tragédia do nosso povo era o chamado tempo morto, causado pelo caráter cíclico dessa cultura.
As terras produtoras de cana-de-açúcar eram propriedades de empresas norte-americanas ou de grandes latifundiários cubanos. Por isso, acumulamos mais experiência que ninguém sobre os efeitos sociais dessa cultura.
No dia 1 de abril, a rede de TV CNN divulgou a opinião de especialistas brasileiros segundo os quais muitas das terras dedicadas ao cultivo da cana haviam sido adquiridas por norte-americanos e europeus ricos.
Em minhas reflexões publicadas em 29 de março, expliquei os efeitos das alterações climáticas sobre Cuba, aos quais devem ser acrescentadas outras características tradicionais de nosso clima.
Em nossa ilha, pobre e distante do consumismo, não haveria nem mesmo pessoal suficiente para suportar os rigores do cultivo ou manutenção dos canaviais em meio ao calor, às chuvas ou às secas cada vez mais freqüentes. Quando os ciclones nos atingem, nem mesmo as mais perfeitas máquinas são capazes de realizar a colheita dos talos de cana retorcidos, inclinados. Durante séculos, não eram usadas queimadas, e o solo não era compactado ao peso de complexas máquinas e enormes caminhões; os fertilizantes nitrogenados, fosfóricos e potássicos, hoje altamente dispendiosos, nem mesmo existiam, e os meses quentes e úmidos se alternavam regularmente. Na agricultura moderna, não existe possibilidade de rendimento elevado sem rotação regular de culturas.
A agência France Presse (AFP) veiculou no domingo informações preocupantes sobre as alterações climáticas, vistas pelos especialistas do grupo formado sob os auspícios da ONU como inevitáveis, e que responderão por graves conseqüências nas próximas décadas.
"As alterações climáticas afetarão o continente americano de maneira importante, ao gerar mais tormentas violentas e ondas da calor, as quais causarão secas na América Latina, com extinção de espécies, e também fome", de acordo com o relatório da ONU, cuja aprovação deve ser votada em Bruxelas na semana que vem.
"Ao final do século em curso, cada hemisfério sofrerá problemas de água e, se os governos não tomarem medidas urgentes, o aumento de temperatura pode elevar os ricos de mortalidade, contaminação, catástrofes naturais e enfermidades infecciosas, adverte o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC)".
"Na América Latina, o aquecimento está derretendo as geleiras dos Andes e ameaça a selva amazônica, cujas regiões periféricas podem se converter em savanas", de acordo com o artigo da AFP.
"Devido à elevada proporção dos habitantes que vivem na proximidade das costas, os Estados Unidos também estarão expostos a fenômenos naturais extremos, como demonstrou o furacão Katrina em 2005".
"Este é o segundo de uma série de três relatórios do IPCC, divulgado em fevereiro passado e contendo o primeiro diagnóstico científico que estabeleceu as alterações climáticas como certeza".
"Neste segundo estudo, de 1,4 mil páginas, no qual as alterações são analisadas por setor e região e do qual a AFP obteve uma cópia, a conclusão é de que, ainda que se tomem medidas radicais para reduzir as emissões de dióxido de carbono na atmosfera, o aumento de temperaturas em todo o planeta está confirmado", conclui o texto da agência francesa de notícias.
Como era de esperar, Dan Fisk, assessor de segurança nacional do governo norte-americano para assuntos da região, declarou no dia da reunião de Camp David que "na discussão dos assuntos regionais, Cuba seria um deles, e não exatamente para abordar o etanol sobre o qual o presidente convalescente Fidel Castro escreveu um artigo, mas sim para discutir a fome que se abate sobre o povo cubano".
Dada a necessidade de responder a esse cavalheiro, cabe-me o dever de lembrá-lo de que o índice de mortalidade infantil em Cuba é inferior ao dos Estados Unidos. Ele pode estar seguro de que não existe cidadão algum sem assistência médica gratuita. Todos estudam, e a ninguém falta oferta de emprego útil, apesar do meio século de bloqueio econômico e da intenção dos governos norte-americanos de forçar a rendição do povo cubano por meio da fome e da asfixia econômica.
A China jamais empregaria nem apenas uma tonelada de cereais para produzir etanol. Trata-se de um país de economia próspera, que bate recordes de crescimento e no qual cidadão nenhum deixa de receber a renda necessária para os bens essenciais de consumo, ainda que 48% de seu 1,3 bilhão de habitantes trabalhem na agricultura. Pelo contrário: há uma proposta para promover economia de energia por meio do fechamento de milhares de fábricas que consomem volumes inaceitáveis de eletricidade e combustíveis. Muitos dos alimentos mencionados são importados pelos chineses das regiões mais distantes do mundo, transportados por milhares de quilômetros.
