20 maio 2007

Sábado no Amorim Lima



Ontem, dia 19/05, logo pela manhã, tínhamos um importante compromisso: comparecer ao evento de entrega do prêmio "Salva de Prata", da câmara dos vereadores de São Paulo, para a EMEF Amorim Lima. O "Amorim", como é conhecido, é a escola onde eu colaboro com o projeto de cinema, já há 3 anos. A título de esclarecimento, esse prêmio é dado a trabalhos notáveis, reconhecidos por mérito nos mais diversos âmbitos, e este ano quem teve esse "reconhecimento", por parte da câmara de SP, foi o Amorim, por seu esplêndido trabalho pedagógico-cultural-inclusivo.

Ir até o Amorim participar de seus eventos é no mínimo uma injeção de ânimo, impossível sair de lá sem que suas energias e esperanças no amanhã tenham sido renovadas e como é de costume, me emocionei...

A escola tem um projeto pedagógico diferenciado, adotando o slogan da "escola sem paredes", onde as crianças trabalham sempre em grupos, dispostas em salões enormes e não seguem a proposição taylorista, nem o ultrapassado regime de "engolir" aulas. Alí, a participação do aluno é a alma do negócio e o professor exerce o papel de guia para os estudos, além de estimulador da pesquisa na geração do saber, mas sempre com o olhar multidisciplinar.

Os alunos não estudam por matéria e sim por roteiros temáticos, que englobam todas as disciplinas do currículo escolar, abordadas de forma interligada e o material didático é sim o mesmo usado nas demais escolas da rede municipal de ensino.

Além disso, a cultura popular é parte fundamental da grade da escola, desde muito antes da prefeitura instituir as oficinas de arte nas escolas do munícipio, o Amorim já tinha seus oficineiros voluntários, trabalhando no incremento do currículo escolar, através da cultura popular brasileira e das artes em geral, com um olhar rebuscado sobre o papel da cultura no ensino, como agente inclusivo e estimulante dos gostos, talentos e saberes. Foi nessa brecha que me encaixei e me engajei na escola, levando uma oficina de cinema para os adolescentes, assim como outros colegas que, como eu, levavam um pouco do seu melhor com música popular, brincadeiras, capoeira, teatro, dança, leitura, etc.

Mas a escola não vive somente do que existe lá dentro, vive muito a sua comunidade que é atuante e decisiva. Alí, as reuniões de conselho tem quorum garantido por professores, educadores, colaboradores, pais e alunos, engajados num mesmo proprósito e objetivo - buscar e ter uma educação de qualidade, acima de qualquer possível dificuldade.

A escola é feita de muitas pessoas, muitos corações e muitas mentes, e com certeza não basta a força de uma só para que algo de diferente aconteça, é necessário um trabalho coletivo forte e coerente. Entretanto, no caso do Amorim, tenho absoluta certeza que se a Ana Elisa, sua diretora, não fosse quem é, nem como é, a escola não seria assim. Ela é uma pessoa extremamente guerreira, visionária, disposta, uma apaixonada pela educação, é sem dúvida a mentora da escola, muito mais que uma diretora. Trabalha como o regente de uma orquestra, que está de olho em tudo e em todos, colocando as pessoas no mesmo tom, na mesma sintonia e ditando o ritmo. Ela detecta os diferentes talentos para trabalhá-los de forma isolada e tirando assim o máximo do melhor de cada um, de forma a nos fazer sentir pessoas melhores. Somos todos iguais, mas todos diferentes e cada um especial em seu papel, é assim que ela estimula alunos, professores, educadores, colaboradores, arte-educadores, funcionários, TODOS! A Ana é uma pessoa por quem tenho grande admiração e respeito.

Por tudo isso o Amorim nos recarrega, ali as festas são festas mesmo e como disse a Vereadora Soninha, que estava lá ontem na cerimônia, as festas juninas são juninas, as festas da cultura são da cultura, festa de natal é de natal e absolutamente tudo dentro da idéia de um cultura genuinamente BRASILEIRA, recebendo portanto o seu devido valor.

Foi lindo ontem, ver a moçadinha da capoeira se apresentar, dançando, sambando, tocando e cantando. Foi maravilhoso ver meninos e meninas, numa roda de brincadeiras, também se apresentando, cantando e brincando o Brasil, foi apoteótico o encerramento da solenidade, com um grupo de Maracatu, cujos integrantes percussionistas eram somente meninas de 10 a 14 anos, de arrepiar! Onde mais vemos isso???

O Amorim é hoje um exemplo de escola pública, com gestão autônoma, coletiva e participativa, algo a ser seguido, a ser espelhado, a ser incorporado. Um exemplo de educação pública cujos princípios de valorização humana tando do professor, aluno, educador e todos os demais, é trabalhada com equidade.
O Amorim é um lugar onde as diversidades são respeitadas e destacadas. Uma grande prova disso, foi a composição da mesa da solenidade, que era formada pelo atual Sec. da Educação (PSDB) e pela ex-secretária (PT) da gestão Marta, onde o discurso do atual secretário era exatamente o de exaltar o trabalho da escola e o incentivo recebido pela gestão do PT, ressaltando que "...num projeto de escola como esse não há política que possa interferir..." - é isso, o resultado deve ser soberano sempre!

Denovo, repito uma frase que tenho usado muito, referindo-me a fatos, coisas, pessoas, lugares que fazem a diferença e que nos enchem de esperança: Um Mundo melhor é possível!

Me sinto importante e privilegiada por, de alguma forma, fazer parte de tudo isso e por estar contribuindo para esse mundo melhor que nossos filhos vão poder desfrutar, ainda que não em sua plenitude, mas que mesmo em sua parcela, seja melhor.

Ainda eufórica com a recarga recebida ontem no Amorim, tenho esperança que o homem retome para si, algumas virtudes essenciais para a melhoria se seu espírito e consequente melhoria da humanidade - a gentileza e a dádiva - que no meu ver foram e são importantíssimas no processo de construção do Amorim: sem gentileza não existe a doação, e sem doação não há o que receber...

Quem quiser conhecer o site da escola está novinho em folha e o meu trabalho também está no site:
http://www.amorimlima.com.br

5 comentários:

Fabiola disse...

muito legal isso

Anônimo disse...

outra coisa bacana do Amorim é como ex-alunos e pais de ex-alunos continuam indo lá, prestigiando os eventos e ajudando na condução da escola.

Altair Barboza disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Pri,

Parabéns a todas as pessoas que trabalham no Amorim e que, obviamente, partilham da mesma garra, força e espírito humano para mudar, transformar e/ou substituir aquilo que precisa ser revisto, mudado, discutido, reavaliado, melhorado.

"O pulso ainda pulsa"!

Um super beijo,

Alta.

Juscelina disse...

Apaixonei pela escola da ponte no ano de 2007.Que bom saber que temos em São Paulo pessoas interessadas e preocupadas com as nossas crianças. Quero e vou fazer parte desta nova aprendizagem de ensino.
Parabéns a todos.