13 abril 2007

Desenvolvimento com Liberdade


Nos útlimos tempos tenho me dedicado à descoberta de coisas novas, principalmente aquelas que podem me proporcionar prazer e algum tipo de nova oportunidade profissional. Não sei se vou conseguir, mas tenho tentado alçar voôs para os campos do desenvolvimento social sustentável, que também pode ser chamado de “terceiro setor”, nome que não me agrada pois não se explica. Nessa busca, antiga de afinidade mas recente de fato, conheci algumas pessoas que atuam na area há tempos, outras que querem atuar como eu, outras ainda que a estudam, que auxiliam esse setor, enfim, de tudo. Nesse meio encontra-se desde os mais deslumbrados até os mais cabeçudos, que estudam atuando e que portanto tem conhecimento de causa e paixão.

Não acho que atuar em desenvolvimento social seja o filão da vez, mas sim a necessidade da vez. Pessoalmente, acredito nas obrigações do Estado e luto pelo fortalecimento e cumprimento de seus deveres como educação, cultura, saúde, segurança, bem estar, etc, mas também acho que não podemos simplesmente ficar esperando, acho sim que podemos fazer nossa parte de alguma forma, ainda que seja mínima, mas que represente a diferença, a ruptura, a mudança de atitude perante o mundo e como ele se nos apresenta.
Isso vai desde a coleta seletiva de lixo, boicote a marcas, consumo consciente, respeito ao meio ambiente, até mudanças de hábitos alimentares, qualidade de vida, renúncia ao “trabalho escravo remunerado” em favor do prazer, ajudar o próximo, enfim… um mar de coisas.

Sei também que neste meio de “boa vontade”, tem muita gente picareta, muita entidade que não faz nada, muita gente que enriquece, então é importante estar atento aos verdadeiros bons exemplos, aqueles que são despretenciosos e não pregam a verdade absoluta do “bem contra o mal”, pois o problema não é exatamente essa dicotomia.

O que me inspira a escrever hoje é alguém que nem mesmo conheço, mas passei a admirar, e que nos últimos tempos foi recorrentemente citada por pessoas diferentes, durante essa minha busca por fazer algo que pessoalmente me faça mais sentido.
Falo de um economista, indiano, chamado Amartya Sen. Arrisco dizer que no último mês, ouvi falar mais do Sr. Amartya Sen do que do próprio Bush… o que pode ter alguns significados, mas o melhor deles é que acredito estar frequentando as pessoas e os lugares certos, dentro do meu ponto de vista, claro.

Este importante professor, ganhou o prêmio Nobel de economia em 1998, por sua contribuição aplicando à economia uma visão social, e por incluir a ética no debate sobre problemas econômicos.

Trata-se de uma pessoa com uma mente especial, se dedica a estudar, entre muitas outras coisas, a questão das liberdades x oportunidades na formação do indivíduo como cidadão e a explicar que a “pobreza” está diretamente ligada à isso, a não conseguir ser livre o suficiente para conseguir atingir seus objetivos pessoais para se desenvolver, levando em conta o meio e as condições nas quais este indivíduo vive.

Daí a tamanha importância do desenvolvimento social dos Estados, a fim de que as condições macro sejam favoráveis ao ser humano para sua realização enquanto cidadão. Portanto, se economicamente o indivíduo é privado de buscar o seu desenvolvimento, através da educação, cultura, saúde, trabalho, teremos a probreza … nada além daquilo que vemos todos os dias quando saímos de nossas casas no Brasil.

É importante refletir a respeito do que propõe o “Sr. Sen”, associando diversos fatores que nos são tão familiares, já que vivemos em um país em desenvolvimento. Não por acaso ele se pôs a pensar sobre toda essa “encrenca”, a Índia também sofre as mazelas sociais da desigualdade, da fome, das privações, nada mais natural do que o olhar vir de casa.

O que me espanta é que em um mundo onde o progresso material caminha de forma galopante, o mesmo não acontece com a sociedade, que regride violentamente, com indivíduos cada vez mais privados de suas liberdades básicas. Já os poucos indivíduos que detém o poder de o dinheiro, se voltam cada vez mais para seus interesses particulares, sem pensar de forma mais abrangente, sem perceber que o mundo, da forma como está não se sustenta – precisamos do famoso desenvolvimento sustentável, transformar o vício em virtude em todo esse círculo.
O Sr. Sen propõe que se houver ética e moral, se o homem agir guiado por seus valores, talvez haja a possibilidade de mudança no paradigma atual tanto no cenário econômico quanto no social. Talvez seja possível começar a dividir o bolo para que sobre alguma coisa para quem nunca teve nem uma migalha… talvez assim a gente consiga vislumbrar o desenvolvimento dos países pobres formando neles cidadãos com dignidade e liberdade de escolha.

Bom pensar que mesmo a miséria, gera mentes brilhantes no exercício de saná-la. Acabei de falar da minha recente descoberta, o Sr. Amartya Sen, mas também temos um outro bom exemplo, vindo da própria Índia e igualmente um Nobel, porém da Paz, em 2006, atribuído a Muhammad Yunus e ao Banco Grameen, pelos esforços em assistência ao desenvolvimento, através de um modelo de microcrédito que possibilitou a milhões de pessoas, em sua maioria mulheres, de sair da pobreza. Melhorar as condições de vida também significa promover a paz.

No momento me sinto como se estivesse em Porto Alegre, nos Fóruns Sociais Mundiais que tive a oportunidade de participar, tendo contato com todo esse discurso, que muitos podem achar utópico, mas que sem dúvida gera a reflexão. É bom estar em volta de gente que pensa, que reflete, que lê e que faz alguma coisa para além do próprio umbigo. Gente inteligente, que acrescenta, que discute, que propõe.

Convido os leitores à reflexão, a buscar novos argumentos, a pensar que “Um Mundo Melhor é Possível”, nenhuma mudança vem de uma hora para outra, primeiro é preciso o caos para então se chegar à solução ou à alternativa, portanto o processo é realmente lento e não podemos deixar de acreditar e de fazer a nossa parte.


Livros de Amartya Sen em português:

Sobre Ética e Economia
CIA DAS LETRAS

Desenvolvimento Como Liberdade
CIA DAS LETRAS

Desigualdade Reexaminada
Ed. Record

E muitos outros em inglês.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amartya Sen é muito bom!!! A liberdade é o maior e o menor direito humano!!!!