Dezenas e dezenas de países não produzem combustíveis fósseis e não têm condições de produzir milho e outros grãos ou sementes oleaginosas, porque não dispõem nem mesmo da água necessária a atender suas necessidades mais fundamentais.
Em uma reunião convocada em Buenos Aires pela Câmara da Indústria do Azeite e pelo Centro de Exportadores, sobre a produção do etanol, o holandês Loek Boonekamp, diretor de mercados e comércio agrícola da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), declarou à imprensa que "os governos se entusiasmaram muito, mas deveriam estudar com frieza se é mesmo interessante apoiar de forma tão robusta o etanol".
"A produção de etanol só é viável nos Estados Unidos; em mais nenhum país, a não ser que sejam concedidos subsídios", ele afirmou. "Não se trata de um maná dos céus e não devemos nos comprometer cegamente".
Hoje, os países desenvolvidos defendem a idéia de misturar biocombustíveis e combustíveis fósseis à razão de 5%, e isso já pressiona os preços agrícolas. Se a proporção de mistura se elevasse a 10%, 30% da superfície arável dos Estados Unidos e 50% da superfície arável européias seriam necessárias. É por isso que pergunto se isso é sustentável. O aumento da demanda pelo cultivo de etanol produzirá preços mais altos e instáveis.
O protecionismo norte-americano hoje representa tarifa de US$ 0,14 por litro, e os subsídios reais atingem montantes muito mais altos.
Aplicando a simples aritmética que aprendemos na escola, pode-se comprovar que a simples substituição das lâmpadas incandescentes por modelos fluorescentes, como afirmei em meu artigo anterior, representaria redução de investimentos e de consumo de recursos energéticos equivalente a bilhões de dólares, sem usar um só hectare de terra agrícola.
Enquanto isso, notícias de Washington afirmam textualmente o seguinte, de acordo com a agência de notícias AP:
"O misterioso desaparecimento de milhões de abelhas nos Estados Unidos está deixando os apicultores do país inquietos, e começa a causar preocupação no Congresso, que debaterá esta semana a situação crítica de um inseto essencial para o setor agrícola".
"Os primeiros sinais sérios desse enigma surgiram pouco depois do Natal, no Estado da Flórida, quando alguns apicultores descobriram que suas abelhas haviam desaparecido".
"Desde então, a síndrome que os especialistas designaram como síndrome do colapso de colônias (CCD, na sigla em inglês), reduziu em 25% os enxames do país".
"Perdemos mais de meio milhão de colônias, cada qual com população média de 50 mil abelhas", disse Daniel Weaver, presidente da Federação Norte-Americana de Apicultores, segundo o qual o problema atinge 30 dos 50 Estados do país. O aspecto mais curioso do fenômeno é que, em muitos casos, não foram encontrados restos mortais.
"Os laboriosos insetos polinizam plantações avaliadas em entre US$ 12 bilhões e US$ 14 bilhões, de acordo com um estudo da Universidade Cornell".
"Os cientistas aventaram toda espécie de hipótese, entre elas a de que algum pesticida tenha provocado danos neurológicos nas abelhas e alterado seu senso de orientação. Outros atribuem a culpa à seca, ou às ondas emitidas por celulares, mas o certo é que ninguém conhece a explicação científica exata".
O pior pode estar por vir: uma nova guerra para garantir o abastecimento de gás e petróleo que colocará a espécie humana à beira do holocausto total.
Há órgãos de imprensa russos que, invocando fontes nos serviços de informações, informam que a guerra contra o Irã vem sendo preparada em todos os detalhes há mais de três anos, desde o dia em que os Estados Unidos decidiram ocupar totalmente o Iraque, desencadeando uma interminável e odiosa guerra civil.
Enquanto isso, o governo norte-americano destina centenas de bilhões ao desenvolvimento de armas de tecnologia altamente sofisticada, como as que empregam sistemas microeletrônicos, ou novas armas nucleares que poderiam atingir seus objetivos uma hora depois de recebida a ordem.
Os Estados Unidos ignoram olimpicamente o fato de que a opinião mundial se opõe a toda espécie de arma nuclear.
Demolir até a última fábrica iraniana é tarefa técnica relativamente fácil para um poderio como o norte-americano. O difícil pode vir mais tarde, se surgir uma nova guerra contra a fé islâmica, que merece todo o nosso respeito, como as demais religiões dos povos do Oriente Próximo ou distante, anteriores ou posteriores ao cristianismo.
A detenção de soldados ingleses em águas territoriais do Irã parece provocação semelhante à dos chamados "Irmãos de Resgate", os quais, desafiando ordens do presidente Clinton, invadiam nossas águas territoriais; a ação defensiva de Cuba, absolutamente legítima, serviu de pretexto ao governo norte-americano para promulgar a famosa lei Helms-Burton, que viola a soberania de outros países. O uso intenso de publicidade nas mídias causou o esquecimento quanto àquele episódio. Não são poucos os que atribuem o preço de US$ 70 por barril que o petróleo atingiu na segunda-feira ao medo de um ataque ao Irã.
De onde os países pobres do Terceiro Mundo extrairão os recursos mínimos para sobreviver?
Não exagero nem uso palavras insensatas, me atenho aos fatos.
Como vocês podem ver, são muitas as faces obscuras do poliedro.
TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI
03 abril 2007
Clandestino?
Como uma viagem de férias pode se transformar num pesadelo? Para os mais otimistas, essa indagação pode parecer coisa de gente neurótica, mas não… essa é a realidade à qual estamos sujeitos ao inventar uma simples viagem de férias para o exterior.
Como esclarecimento aos ingênuos e leigos, quando digo “exterior”, me refiro aos ditos “países de primeiro mundo”.
Nós, pobres mortais sul-americanos, estamos mesmo condenados ao confinamento em nosso território. Se torna cada vez mais complicado querer sair da América Latina rumo aos tais “países de primeiro mundo” por inúmeros motivos: alto custo, falta de oportunidades, caos nos aeroportos brasileiros, ameaças de ataques terroristas, preconceito e consequentemente, rigidez nas políticas migratórias .
Cada vez mais, somos submetidos a situações humilhantes e vexatórias ao aportarmos em outro “país de primeiro mundo”, falo de nós “latinos”, mas não podemos esquecer outros povos igualmente discriminados como muçulmanos, asiáticos, africanos, mulheres, hossexuais e por aí vamos longe. Alguns podem se perguntar o porquê disso e talvez possamos enumerar algumas razões que podem parecer justificáveis:
- Combate ao emprego ilegal?
- Combate ao tráfico de drogas?
- Combate ao terrorismo?
- Controle demográfico?
- Evitar a mão de obra escrava?
- Evitar problemas de desemprego?
- Evitar epidemias?
- Preconceito religioso?
- Evitar a exploração sexual de mulheres e menores?
Nada disso justifica a forma como TODOS os considerados “suspeitos”, são tratados quando chegam num desses países, sendo julgados por critérios pouco transparentes e muitas vezes, culminando com uma deportação inexplicável e banal, sem direito a recurso!
A mentaliade não evita os problemas e fica clara a atitude de colocar a sujeira em baixo do tapete do outro e fazer vistas grossas para a responsabilidade mundial de toda essa miséria que assola todas as nações, independente de índices econômicos.
Falo tudo isso pois, na semana passada, minha irmã passou por uma situação complicadíssima ao chegar em Madri, de férias, para visitar o namorado que estuda em Bilbao, no país Vasco. Foram mais de 6 meses juntando dinheiro suado de trabalho, para tirar merecidas férias depois de 5 anos de faculdade, vivendo a pindaíba de grana, aproveitando seus primeiros “níqueis” faturados no mercado de trabalho para passear e matar a saudade apertada do namorado. Tudo friamente calculado para dar certo: passagem aérea pesquisadíssima, quantidade de dinheiro, seguro saúde, mochila nova, contatos de amigos para hospedagem, expectativa, uma grande festa!
Saiu de S. Paulo na terça às 7h20, indo por Buenos Aires (a passagem da “Aerolineas” era mais barata), para chegar em Madri às 7h da quarta-feira. Tudo certo… Mas quando chegou lá, ela e TODOS os demais passageiros da aeronave(argentinos, brasileiros, peruanos, bolivianos, etc), foram barrados pela migração… TODOS!!! Ficaram presos na “salinha” sem poder se comunicar com ninguém ou sequer se alimentar, por mais de 7h! Após as tais 7h de espera inútil e de desespero de todos os que os esperavam lá e aqui, foram liberados sem nenhuma explicação. Detalhe: no caso da minha irmã, sua mala ainda foi extraviada aparecendo somente no dia seguinte…
Depois de tudo isso, temos ainda que proferir a infeliz frase: “- Ainda bem que ela não foi deportada…” . Ainda bem o quê??? Isso tudo foi uma falta de respeito, abuso, preconceito, tudo!
Será que algum leitor ainda vai tentar justificar alguma coisa?
A todo instante somos subjulgados pelos que possuem o poder, seja em nosso próprio país seja fora dele. Portamos a tarja de estrangeiros “non gratos” porque somos de uma região explorada por colonizadores estúpidos que nos deixaram como legado, nada mais do que a pobreza econômica e social perante o mundo. Para eles, nossas riquezas são todas exploráveis e mal aproveitadas e não vão além dos recursos naturais. Já nos sugaram pelo ouro, pela prata, pelo açúcar, pelo café, pela cocaína, nos sugam pela biodiversidade e talvez, num futuro próximo, nos matem pela água.
Nossa diversidade cultural é inexistente aos olhos desses infelizes estrangeiros em nossa terra. O samba, o carnaval, o futebol, o café e a cerveja talvez seja o máximo que eles consigam absorver… somos massacrados pela globalização predatória que nos empurra suas modas e cultura de massa, fazendo com que nossas crianças também não enxerguem seu próprio jardim.
Os franceses, os italianos, os espanhóis, os americanos e alemães, continuam vindo aqui para abrir pousadas em nosso litoral, as grandes redes mundiais de hotéis também chegam de forma galopante e pregam a ilusão do preço baixo, quando o serviço é de "quinta" e o acesso é destinado aos próprios, já que são eles mesmos que possuem a moeda forte. Com isso o setor, uma vez formado por grupos nacionais, famílias locais, são engolidos pelos gigantes porque não acompanharam as “tendências globais de mercado”.
Da mesma forma os Carrefours, Extras, Bigs, Sam’s, Wall Marts, etc, acabam com os mercadinhos tradicionais dos bairros, pois seus preços “são imbatíveis”, dão até de graça! A Telefônica chega sucateando nossa telefonia e se apodera de todos os demais serviços de telecomunicações e tecnologia com o discurso, cara-de-pau, de que não monopoliza nada… Sim, eles estão certos, “Pizarro” não comandou nenhum ato de genocídio na América Latina.
“There’s no free lunch at all, my friends!”
A história da América Latina, carrega essas e muitas outras marcas, a massa dificilmente se lembra disso até porque nem teve acesso a essas informações e provavelmente não saberia assimilar nada disso. Dura realidade…
Continuaremos pois, sendo barrados em aeroportos do primeiro mundo, tolhidos de nossa liberdade de ir e vir, de conhecer culturas diferentes, de ver a arte da diversidade, a arte dos grandes mestres, de migrar, de miscigenar?
E depois dessa triste constatação, manteremos nossa postura de “homem cordial”, definida por Sérgio Buarque de Holanda em “Raízes do Brasil”, continuaremos sendo hospitaleiros e generosos com os estrangeiros que aqui chegam, daremos presentes, levaremos para passear, estenderemos o tapete vermelho, afinal é essa ainda a única forma de sermos notados e reconhecidos.
27 março 2007
Misturadinhos
Nos últimos dez dias recebi duas notícias de gravidez de amigos, coincidentemente os dois moram fora do Brasil: o Luciano na Espanha e a Yara na Alemanha.
Ambos já tinham me dito que estavam na expectativa por um bebê, tal e coisa. Ambos vieram para o Brasil no início do ano passar as festas com as famílias, tive a oportunidade de encontrar com os dois. Conheceram a Valentina, ficaram encantados, olharam e brincaram com ela daquele jeito de quem está pronto para ter e cuidar da sua própria cria.
Mais coincidências? Ambos estão de 3 meses… indo para o quarto… iiiih… parece que esses dois bebês foram feitos no Brasil… no calor do Ano Novo!
Tem mais coisas em comum entre os dois, coisa linda aliás, os bebezinhos vindouros serão ambos “misturadinhos”… lindo, lindo, lindo! Explico:
O Luciano Issamu Yamashita, como “auto-explica” o sobre nome, é nissei, um típico “japa” paulistano, com traços meio havaianos, pele morena, porte saudável de quem cuida da mente e do corpo. Conheci o Lu em alguma balada rock n’roll, no final dos anos 80. Cara aventureiro, já viajou o mundo, Começando a vida nômade no Japão, acho que em Nagoya, trabalhando para fazer grana. Ao voltar, trouxe muito mais do que simples papel moeda, aprendeu o ofício do “sushi” e virou respeitado “sushi man”, pelo menos entre os amigos. Depois disso voltou a correr mundo, se dedicando à gastronomia japonesa e indo parar na Itália. Em Milão, conheceu a Cristina Sisti, uma italiana de Domodossola, cidade que fica na fronteira com a Suiça e a França. Eles juntaram a “pasta” com o “sushi” e foram morar em Barcelona, na Espanha, onde continuam até hoje.
Agora imaginem que coisa fantástica essa mistura entre os dois, ele nipo-brasileiro, ela italiana, os dois vivendo na Espanha e me respondam: o mundo tem fronteiras???
A concepção une três raças, culturas, hábitos diferentes, isso sem contar o fato de estarem vivendo na Espanha, o que seria a quarta raça e cultura. Que riqueza! E as feições? De quem será, como será? Não importa, será lindo, lindo!!! Talvez tenham um problema… sendo Brasil e Itália fanáticos por futebol, talvez haja briga na disputa de qual será a seleção do coração dessa criança em tempos de Copa do Mundo, mas nada grave.
A Yara Trovão - belo sobrenome – é filha de maranhenses, família grande, muitos irmãos, sobrinhos, cunhados(as). Mulata vistosa, de cabelos pretos longos enrolados, estatura média, corpo esbelto, mulher seríssima! Um dia resolveu largar tudo, que não era muito, e ir para Londres fazer qualquer coisa. Fez um pouco de tudo e foi lá em Londres que a conheci, no verão de 1997. Foi nesse mesmo verão que ela conheceu um tal alemão de nome Bernie, o cara se apaixonou por ela, “love at first sight”! Desde então estão juntos, namoraram bastante, moraram juntos bastante e se casaram há alguns anos. Ficaram em Londres, foram para Nice, na França, voltaram para Londres, ela virou uma destacada funcionária da Prada que, de vendedora, passou a assessora de imprensa, um salto profissional que para um estrangeiro significa muito. Agora ela não trabalha mais na Prada e foi morar numa cidadezinha perto de Munique, na Alemanha, onde está levando uma vida tranquila e saudável, cuidando da casa nova e se preparando para ser mãe. Segundo ela, o bebê foi de fato concebido no Brasil, bem no Ano Novo, na Bahia! Me disse ainda que essa “concepção baiana” tem especial significado para ela, que não é baiana, mas tem paixão pela Bahia, a cultura, o clima, a preguiça… Viram quantas voltas e tudo acabou culminando na Bahia de Todos os Santos… no mínimo simbólico. Mas como vai ser esse bebê… Loiro-moreno-alto de cabelos encaracolados? Teremos mais um problema … Brasil e Alemanha… para quem torcer? Duas culturas fanáticas por cerveja e futebol!!! Combinação bombástica…
Imaginando as andanças que trouxeram esses bebês "nipo-ítalo-espano-brasileiro" e "germano-baiano-brasileiro", a rota que esses incríveis pais fizeram para se encontrar e um dia conceber, poderíamos contabilizar muitos milhares de quilômetros mundo afora.
E ainda tem gente que acredita que o mundo tem fronteiras, que os limites devem ser rígidos, que se deve impedir a migração dos povos, a miscigenação das raças, o encontro de culturas, que as religiões não podem se “conversar”, que Deus é de um e não de todos…
O mundo está doente sim, a intolerância e o progresso ganancioso causam danos irreparáveis a cada fração de segundo, mas ainda assim acredito que o amor une os povos e pode construir, edificar, eternizar e juntar aqueles que derem, para a vida, uma chance.
Parabéns meus amigos Luciano e Cris, Yara e Bernie, por se misturarem assim, por se tolerarem e por presentear o nosso mundo com a vida!
20 março 2007
Livro 30 Anos da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Como disse diversas vezes, sou apaixonada por cinema, costumo acompanhar a programação do circuito comercial e alternativo da cidade, exceto pela atual situação de MÃE, que me impossibilita a frequência possível em outros tempos.
Sendo assim “cinéfila”, sou também uma fiel seguidora e apreciadora da Mostra de Cinema de São Paulo, desde muito tempo. Tive a oportunidade de conhecer pessoalmente seu idealizador e sempre resposável, Leon Cakoff, e sua esposa, a simpática Renata Almeida. Quando trabalhava no canal Eurochannel, fomos apoiadores da Mostra por uns 3 anos, o tempo em que trabalhei no marketing do canal e que pude desenvolver meus melhores e mais prazeirosos trabalhos.
Em 2006, ano em que a Mostra completou o seu trigésimo aniversário, foi produzido um livro comemorativo, escrito pelo Leon, obviamente. O livro se chama “Cinema sem Fim” e trata-se, sem dúvida, de um documento histórico da Mostra e da cidade de São Paulo, algo para se ter em casa, ler, relembrar e consultar. Além disso, o livro em si é uma bela peça, bonito, sóbrio, de cores pertinentes ao tema, recheado de belas e interessantes fotografias memoráveis.
Por fortuna, meu marido me presenteou com este livro no último Natal, fiquei muito feliz pois realmente queria tê-lo em casa junto com os demais catálogos que coleciono. Como o recebi como presente, não saberia dizer o preço, nem cometi a indelicadeza de perguntar, mas tenho certeza que pelo porte, não deve ter custado pouco.
Comecei a ler no início de fevereiro e logo no começo me aborreci devido a alguns excessos, informações repetitivas, ainda que interessantes, mas tudo bem, era somente o início. Passam-se 2 ou 3 capítulos e reparo em outro “ruído” (prefiro usar este termo…), que também tolhe a graça da leitura, a repetição de termos. Continuo sendo condescendente, achando que estou sendo chata com a leitura, mas outro “ruído” que considero ainda mais grave, começa a me incomodar de verdade… os erros ortográficos…
Depois disso já passo a lamentar pelo livro, sem entretanto, deixar de considerar a preciosidade de informações nele contidas, mas me irritando ferozmente a cada erro crasso que encontro.
Não fica por aí, como disse trata-se de uma bela impressão feita pela Imprensa Oficial, um projeto gráfico bem elaborado, mas de realização sofrível… Esse mesmo livro em poucos dias de manuseio começa se desmantelar… a cada capítulo lido, percebo que sua “ brochura” se descola do tomo continuamente, seguindo assim até o último capítulo/brochura, culminando num livro solto em sua capa… A cada erro que encontrava, a cada fato interessante que lia, a cada brochura que descolava ou filme que conhecia, sentia uma mistura de satisfação com decepção!
Fiquei triste… um livro tão significativo e tão mal executado… Erros de coesão, erros ortográficos, falta de revisão e ainda desmantelamento?
Uma pena!
Acabei de lê-lo ontem à noite, aprendi muita coisa, relembrei outras tantas, me diverti muito com os “causos” curiosos da vida cinematográfica da Mostra e do Leon Cakoff, sua “luta” e “resistência” peitando as mazelas políticas e financeiras que sempre assolaram o nosso país, sua idgnação com relação à “censura” que por muito tempo perseguiu a Mostra (as palavras entre aspas se repetem exaustivamente durante todo o livro!).
Morri de inveja dos que puderam ver “Cães de Aluguel”, em 1992, apresentado pelo próprio Tarantino e dos “gatos-pingados”, que tiveram a lucidez de prestigiar uma mesa redonda com o mesmo Tarantino, falando sobre cinema independente…
Me emocionei quando li a respeito de uma entrevista com o mestre Truffaut, nos corredores de um hotel em Cannes, em 1973… eu ainda estava por nascer!
Achei engraçadíssimo Leon e Renata em uma reunião com o então desconhecido, Wong Kar Wai, exibirem, com ingenuidade, seus DVDs piratas recém adquiridos na ruas de Hong Kong…
O cinema é mágico… e a Mostra é a época do ano que a cidade se torna ainda mais viva e interessante… as pessoas circulando, correndo para tentar ver mais um filme.
Admiro a forma como ele e Renata trabalharam e trabalham a formação de público em nosso país, adquirindo o respeito de todos, a credibilidade internacional e o prestígio merecido pelo lindo esforço que realizam. Mas cuidado, o livro merecia ter sido tratado com maior carinho…
Título: Cinema Sem Fim
Autor: Leon Cakoff
Editora: Imprensa Oficial SP
Ano: 2006
Número de páginas: 456
Acabamento: Brochura
Formato: Médio
www.mostra.org
19 março 2007
Crônica do Punk da Periferia
Fui levada ao tema através do interessante texto de um amigo que escreve sobre rock x literatura em um site de música. O texto dessa semana era sobre o Movimento Punk no Brasil - muito legal por sinal (veja link) - o que me levou a viajar nas memórias de um tempo muito divertido…
Não me considero tão velha assim, mas quando me peguei rememorando o final dos anos 80, quando eu tinha lá meus 12, 13, 14 anos… putz… fiquei bem pensativa. Tipo… “20 anos atrás? Caramba!!!”
O Movimento Punk… sim ele mesmo! Eu nasci junto com o Movimento Punk, mas quando pude “entendê-lo”, ou melhor, curtí-lo, ele já estava passando. Mas as memórias me levaram de fato, aos idos de 1987, quando eu tinha 14 anos. Nessa época eu estava na oitava série no antigo ginásio, hoje conhecido como “ensino fundamental”, de uma escola municipal, o “Monteiro Lobato”, aqui de Pirituba onde moro. Estudei lá desde a primeira série, fiz amigos/colegas que conservo até hoje, foi um período muito legal da minha vida e nesse específico ano de 87, a gente estava para “se formar”. Aí tinha toda aquela coisa de pensar em como comemorar, baile, colação, viagem, comissão de formatura, arrecadar grana, fazer “rifa”, etc, afinal nossas famílias eram todas “durangas”. Mas éramos muito criativos e uma das formas que encontramos para levantar a tal grana foi fazer “bailes pró-formatura”, coisa muito engraçada… Funcionava de forma simples: alguém cedia a “garagem” da casa, aí tinha a tal Comissão formada por pais e alunos, os tais marcavam uma data para o baile, vendíamos entradas antecipadas com um preço “x” e no dia proposto iam todos lá montar a parafernalha do “baile”. Tinha comes e bebes (pagos), iluminação, som, segurança formada pelos pais (imaginem isso!), caixa, tesoureiro, seleção de rock e de “lentas” – que coisa mais brega! – tudo isso! Era nesses “bailes” que tudo acontecia, ou não… fulana “ficava” com sicrano, que era namorado da beltrana, que dava em cima do outro… nossa! Muita fofoca para a segunda-feira, lógico!
Aliás, lembrei que meu primeiro porre foi num desses “bailes”, em 1986, tomando “Cuba”… meu deus! Porre de Cuba… parece até coisa dos “anos dourados”!
Mas voltando ao ano de 87 e ao Movimento Punk. Os “bailinhos” eram coisa suuper família, imaginem que todos se conheciam e que o âmbito de venda de entradas era sempre a escola, no máximo ia um primo, um amigo da rua de diferente, mas era só a galera da escola mesmo. Acontece que os bailes começaram a ganhar certa fama naquele ano… vários motivos: meninas “jeitosinhas”, ótimo boca-a-boca, vendiam bebida (cerveja, cuba) e boa música… mas boa mesmo! Quem “dava” o som eram uns amigos meus, o Carlão, o Emerson, o Serginho, o Edu, algumas vezes eu ajudava na “consultoria”, mas o som era de primeira! Muito rock n’roll, pouca “lenta” (o suficiente para garantir a entrada das “gostosinhas beijoqueiras”) e volume alto! Naquela época, a gente curtia e rolava nos “bailes” Ramones, Dead Kennedys, Toy Dolls, The Clash, Beastie Boys, Pistols, 365 (nossos colegas de bairro), Plebe Rude, Garotos Podres, Legião, Titãs (Cabeça Dinossauro!), IRA! (Pobre São Paulo…), Replicantes,... Tinham também os hits como RPM, Ultraje a Rigor, Engenheiros do Hawai (URGH!), etc. A nova música eletrônica, na época: Pet Shop Boys, Front 242, Depeche Mode (I just can get enough), New Order. Coisas mais “darks” como Cure, Joy Division, Bolshoi, Mission, Jesus… Os clássicos: Stones, Beatles, Pink Floyd, Led, … muita coisa legal e chata também. A questão é que a seleção punk ficou famosa e a galera delirava quando começava a tocar “Nellie The Elephant”, “CALIFORNIA ÜBER ALLES” , ou “Should I Stay or Should I Go”, ou “Sheena is a Punk Rocker”, e tocava tudo, todos os hits do punk eram obrigatórios e exigidos!
Não sei se vocês sabem, mas a Tradição Punk Paulistana, vem da periferia, da Freguesia do Ó (como cantou nosso ilustre ministro Gil), de Pirituba, de Guarulhos, do ABC - os Punks de Sto. André! - nesses lugares a cena punk era bem forte, o pessoal andava mesmo a caráter, de coturno, jaqueta de couro, jeans rasgado, cabelo moicano e alguns já usavam até piercing! Não foi à toa que meu ídolo, o Angeli, criou seu grande “Bob Cuspe”, personagem que na época abafava nas páginas da falecida revista, ditadora do “mau” comportamento adolescente, “Chiclete com Banana”, que a gente se estapeava para ler emprestada dos amigos… O “Bob” era um típico punk da periferia, paulistanão, que contestava e cuspia em tudo… ele era a imagem caricata dos punks que rondavam a zona onde moro. Pocha… eu até sabia desenhar o “Bob”… que saudade…
Pois bem, devido à fama da seleção punk de nossos bailinhos, um temor começou a rondar a organização: a invasão do Punks…
Num determinado dia, marcaram o tal baile na casa do Emerson Paes, uma casa grande, numa avenida bem localizada do bairro. Começamos a vender as entradas e eis que surge o tal boato de que os Punks do “Pavilhão 8” – uma gangue da Vila Zatt – iria invadir nossa praia… Na verdade, eu fiquei excitadíssima, achei o máximo! Os Punks!!! Uau!!! Que prestígio!
As mães e as professoras ficaram aterrorizadas, mas tudo não passava de um boato e ninguém podia prever nada ao certo. O dia do baile chegou, a montagem foi tranquila, e a expectativa grande com a chegada da noite. Como sempre começamos às 19h30, seleção light para aquecer, “lentas” para agradar os beijoqueiros(as) e então rock começa a rolar solto para incendiar. Aquele dia o baile foi um sucesso de público, a casa do Emerson era grande e deu para vender mais entradas, lotou!!! Foi até uma gang de skatistas – Os Ratos de Rua - que alucinou quando tocou “Girls” e “No Sleep Till Brooklyn”, dos Beastie Boys, eles começaram a dançar com os skates e a subir pelas paredes de azulejo da garagem do Emerson, muito louco! De repente… chegam os punks lá fora e começam a pressão para entrar. Lembro que rolou um puta medo, todo mundo cagou nas calças, o pai do Emerson foi lá negociar a “não entrada” deles, mas não teve jeito, eles tinham grana para pagar e mais, tinham coturnos e eram dezenas deles!!!
Os caras chegaram bem na hora, era a hora de rolar a seleção punk-rock… entraram e já colaram no Carlão, que estava no som e intimaram:
“- Toca Dead Kennedys, aí!”
Nem lembro o que rolou, só sei que nem deixaram acabar o que estava rolando naquela hora e já soltaram um “CALIFORNIA ÜBER ALLES” na veia. Depois foi só pauleira, tudo e mais um pouco, não dava nem para chegar perto da “pista de dança”, ou melhor, da garagem, ela estava tomada pelos punks da Vila Zatt. Tinha gente se borrando de medo de rolar uma briga, as mães da Comissão estavam rezando, um monte de gente foi embora, mas a verdade é que os caras queriam curtir um som, e a gente também, pôw!
Tudo bem que não deu para dançar com eles lá, mas eu me diverti muito vendo a “pancadaria”, foi o máximo!
Imaginem como foi a semana seguinte à invasão dos Punks da Periferia, todo mundo contando um conto e aumentando 1000 pontos! Houve boatos de violência, roubo, etc… mas a verdade é que rolou punk-rock como nunca, naquele sábado à noite, na garagem da casa do Emerson Paes. Eles enobreceram a nossa festa e depois daquele dia, passaram a frenquentar nossos bailes, sempre meio que pressionando as picapes fazendo caras de poucos amigos, com o famoso “Rola Toy Dolls, aí!” , ou “Rola Ramones, aí!”, mas abrilhantando o ambiente.
Eu sou uma entusiasta desse Movimento, sempre curti as bandas, as músicas e letras agressivas, a atitude, e sua motivação. Fui impedida, por forças maiores, a ir ao show dos Toy Dolls, no glorioso Projeto SP, na Barra Funda, mas pelo menos passei na entrada e pude sentir o cheirinho de punk-rock que eles exalavam. Tive o privilégio de ter ido ao último show dos Ramones, no extinto Olympia, da Rua Clélia, na Lapa. No ano passado, fui assistir aos Stooges num festival aqui em São Paulo e entrei em êxtase quando o Iggy Pop entrou no palco e tocaram “I wanna be your Dog”, outro privilégio, ainda que tardio…
E para finalizar, 2 letras de punk nacional para recordar:
Festa Punk
Replicantes
Quero uma festa que não tenha STONES
Gosto muito deles, mas quero os RAMONES
Quero uma festa que não tenha BEATLES
Se é pra recordar prefiro SEX PISTOLS
Quero uma festa punk (X 4)
Quero uma festa em que eu possa dançar
Clash, Undertones e GBH
Discharge no banheiro, Exploited na cozinha
Conflict na escada e Vibrators no sofá
Quero uma festa com os KENNEDYS
Eles é que sabem o que é Hard-core
Depois pra esfriar, pra afastar os junkies
Poguear um monte ouvindo Circle Jerks
Papai Noel Velho Batuta
Garotos Podres
PAPAI NOEL filho da puta
Rejeita os miseráveis
Eu quero mata-lo
Aquele porco capitalista
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
PAPAI NOEL filho da puta
Rejeita os miseráveis
Eu quero mata-lo
Aquele porco capitalista
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
pobres
pobres
Mas nos vamos sequestrá – lo
E vamos mata-lo
Por que?
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Por que?
PAPAI NOEL filho da puta
Rejeita os miseráveis
Eu quero mata-lo
Aquele porco capitalista
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Presenteia os ricos
* Boas referências sobre o Movimento Punk
Link do artigo do meu amigo:
http://showlivre.uol.com.br/colunas.php?coluna_id=94
Filmes:
The Filth and the Fury (2000)
Julien Temple
Documentário. A verdade sobre os Sex Pistols.
Punk Attitude (2005)
Don Letts
Documentário sobre a história do punk nos EUA e UK, com depoimento de diversos artistas da época.
New York Doll (2005)
Greg Whiteley
Documentário sobre Arthur “Killer” Kane, baixista do New York Dolls.
Sid and Nancy (1986)
Alex Cox
Filme biográfico sobre Sid Vicius, da banda Sex Pistols.
Sites:
www.deadkennedys.com
www.thetoydolls.com
www.ramones.com
www.gritopunk.hpg.ig.com.br
14 março 2007
Hoje e dia da Poesia!!!
Alguns podem pensar que eu só conheço o Drummond... o que fazer se ele é o mestre dos mestres???
Prometo falar de outros também, mas hoje, no dia da poesia, resolvi deixar aqui um poema lindo, lindo, do Drummond, que citei alguns dias atrás.
Para Sempre (Drummond)
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Assinar:
Postagens (Atom)